Não há dúvidas que a digitalização do dinheiro e a possibilidade de realizarmos transações eletrônicas de quantias em questões de segundos vem sendo benéfico para a sociedade. Diante de tanta inovação, os caixas eletrônicos, que há décadas fazem parte de nossas vidas, podem começar a parecer, para alguns, "peças de museu". Não foi uma, nem duas vezes que me deparei com especialistas condenando os chamados ATMs (ou Automated Teller Machines) à "morte". algo que, na minha opinião, ainda está longe de acontecer.
Este tipo de percepção normalmente é mais comum para quem habita centros urbanos com alto nível de desenvolvimento, onde a circulação do dinheiro digital (seja por meio transferências via Pix, uso de cartões com chip ou carteiras digitais) realmente já supera o das notas. Nestas "bolhas", digamos assim, parece mesmo que o dinheiro físico está cada vez mais escasso.
A verdade é que em um país tão grande e complexo como o nosso, o dinheiro físico dificilmente deixará de circular nos próximos anos. Enquanto as grandes redes de varejo recebem por meios eletrônicos, ainda existem dezenas de milhares de pequenas lojas, nos quatro cantos do País, ainda têm no papel moeda seu principal meio de circulação de valores. Isso sem contar o grande volume de brasileiros que ainda não são bancarizados e que recebem seus salários em dinheiro. E para esses valores circularem, os caixas eletrônicos ou, ainda, os terminais semiatendidos, são e continuarão sendo necessários.
No entanto, é inegável que este mercado passará por uma mudança de modelo de negócios, que será bastante benéfica ao consumidor. Hoje, o modelo de terminal mais utilizado é grande e pesado, além de exigir do estabelecimento que o abriga um certo nível de segurança, por armazenar uma quantidade considerável de dinheiro. Para se ter uma ideia, segundo contas do setor, para ser rentável um ATM deve realizar alguns milhares de transações por mês. Poucos lugares, de grande movimento, garantem este tipo de volume. Este fato e a insegurança faz com que cada vez menos encontremos caixas eletrônicos pela cidade.
Existe um potencial para a expansão dos terminais de autoatendimento que sejam menores, que ocupem menos espaço físico e sejam menos atraentes a ataques, (uma vez que têm menor quantidade de numerário armazenada). A ideia fica mais tangível se as redes de varejo utilizarem terminais que permitam a reciclagem do dinheiro, onde o próprio comerciante "carrega" o caixa com o dinheiro que obteve em seu movimento. Conforme ele é retirado pelos clientes em operações de Saque (Pix ou Cartão), a rede ao qual está conectado o terminal realiza, em tempo zero, a transferência do valor monetário sacado do Banco Autorizador do Saque do Cliente ao Banco do varejista.
A modalidade é boa para todos. Para o varejista, contribui para que ele movimente menos dinheiro em espécie, além de atrair mais público para sua loja. Naturalmente, estes terminais abrigam menos dinheiro, então também são menos atraentes para criminosos. Já o cliente final ganha em praticidade e por ter mais caixas à sua disposição e os bancos aumentam sua rede de atendimento a clientes.
Outro aspecto que pode mudar o jogo a favor da ampliação da rede de ATMs é a chegada de novos fornecedores de equipamentos vindos da Asia (China e Coreia, principalmente). Com maior concorrência, é natural que os custos de implementação baixem, mesmo no caso dos equipamentos mais parrudos.
Assim como os aplicativos de transporte não acabaram com os Taxis, e os livros impressos não deixaram de existir com a difusão dos e-books, o dinheiro em papel, tão cedo, não deixará de existir, mas "conviverá" com os meios digitais. Os caixas eletrônicos seguirão fazendo parte do nosso cotidiano e oferecendo cada vez mais conveniência aos usuários, em conjunto com uma gama de outras modalidades de pagamentos que já existem ou ainda venham a existir.
Marcelo Rodrigues, sócio e vice-presidente da HST.