Uma combinação de fatores sociais, econômicos e culturais tem tornado a Síndrome de Burnout cada vez mais comum: ambientes de trabalho exigentes, conectividade constante, falta de controle e autonomia, expectativas irrealistas. Tudo isso leva a uma sensação persistente de exaustão emocional, que desencadeia uma série de sintomas físicos.
Vale a pena observar que, muitas vezes, as pessoas confundem estresse com a Síndrome de Burnout, devido às semelhanças em alguns dos sintomas e efeitos físicos e psicológicos que eles podem apresentar. No entanto, é importante entender que esses dois conceitos não são sinônimos e têm características distintas.
Enquanto o estresse é uma resposta natural do corpo a situações desafiadoras ou exigentes, com reação física e mental a determinados estímulos.
Já o Burnout é uma síndrome que se desenvolve gradualmente por causa de um estresse crônico e prolongado, especificamente no ambiente de trabalho. Ou seja, a Síndrome de Burnout está diretamente ligada a fatores organizacionais.
Então, em resumo, a Síndrome de Burnout acontece quando o estresse já passou dos limites no ambiente de trabalho.
Para se ter uma ideia do quanto o problema é comum, dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt) indicam que aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome. Já a OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta que cerca de 90% da população mundial sofre de estresse – sendo que o Brasil é o segundo país no mundo com o maior número de pessoas com o problema, de acordo com a Associação Internacional do Controle do Estresse (ISMS).
No meu ponto de vista, a principal questão a ser levantada é que, se não tratada, a Síndrome de Burnout pode levar a complicações de saúde física e mental, como problemas de sono, ansiedade, depressão e problemas de relacionamento. Trata-se de uma condição séria e que não deve ser subestimada. É preciso encarar a necessidade de mudar a postura organizacional diante de casos recorrentes da síndrome, uma vez que ela acarreta problemas tanto para o colaborador quanto para a empresa.
Isso porque, a depressão pode levar a uma diminuição significativa na produtividade no trabalho. A falta de motivação, dificuldade de concentração e baixa energia podem afetar a capacidade da pessoa de realizar suas tarefas de maneira eficiente e eficaz, sem falar que a fadiga, a falta de energia e os sentimentos de desesperança podem levar a ausências frequentes, atrasos ou a um aumento no número de licenças médicas.
Além disso, tanto na depressão quanto na ansiedade, as relações interpessoais são afetadas. O paciente pode sofrer alterações no humor, isolamento social e irritabilidade, o que pode prejudicar os relacionamentos no ambiente de trabalho. Há casos de pessoas que se distanciam dos colegas, têm dificuldade de se comunicar e também de enfrentar conflitos interpessoais.
As empresas precisam reconhecer que a produtividade diminuída devido ao Burnout não é culpa da pessoa afetada. É uma resposta natural e compreensível a um estado de esgotamento físico e emocional. Ignorar a Síndrome de Burnout e continuar a exigir altos níveis de produtividade pode agravar ainda mais a situação e levar a um declínio contínuo no desempenho e na saúde da pessoa.
Nesses casos, o ideal é oferecer apoio ao colaborador e buscar ajuda profissional para prevenir complicações, além de fornecer intervenções oportunas para promover a recuperação e o bem-estar.
Na minha atuação como Head de Psicologia na orienteme, uma plataforma de gestão de saúde corporativa, tivemos diversos exemplos de programas de qualidade de vida que fizeram a diferença nas empresas. O acolhimento individual de cada caso é o primeiro passo, que pode ser reforçado com palestras e rodas de conversa sobre o assunto.
Outro ponto é que, durante a recuperação do Burnout, é essencial que a pessoa afetada tome medidas para cuidar de si mesma, o que pode envolver estabelecer limites saudáveis no trabalho, praticar técnicas de gerenciamento de estresse, adotar estratégias de autocuidado e promover um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal. Ao fazer isso, o profissional pode gradualmente recuperar sua produtividade e desfrutar de um senso renovado de propósito e realização no trabalho.
Da parte das empresas, é fundamental repensar culturas organizacionais onde o trabalho é valorizado de forma excessiva, a ponto de se tornar o principal foco e uma prioridade absoluta na vida dos funcionários. Nesse tipo de ambiente corporativo, espera-se que os colaboradores dediquem uma quantidade excessiva de tempo e energia ao trabalho, muitas vezes ultrapassando os limites saudáveis de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Essas culturas podem ter consequências negativas em todas as esferas e representar um verdadeiro tiro no pé. No final das contas, o segredo para tudo valer a pena é estimular o equilíbrio.
Renata Tavolaro, Head de Psicologia da orienteme.