Em um momento histórico em termos de investimentos para as fintechs brasileiras, elas captaram nos quatro primeiros meses de 2021 US$ 731 milhões em 45 aportes, sendo que só em abril o valor foi de US$ 123 milhões em 12 deals. Os números constam na oitava edição do Insite Fintech Report, relatório mensal produzido pelo Distrito Dataminer, braço de inteligência da plataforma de inovação aberta Distrito.
Houve uma redução em volume de investimento nos dois últimos meses, após um janeiro e fevereiro muito fortes -ainda assim, foram ao menos US$ 50 milhões aportados em março e abril. O total investido no primeiro quadrimestre de 2021 representa seis vezes o do mesmo período de 2020.
As startups financeiras do país vêm numa crescente desde 2012, e apresentaram crescimento exponencial nos últimos dois anos, quando passaram a marca de US$ 1 bilhão tanto em 2019 quanto em 2020. A expectativa é que 2021 supere esse biênio. "Devemos seguir batendo recordes de investimentos no setor, à medida que outros players importantes atingem seu pleno desenvolvimento", diz Tiago Ávila, head do Distrito Dataminer.
Segundo o relatório, os late-stages concentram a maioria do investimento em fintechs. Esse quadro se explica pela escala dos desafios a que estão expostas as empresas mais maduras, e também pelo próprio perfil dos investidores, que tendem a aportar valores altos nessas fases do empreendimento, já que o retorno financeiro é mais provável. O Nubank sozinho lidera a lista de maiores aportes no setor, em rodadas Series F e G que chegaram a US$ 400 milhões.
Ainda segundo o documento, foram 14 fusões e aquisições feitas até o final de abril -mais da metade do total em 2020. Os compradores são em sua maioria diferentes, com apenas a Boa Vista e a Locaweb adquirindo duas fintechs até o momento. Outra empresa que adquiriu mais de uma fintech, porém uma em 2020 e outra neste mês, foi a Via, que comprou o banQi e a Celer, respectivamente.
A evolução das fintechs
Com apoio da KPMG, o Distrito também lança o Mining Report, relatório gratuito que retrata a evolução das fintechs no Brasil. Até agora, mostra o documento, 1.158 startups financeiras foram mapeadas, a maior parte delas voltadas para meios de pagamento (15%), seguido por crédito (13,6%) e backoffice (13,2%).
Na série histórica, que começa em 2012, as fintechs brasileiras receberam, ao todo, US$ 4,6 bilhões em 536 aportes, somando os deals feitos até o final de abril de 2021.
Esse segundo documento mostra como há uma tendência de especialização no ecossistema, com o aumento da competitividade e da complexidade das soluções financeiras tecnológicas. Por tratar-se de um setor mais maduro, entrantes no mercado buscam estratégias diferenciadas de atuação.
"Com o ambiente regulatório construído pelo Banco Central, por meio de resoluções que reduzem a burocracia – com destaque para o Pix e Open Banking – além da aceleração da digitalização de negócios em função da pandemia, diversas oportunidades têm surgido para atuação das fintechs. Até o momento, há 1.158 fintechs no Brasil, e esse ecossistema tende a crescer num ritmo acelerado. Diante deste cenário, o Brasil tem se tornado uma referência em tecnologias focadas em serviços financeiros e possui um ambiente propício para as fintechs", analisa o sócio da área de Private Enterprise da KPMG do Brasil, Jubran Coelho.
Outro dado interessante é o de que mais da metade das fintechs (52,3%) oferecem suas soluções para outros negócios -ou seja, são B2B. Serviços voltados diretamente aos consumidores são pouco mais de um quarto (27,3%). Há, ainda, as que oferecem soluções tanto para um, quanto para outro (13,6%).
No entanto, a discrepância de gênero no quadro societário se mantém elevada no mercado de fintechs -elas estão entre as empresas com maior desigualdade de gênero. São 87,3% sócios homens, ante apenas 12,7% de mulheres.