Menos de duas semanas depois de o Nasdaq Composite, principal índice de ações da bolsa de tecnologia, ter subido 1% acima do recorde registrado no auge da bolha da internet em 2000, as oscilações do dólar e a especulação em torno da taxa de juros nos Estados Unidos têm deixado investidores e operadores em Wall Street apreensivos, gerando alta volatilidade no mercado de capitais. Um sintoma disso é que a volatilidade do índice Nasdaq 100 subiu quase 20% na semana passada, o maior aumento do ano em base contínua, com forte queda nos papéis principalmente da Netflix e da Intel.
As ações dos fabricantes de PCs e de software caíram quase tanto quanto as das companhias de energia no índice Standard & Poor's 500, já que a apreciação do dólar tem levado a preocupação de que ganhos estimados são muito altos. A Apple, Microsoft e Google, que respondem pelos maiores coeficientes de ponderação das ações do índice Nasdaq 100, obtiveram metade ou mais de suas receitas nos mercados fora dos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg.
O recuo do Nasdaq 100 chegou em meio a uma grande onda de vendas de empresas no mercado, que consumiu cerca de US$ 600 bilhões dos preços das ações nos EUA desde o dia 2 março. Os custos do hedge — proteção contra oscilações inesperadas nos preços das ações —, gerados pela volatilidade, subiram 29%, refletindo numa queda do S&P 500 de 3,6%, segundo o Chicago Board Options Exchange Volatility Index.
O dólar saltou para um pico de 12 anos atrás em relação ao euro e atingiu o maior valor em sete anos e meio em relação ao iene, na quarta-feira, 11. O euro caiu por oito meses seguidos quando o Federal Reserve lançou seu programa de flexibilização quantitativa e sinalizou um aumento da taxa de juros.
A subida do dólar afeta as empresas de tecnologia de forma desproporcional, uma vez que reduz o valor das receitas em moeda estrangeira quando é repatriado para os EUA. Os fabricantes de software, por exemplo, preveem um crescimento médio do lucro de 4,7% neste primeiro trimestre, índice muito abaixo dos 11% projetados no início deste ano, de acordo com as previsões de analistas, compiladas pela Bloomberg.
A indústria de tecnologia é a mais representativa do S&P 500, com uma ponderação de 20%, o que representa 19,3% do lucro operacional do índice no ano passado, segundo dados da S&P Dow Jones Indices show.
A ansiedade do investor vem aumentando há meses. Eles arrancaram nada menos que US$ 6,8 bilhões do maior fundo negociado no Nasdaq 100 entre dezembro e janeiro. "Na medida em que as empresas não veem vantagem em vender o que produzem nos EUA para o exterior, isso causa preocupação e eles [os investidores] podem 'bater mais forte' do que em outras áreas do mercado", disse Bruce McCain, principal estrategista da unidade de private banking do KeyCorp, que administra mais de US$ 25 bilhões em investimentos, à agência de notícias.
O Nasdaq Composite teve queda de 2,3% neste mês, o que ameaça seu nono ganho trimestral consecutivo. Não fosse isso, seria um recorde de ganhos seguidos para o índice, que já subiu 2,4% neste ano.