O mercado de telemática e gestão de frota deve movimentar US$ 1,75 bilhão na América Latina neste ano, segundo levantamento da Strategy Analitics. A região responde por cerca de 10% do mercado global, que é liderado região norte-americana, com receita anual de US$ 5,5 bilhões, segundo a empresa de análise e pesquisas.
No Brasil, a expectativa é que haja um forte aquecimento a partir do ano que vem, quando após cinco anos de adiamento, deve entrar em operação o Sistema Integrado de Monitoramento e Registro Automático de Veículos (Simrav). O sistema, de âmbito nacional, fará a prevenção, fiscalização e repressão ao furto e roubo de veículos e cargas no país, e sua instalação será obrigatória em toda a frota de veículos até 2014, segundo programa do governo federal. O Simrav integrará equipamentos de GPS, software e rastreamento, envolvendo desde fabricantes a empresas de telecomunicações e software.
A instalação do sistema nos veículos será de responsabilidade das montadoras, a qual, segundo o diretor da Kaitech Consultoria, Antonio Calmon, foi adiada por cinco anos devido à resistência da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). A entidade alega que a implantação do Simrav encarecerá os preços dos carros populares, que hoje representam uma fatia muito expressiva do mercado automobilístico. “Se a obrigatoriedade fosse aplicada aos carros de luxo, não teríamos todo esse impasse que acompanhamos nos últimos anos”, diz Calmon.
Dados sobre o setor automobilístico brasileiro dão uma ideia do peso que a obrigatoriedade de instalação do sistema terá nos custos das montadoras. A previsão de vendas de veículos na América do Sul é de 4,5 milhões de unidades até 2014, sendo que o Brasil responderá por 60% desse total, de acordo com a consultoria de inteligência de negócio Telematics Update. O país ultrapassou a Alemanha e já é o quarto maior mercado de carros no mundo.
Mercado de BI
Para Calmon, o governo federal agiu corretamente ao exigir a implantação em toda a frota, pois “não é justo que apenas as classes mais abastadas tenham acesso a um mecanismo de segurança e GPS”. Além disso, ele argumenta que o gasto público para a concessão de desonerações para adiar mais uma vez o Simrav foi altíssimo. “Algumas montadoras e toda a cadeia de software de business intelligence (BI), que irá utilizar os dados coletados com a monitoração dos veículos para oferta de serviços e obter novas fontes de receita, também investiram pesadamente nisso”, completa Calmon. Como exemplo, ele cita detecção de problemas e avisos de manutenção preventiva do veículo, sistemas de informação de trânsito em tempo real, leitores de notícias baseados em geolocalização, entre outros.
O executivo avalia que a obrigatoriedade de implantação do sistema passará a vigorar no início primeiro semestre do ano que vem e diz as montadoras que não cumprirem as metas serão penalizadas com multas mensais de cada veículo novo incompleto. A medida prevê que 20% dos carros, utilitários, ônibus e caminhões e 5% das motocicletas já saiam de fábrica com o sistema instalado no dia 31 de janeiro de 2013.
Preocupações com a segurança
Outras questões que também contribuíram para atrasar a aprovação do Simrav foram a do sigilo das informações coletadas, pois muitos alegavam que isso poderia colocar em risco a privacidade do consumidor, e a questão envolvendo segredos industriais. Em razão disso, o Ministério Público entrou com uma ação na Justiça e garantiu a inserção no texto da lei sobre a responsabilidade dos fornecedores de serviços, ou seja, as empresas de telecomunicações, de manter os dados armazenados de maneira anônima.
“A ativação da função de localização do equipamento antifurto é opcional, e a estrutura criada em torno dos dados, da análise à segurança, não foge do sistema hoje vigente no mercado de TI”, afirma Calmon. O Simrav foi concebido para operar apoiado nas redes das operadoras de telefonia móvel, porém utiliza identificação única de dispositivos definida pelo Denatran, com certificação digital para garantir a segurança das informações. “O sistema criado é seguro e não há mais desculpas para o governo não exigir sua vigência”, conclui.