As big techs, como Google e Facebook, devem pagar a imprensa tradicional pelo uso de seu conteúdo e o assunto deve ser regulamentado em cada país. A tese é da professora Anya Schiffrin, diretora de Tecnologia, Meios e Comunicação da Escola Internacional de Relações Públicas da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), no evento Mídias Digitais e Democracia, realizado no Senado nesta terça-feira (12). Uma das maiores referências globais no campo da regulamentação das gigantes tecnológicas, ela afirmou que o Brasil está adiantado no debate sobre a regulação das grandes mídias, citando o Marco Civil da Internet (Lei 12.965, de 2014) como exemplo.
Anya apontou que o alerta de crise de informações veio em 2016 com a eleição de Donald Trump e o plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit). Com a pandemia de covid-19, ela afirmou que a ameaça se tornou uma questão ainda mais presente e que a onda de desinformação não será facilmente afastada. Ela alertou para novos desafios relacionados à política em 2024, ano de eleição presidencial nos EUA.
"Com a inteligência artificial (IA) generativa e a microssegmentação seria possível imaginar, por exemplo, uma mensagem falsa altamente personalizada. Faria o Brexit parecer brincadeira", observou, referindo-se à desinformação disseminada na campanha britânica.
Anya relacionou o papel do jornalismo em garantir que o mundo on-line seja alimentado por informações confiáveis e de qualidade e como esse conteúdo é fundamental para o fortalecimento da democracia. Ela ressaltou que esse tipo de produto é caro para a sociedade e, portanto, precisa de investimento. Por isso, as big techs, que se beneficiam com a produção de conteúdo jornalístico, também precisam se envolver e contribuir financeiramente.
Nas próximas semanas, Anya anunciou que vai publicar um trabalho em que apresenta uma metodologia que oferece um cálculo que considera justo para remunerar o trabalho dos jornalistas. Para isso, a pesquisadora demonstra como as matérias jornalísticas são responsáveis pelo tráfego de dados e pelo engajamento de usuários das grandes plataformas. Ela citou um experimento em que testaram uma versão do Google sem notícias e como isso influenciou o uso da plataforma.
A diretora-geral da Casa, Ilana Trombka, ponderou que o debate sobre a regulação das mídias é urgente, mas cercado de diferentes interesses. Ela citou a invasão ao Senado em 8 de janeiro para exemplificar a influência das big techs em acontecimentos políticos.
"É preciso entender as redes sociais e as bolhas para esclarecer como as pessoas atuaram naquele 8 de janeiro. Aprender com o episódio e compreender como as pessoas podem estar tão desconectadas com a realidade", disse.
O cenário atual, em que ferramentas que utilizam o processamento de informações por meio da IA generativa, foi o alvo da fala da diretora da Secretaria de Comunicação Social do Senado, Érica Ceolin. Para ela, por usar o conteúdo já produzido pelas empresas de comunicação tradicionais ou mesmo por órgãos oficiais, pelo Senado, deve haver a possibilidade de um acordo com as gigantes de tecnologia.
"A IA generativa poderia ajudar na negociação com as big techs, já que o conteúdo com o qual elas trabalham é, em grande parte, retirado do material produzido pelos jornalistas?", questionou, ao que Anya destacou que mais do que coletar informação, é preciso mostrar de onde ela vem. As informações são da Agência Senado3