O mantra "o compromisso contínuo e a perseverança que realmente levam à excelência, mais do que qualquer dom inato ou habilidade natural", atribuído ao autor e palestrante Tony Robbins, cai como uma luva para analisar a atual situação do mercado de trabalho e as perspectivas de futuro dele com o desenvolvimento e a interferência cada vez maior de tecnologias como a Inteligência Artificial (IA) e o Machine Learning (ML).
Os dizeres destacam importantes ressalvas sobre a fotografia do momento, mostrando o potencial dos jovens em busca de suas primeiras experiências profissionais. Não há dúvidas sobre a capacidade e as habilidades de uma geração que já nasceu conectada, virtual e com facilidade de acesso ao que deseja, com apenas alguns cliques ou deslizes de dedos.
Aprofundando ainda mais no contexto acadêmico brasileiro, nossas mentes mais preparadas costumam ganhar notoriedade pela habilidade reconhecida de propor caminhos improváveis e incrivelmente disruptivos. Isso se deve, muitas vezes, ao fato de enfrentarem mais barreiras a serem superadas ou contarem com menos orçamento disponível para trilhar o caminho necessário ao sucesso.
De volta ao começo da análise, por mais promissor e brilhante que seja, o talento carece de longas horas de lapidação. E, evidente, da escolha correta das ferramentas usadas nesse processo. Seja no universo do entretenimento, do esporte ou do mundo corporativo, o casamento perfeito entre projeto e insumo costuma entregar inovação, bons resultados e vantagens competitivas. Da mesma forma que um desajuste qualquer costuma resultar em crítica, reclamação e necessidade de retorno ao ponto de partida.
Especificamente falando do mercado de trabalho brasileiro, mais que identificar talentos precocemente é importante estimulá-los a querer-fazer, instrui-los sobre onde buscar e como fazer. E disponibilizar as ferramentas e as condições necessárias para repetir, desenvolver e encantar. Esses ajustes precisam ganhar escala suficiente para ampliar a quantidade de candidatos e o nível de especialização deles. Além de domínios técnicos, a atual configuração de mercado anseia por habilidades analíticas, atuação em grupo, ampla visão e conhecimento de mundo e até criatividade para "pensar fora da caixa".
Enquanto a matriz curricular e as opções de formação tecnológica adicionais continuam sendo muito lentamente estruturadas para funcionar em todo o país, as empresas tentam viabilizar alternativas mais rápidas de capacitação e treinamento para quem é periodicamente selecionado para fazer parte de seus times. Tudo para diminuir o tempo de adaptação e as etapas até entenderem o que fazer e como entregar os resultados planejados.
Outra opção oportuna com ainda maior poder de impacto sobre o público final envolve o uso de soluções cada vez mais automatizadas e funcionais no ciclo de produção. Evidente que os dispositivos potencializam atributos de IA e ML para ampliar o nível de precisão conforme captam maior volume de dados de uso, propensões de consumo e preferências pagamento. Essa sofisticação tende, num médio e longo prazo, a criar condições de maior especificidade e autonomia e um sistema igualmente apto em ser cirúrgico e assertivo quando precisa ou se provocado a recomendações.
Mesmo demandando um volume inferior de profissionais, os sistemas acabam selecionando aqueles que ostentam expertises adicionais específicas. Quanto melhores forem, maior a qualidade de entrega e a resposta extraída do sistema a partir dos comandos implementados. Portanto, a combinação de IA e ML não "rouba" vagas dos técnicos preparados para lidar com eles nem dos que conseguem mediar a demanda do alvo da ação e aquilo que o dispositivo entrega.
Essa exigência de qualificação, conhecimento técnico e domínios complementares aumenta ainda mais se levarmos em conta o uso da IA e do ML para fins indevidos. Mais que deturpação de voz em golpes financeiros, essa tecnologia costuma potencializar ataques cibernéticos. Investidas que usam IA como ferramenta para ataques cibernéticos, comandada por hackers "altamente capacitados", dificultam a ação preventiva de defesa no combate e sucesso na mitigação e completa anulação deste tipo de atividade hacktivista.
E mais uma vez: é relevante garimpar talentos, mas acima de tudo, direcioná-los para pensar em uma camada acima para fazer os ajustes oportunos para neutralizar a ameaça, ou na melhor das situações conseguir estar alguns passos à frente dela. E desenvolver na mente dos colaboradores a convicção de que essa busca e esse aprimoramento precisam ser frequentes.
Geraldo Guazzelli, diretor geral para o Brasil da NETSCOUT.