o consultor brasileiro Carlos Kirjner, que teve papel central na formulação do Plano Nacional de Banda Larga dos EUA, esteve presente no painel de abertura do último dia da ABTA 2010, realizada esta semana em São Paulo, para compartilhar sua experiência como "senior advisor" da FCC (Federal Communications Commision) no maior mercado do mundo.
Ao resumir em alguns minutos as 400 páginas, 17 capítulos e 200 recomendações do projeto, anunciado em março passado, ele preferiu destacar alguns pontos do plano que julga importantes e até "inspiradores" ao Plano Nacional de Banda Larga brasileiro.
Adoção
Segundo Kirjner, se a inclusão digital é um objetivo nacional, é fundamental que a indústria e o governo trabalhem de forma conjunta para levar a banda larga às camadas mais pobres. E o consultor acredita que a inclusão não é apenas uma prioridade de política pública porque também interessa à iniciativa privada. "Se a penetração da banda larga nas camadas mais ricas já é alta, a única forma de se manter um crescimento sustentado é levando o serviço para os mais pobres também, com renda inferior a um ou dois salários mínimos", explica. De acordo com ele, um contingente considerável, 20% da população brasileira, vive com menos de meio salário mínimo por mês. "Nos EUA, 30% do povo não está conectado. Estamos falando de 100 milhões de pessoas, que não estão na Internet, em sua maioria, por razões financeiras", acrescenta. O problema, diz, não é de cobertura necessariamente, pois há serviço disponível para 95% dos domicílios.
Isso ocorreu porque, diz Kirjner, antes de pensar em massificar a banda larga, foi preciso universalizar a telefonia fixa. Foi destinado US$ 1,2 bilhão por ano para subsidiar a telefonia para as pessoas que se encontram abaixo da linha da pobreza. O plano de massificação funcionou é 98% da população possui telefone em casa. "A banda larga entra aí como a 'sobremesa', pois 95% dessas residências podem agora ter acesso à Internet via xDSL", acrescenta.
Banda larga aberta
O outro ponto fundamental do plano norte-americano de banda larga citado por Kirjner é o que ele chama de "banda larga aberta". Trata-se de um link mínimo oferecido de forma gratuita pela operadora. "A tele, neste caso, financia o serviço por meio de publicidade. Parece inviável, mas determinados setores acreditam muito neste plano", diz.
Disponibilidade
O terceiro e último ponto destacado é a disponibilidade ou alcance da rede. "Convém perguntar como os EUA chegaram a 95% da população com pelo menos um provedor de banda larga no qual pode se conectar? Como 285 milhões de habitantes podem se conectar a serviços de 4 Mbps ou mais?", indaga o especialista, que em seguida responde a questão. "Os números são grandes pois o programa de universalização da telefonia funcionou", diz.
Segundo Kirjner, foi instituído nos EUA um fundo como o FUST brasileiro, de US$ 23 bilhões, subsídio integral para o serviço de banda larga, uma vez que as operadoras gastam US$ 32 bilhões entre custo inicial (US$ 15 bilhões) e operacional (US$ 17 bilhões), porém obtém receitas estimadas de US$ 8,9 bilhões. Kirjner aproveitou para comentar o PNBL brasileiro, cujo foco está bastante voltado ao backbone. "Nos EUA, apenas 5% dos custos são no backbone. A maioria dos custos é na rede de acesso e operação. Mesmo que no Brasil o backbone seja cinco vezes mais caro ainda representaria somente 25% do total do investimento", diz.
Não menos importantes
Kirjner também considera outros pontos importantes no plano americano, tais como ações que estimulem a competição entre as teles; a revisão e mudança dos direitos de passagem de cabos e de estações radiobase; transparência e ações de longo prazo; reforma de regras de atacado (backhaul) e de uso de microondas; competição entre fabricantes de set-top boxes; e desenvolvimento de aplicações para os usuários finais. "Não adianta ter fibra se não há um sistema de saúde pública ou de educação para as escolas", finalizou.
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