O Google e a Microsoft estão em uma disputa acirrada para saber quem dominará o mundo da inteligência artificial. Entre outras empresas que investiram na tecnologia, a Microsoft fez um dos aportes mais relevantes do mercado em janeiro de 2023, destinando cerca de US$ 10 bilhões ao ChatGPT, da OpenAI. O Google entendeu que não pode ficar para trás. Primeiro, criou o Bard, que agora rebatiza de Gemini, com recursos ainda mais avançados. Seu modelo de inteligência artificial consegue entender ao mesmo tempo diferentes formatos, como textos, fotos, vídeos, áudios e códigos, ou seja, está muito mais apto a lidar com a complexidade da interação humana.
Em um teste de linguagem multitarefa, que incluiu a resolução de 57 disciplinas como matemática, história, direito e medicina, a New Atlas reportou que o Gemini obteve uma pontuação de 90%, enquanto o ChatGPT conquistou 86,4%, e especialistas humanos alcançaram 89,8%. Isso prova que sim, o Gemini tem melhores recursos de raciocínio e compreensão. O que não quer dizer, no entanto, que já tenha superado seu rival no quesito prático. A Microsoft oferece a tecnologia por meio do Copilot, que vem embarcado no pacote Office365 (com um custo adicional de uso), e tem conseguido impactar o mercado com muitos casos reais. Além disso, o ChatGPT é extremamente sofisticado no processamento de linguagem natural.
Certamente, uma grande vantagem do Google é ter toda a internet indexada em seus algoritmos, o que o fará agregar ainda mais valor aos seus produtos quando passarem a integrar o Gemini. Será possível pedir recomendações de restaurantes ao Maps, solicitar que o Youtube seja o DJ da festa, entre outros. O mais legal é que seu modelo de linguagem está sempre sendo atualizado com informações em tempo real.
Essa concorrência entre Microsoft e Google acelera o crescimento do mercado. Assim como aconteceu com a computação em nuvem, que democratizou o acesso à tecnologia de ponta, permitindo que uma startup usasse os mesmos recursos que empresas grandes, a popularização das ferramentas de IA deve favorecer o empreendedorismo, com a criação de novos produtos, soluções e empresas.
No entanto, trata-se de uma tecnologia ainda pouco madura e imprevisível, e as duas companhias estão testando seu potencial diretamente com os usuários, já que não há tempo hábil para testes em meio a tantos lançamentos. Talvez o usuário final não se importe de fazer uso de um produto inacabado, mas as empresas devem ficar atentas e ser mais conservadoras.
Além disso, é importante levar em conta os possíveis riscos, já que esses recursos também estão disponíveis para cair em mãos erradas. Recentemente, golpistas induziram o funcionário de uma multinacional chinesa a pagar US$ 25 milhões depois de uma videoconferência falsa, totalmente criada por IA. Os criminosos captaram diversas imagens e sons dos colegas desse funcionário e usaram a técnica de deepfake para criar avatares deles que pareciam reais, e que interagiram com o funcionário ao vivo durante a reunião virtual, recomendando que fizesse a transferência. Está cada vez mais fácil recriar a realidade, e mais difícil distinguir o real do inventado. E essa é umas das razões pelas quais o tema da regulação e os debates em torno dessa tecnologia se tornam cada vez mais imperativas na sociedade.
A cada passo que a IA dá, mais a utilizamos nas atividades do dia a dia sem nem nos darmos conta. Todo esse avanço tecnológico nos catapulta para novos tempos, a Era das Perguntas, na qual é mais importante saber questionar do que saber responder. A qualidade das informações acessadas depende do talento na hora de formular as perguntas.
É fundamental descobrir o que a máquina pode fazer melhor do que os humanos e entender como pedir isso a ela. É como se a IA fosse um funcionário ultra produtivo, mas que precisa de comandos claros e supervisão. Ela está aprendendo a colaborar conosco e nós estamos aprendendo a colaborar com ela.
Fernando Radunz, diretor executivo de Tecnologia e Pagamentos na Pluxee.