Encontrando gaps para inovação: Um ponto de vista científico

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É comum refletirmos sobre o que estamos fazendo de diferente ou inovador em nosso trabalho. Assim, uma pergunta que pode ficar rodeando a mente é: "Qual seria o ponto de inovação do meu trabalho?", e até mesmo: "Como propor algo inovador, se eu não sei o que é inovação?". Imagine então quando estamos inseridos no contexto de uma empresa de P&D, onde inovação é palavra-chave do dia a dia. Some isso tudo ao fato de trabalharmos com tecnologias… pronto, já é possível ver a fumacinha de alguns neurônios queimados!  

Vamos então pensar nestas questões começando pelo básico: "O que é inovação?". Um substantivo feminino, que significa, segundo o dicionário:  

  1. ação ou efeito de inovar; 
  2. aquilo que é novo, coisa nova, novidade.

Há também a definição da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que afirma que "o esforço empreendido pela empresa no desenvolvimento e implementação de produtos e processos tecnologicamente novos e aperfeiçoados".  

Flavia Santos

Ok, agora que já relembramos o significado de inovação e vimos que praticamente não existe  inovação sem pesquisa, vamos tentar explorar diferentes maneiras de identificá-la em nosso trabalho. Temos certeza de que você já pensou em automatizar aquela tarefa repetitiva. Ou quando foi ao shopping  almoçar achou o processo de pedido muito burocrático ou demorado, não? Um amigo aqui do SIDIA nos  fez notar um comportamento, que foi reparar que os atendentes sempre fazem um círculo à caneta no  número de pedido. Até hoje não sabemos o motivo que não desenharam uma nota fiscal com a senha já circulada. Será que nada supera o reforço social do atendente mostrar onde está o número? Será que as  pessoas observavam isso já impresso? Como propor um design que dispense o uso da caneta e que a  pessoa note facilmente sua senha?   

Um ponto a se pensar quando falamos em Inovação e Pesquisa científica, é que não precisamos  "reinventar a roda" ou não precisamos promover mudanças bruscas, tendo em vista que existem diversos  tipos e níveis de contribuições e formas de inovação. Por exemplo, em um tempo não muito distante (por  exemplo, na época do seu gestor ), os celulares fazem apenas ligações e enviam SMS.  Posteriormente adicionaram a tela touch e o conectaram a internet, sendo que pouco tempo depois  gerou-se diversos modelos de smartphones, como conhecemos hoje.   

Para ter uma ideia geral, existem diversas pesquisas investigando remédios e imunizantes  previamente conhecidos na literatura, que tentam mitigar o problema do Covid. Algumas estão dando  certo e outras provaram o contrário, sendo que todas contribuíram de alguma forma para a ciência. Veja que normalmente estes estudos são extensões, evoluções ou a aplicação de algo pronto em um contexto  diferente ainda não explorado ou conhecido. O que vai orientar a discussão de um artigo ou pesquisa científica é a "questão de pesquisa", e ela vai refletir o que será avaliado, investigado e respondido. Sabe  aquelas que você tem na sua mente e que ninguém pensou em fazer? Imagine algo neste caminho.  

É  possível, por exemplo, fazer uma pequena modificação em uma arquitetura previamente proposta já  publicada e mostrar em que pontos a nova arquitetura é melhor e em que pontos não é tão boa (limitação). Essa discussão de ganhos e limitações tem potencial de gerar um conhecimento, que  permitirá que desenvolvedores decidam por qual metodologia utilizar, ou até mesmo que pesquisadores  proponham um novo estudo, que pode resolver algum item que a pesquisa atual não foi capaz de resolver,  seja por questão de tempo, recursos, limitação de contexto, dentre outros motivos (até mesmo aquele  deadline de submissão apertada). Por isso, bons artigos sempre apontam suas limitações e cenários  de pesquisas futuras. Um bom "Inovador" sabe que não é possível resolver todos os problemas, que há  limitações que fogem do seu controle e outras demandas existentes. Em alguns momentos é até importante mudar o foco de pesquisa.   

Em síntese, um exercício que podemos desenvolver é sermos práticos e encontrar um ponto  específico para contribuir, sem precisar 'reinventar a roda'. Por exemplo, se a abordagem de trabalho atual  usa a técnica X, e você pode fazer com Y em um tempo melhor, já pode ser uma contribuição, caso sua  questão de pesquisa seja otimizar o tempo. Agora, se você fez com Y e obteve maior cobertura (de  problemas, por exemplo) em um cenário B, sua questão de pesquisa pode ser sobre como detectar mais  problemas no contexto C. Deixe nos comentários, qual seria sua questão de pesquisa e seus X, Y e B. Você  é a pessoa mais indicada para inovar, pois está em contato todos os dias com suas atividades, basta apenas  organizar as ideias sobre como implementar e reportar seus resultados, seja para a empresa e para a  comunidade de pesquisa.  

Felipe Taliar Giuntini, doutor em Ciência da Computação e Matemática Computacional pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é pesquisador no Sidia – Instituto de Ciência e Tecnologia e orientador de pós-graduação na Universidade Federal do Amazonas. Flavia Santos, pesquisadora da USP. 

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