A segurança cibernética nunca esteve tão em evidência. Com o aumento de ataques direcionados, o déficit de profissionais especializados em cibersegurança e a crescente complexidade dos ambientes digitais, empresas de todos os setores enfrentam desafios para proteger suas aplicações e dados sensíveis. De acordo com o Gartner, 70% dos CEOs e 65% dos conselheiros de administração já participam ativamente de discussões sobre segurança digital.
Diante desse cenário, um ciclo de desenvolvimento seguro e resiliente não se resume apenas à adoção de novas tecnologias. Ele exige uma mudança de cultura e a reestruturação de processos para garantir que a segurança seja incorporada desde a concepção das aplicações até sua execução.
Além disso, assim como habitualmente investimos em seguros para bens valiosos, a segurança digital precisa ser compreendida enquanto um investimento que protege dados extremamente sensíveis e valiosos. Companhias que incorporam essa mentalidade desde o início do desenvolvimento conseguem reduzir incidentes cibernéticos de forma significativa, garantindo que pessoas, processos e tecnologias estejam alinhados com as melhores práticas de conformidade e proteção.
A implementação de medidas de segurança não deve ser encarada como uma resposta reativa a ameaças, mas sim como uma estratégia contínua. Isso significa que, além de proteger os negócios hoje, as organizações precisam se antecipar e neutralizar riscos futuros.
Responsabilidade: o papel de cada profissional no compromisso com a cibersegurança
A segurança da informação é um compromisso coletivo dentro das empresas. Entretanto, na prática, essa atuação em conjunto pode ser um desafio. É isso o que demonstram os dados da Fortinet, empresa global de cibersegurança, já que 87% das violações de segurança ocorrem devido à falta de capacitação adequada dos profissionais. Para garantir que seja criado um ecossistema eficiente de segurança digital, é imprescindível treinar todos os envolvidos, desde os CEOs até os desenvolvedores, considerando a atuação diária de cada profissional.
Cada função desempenha um papel estratégico. Enquanto executivos precisam transformar a visão de segurança em políticas efetivas, desenvolvedores devem adotar boas práticas de programação defensiva para se manterem atualizados sobre as constantes vulnerabilidades
Já os gerentes de projeto e Scrum Masters integram a segurança aos processos ágeis, assegurando que riscos sejam mitigados sem comprometer prazos. Desenvolvedores aplicam práticas de programação defensiva, enquanto QA e DevOps automatizam testes e monitoram vulnerabilidades ao longo do ciclo de desenvolvimento. Por fim, os profissionais de infraestrutura garantem ambientes seguros, protegendo redes e servidores contra ameaças.
Tecnologia como aliada do desenvolvimento seguro
A automação é uma das principais aliadas na construção de aplicações resilientes. Ferramentas como Static Application Security Testing (SAST), Software Component Analysis (SCA) e Dynamic Application Security Testing (DAST) permitem detectar e corrigir vulnerabilidades em diferentes fases do ciclo de vida do software.
O uso de Inteligência Artificial também está revolucionando a segurança digital. Soluções que automatizam testes e corrigem vulnerabilidades em tempo real ajudam as empresas a se protegerem contra ameaças emergentes e a manterem seus sistemas atualizados.
Processo contínuo: do desenvolvimento à execução
Para garantir que a segurança seja mantida ao longo do ciclo de vida das aplicações, as empresas devem implementar processos claros, como por exemplo:
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Na fase de desenvolvimento: Modelagem de ameaças, plugins de segurança para IDEs e análises de código são fundamentais para identificar riscos logo no início.
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Na fase de release: Práticas de CI/CD integradas a ferramentas de segurança garantem que apenas código seguro seja implantado.
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Na fase de execução: Testes contínuos, como DAST e IAST (Interactive Application Security Testing), ajudam a monitorar possíveis falhas e a responder rapidamente a novos ataques.
Como proteger o código de forma eficiente?
Com a crescente complexidade do desenvolvimento de software, garantir que o código esteja seguro se tornou uma prioridade para empresas de todos os tamanhos. Nesse cenário, plugins de segurança integrados às plataformas de desenvolvimento ajudam os programadores a identificar e corrigir vulnerabilidades desde as fases iniciais do projeto. Essas ferramentas realizam varreduras no código e nas configurações, detectando falhas que poderiam ser exploradas por cibercriminosos, incluindo códigos que estruturam ambientes em nuvem, como o Terraform.
O uso de inteligência artificial tem se mostrado um grande aliado também nesse processo, automatizando a correção de vulnerabilidades. De acordo com o Gartner, essa tecnologia pode aumentar a produtividade dos desenvolvedores em até 60%. Além disso, a Fortinet aponta que é possível reduzir o tempo necessário para corrigir falhas em até 70%.
A importância da validação contínua
Durante o processo de desenvolvimento, a prática de Integração Contínua e Entrega Contínua (CI/CD) tem sido fundamental para garantir que o código esteja sempre validado e pronto para ser implantado. Essa abordagem automatiza as etapas de testes e integração, o que reduz erros e aumenta a segurança antes do lançamento do software.
Métodos de proteção no desenvolvimento
Existem diversas técnicas utilizadas para garantir que o código esteja seguro, cada uma focada em uma fase específica do ciclo de vida do desenvolvimento.
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SAST (Análise de Segurança de Aplicações Estáticas): Verifica o código-fonte sem executá-lo, identificando vulnerabilidades logo no início do desenvolvimento. Isso permite correções precoces, evitando custos extras e retrabalhos.
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SCA (Análise de Componentes de Software): Monitora bibliotecas, frameworks e dependências de software, garantindo que todos os componentes sejam seguros e estejam atualizados. Isso é fundamental para evitar que uma vulnerabilidade em um componente comprometa a segurança do sistema.
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DAST (Análise de Segurança de Aplicações Dinâmicas): Realiza testes no ambiente de pré-produção, simulando ataques reais para identificar falhas que não foram detectadas nas fases iniciais de desenvolvimento.
O desenvolvimento seguro não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente para empresas que desejam se manter competitivas e protegidas no ambiente digital. A integração de tecnologia, processos bem definidos e capacitação das equipes é o caminho para reduzir riscos, garantir conformidade e construir aplicações resilientes. Com um planejamento estratégico alinhado a essas diretrizes, é possível transformar a segurança em um diferencial competitivo.
Leonardo Horvath, head de cibersegurança da CI&T.