As tecnologias de informação e comunicação (TICs), por si só, não ajudam no desenvolvimento econômico e social de um país. Esta é a conclusão do estudo "Desenvolvimento Humano no Chile – As tecnologias: um salto para o futuro?", divulgado nesta quinta-feira (13/7) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).
A pesquisa, feita no país latino-americano mais avançado no uso de internet e celulares, traz resultados surpreendentes. A principal é que não há atalho tecnológico para o desenvolvimento humano.
"Para apropriar-se das potencialidades das novas tecnologias não basta que existam aparelhos abundantes e conexões de boa qualidade", diz o relatório. "Isso depende de maneira muito importante de que os usuários individuais e coletivos disponham de um conjunto de condições objetivas e subjetivas, entre elas capacidade para definir reflexivamente os fins de uso, a possessão de vínculos sociais amplos ou a existência de regulamentações que assegurem o respeito dos direitos das pessoas no espaço virtual", enfatiza o documento.
Para o Pnud, qualquer programa que vise o fim da exclusão digital não deve focar apenas a oferta de tecnologias, mas também as condições de seu uso e o que é feito a partir do momento em que se possui um computador com conexão à internet, por exemplo. Isso porque para aqueles que possuem capacidades básicas de exploração do potencial da rede mundial de computadores, várias portas se abrem. Por outro lado, para os que não têm tal habilidade, as barreiras continuam de pé.
Um exemplo citado pelo Pnud é a presença de computadores em escolas. Se as máquinas ajudaram a diminuir a diferença material existente entre alunos de diferentes níveis sociais, por outro não melhoraram a educação como um todo. Segundo o programa da ONU, os computadores e a internet permitiram nivelar um ?primeiro piso?: a oportunidade de conhecer e usar essas ferramentas. Mas para passar a um segundo patamar, no qual se extraia todo o potencial das TICs, requer-se outras condições de contexto e recursos, e de uma base subjetiva forte.
O relatório do Pnud frisa que ?a existência de sentidos pedagógicos claros, de um entorno de hábitos de aprendizagem e de docentes que usem a computação com fins didáticos poderia aumentar o impacto das tecnologias nas aprendizagens?. ?Não basta, portanto, introduzir ?ferros?. Além disso, é preciso estabelecer critérios, sentidos e acompanhamento", afirma o documento.
Outro aspecto analisado é o governo eletrônico no Chile. Para o programa da ONU, apesar do grande número de páginas disponíveis, são poucas as que se destacam. Apenas em algumas, como a do ministério da Agricultura, há informações e possibilidade de realização de operações legais. Mesmo assim, o país é reconhecido em todo o mundo pelo sucesso de sua iniciativa de governo eletrônico.
Os políticos, por sua vez, melhoraram bastante seu uso das novas tecnologias. O estudo compara o comportamento de deputados em diferentes épocas, começando em 2001 e terminando em 2005. Enquanto há cinco anos as respostas a um simples e-mail pedindo informações, enviado por uma pessoa comum, eram raras, no ano passado elas eram abundantes e completas. Alguns representantes chegaram até mesmo a disponibilizar um telefone celular e convidar o cidadão para uma reunião. Em 2001, de 120 mensagens enviadas, apenas nove receberam resposta. Em 2005, foram 21 de um deputado e 31 de outro.
O relatório alerta para o uso inapropriado das tecnologias. Para o Pnud, se não forem usadas corretamente, as TICs podem, em vez de solucionar, agravar problemas como exclusão social e educacional ou o fortalecimento de hierarquias dentro de empresas. Por isso alerta a todos os formuladores de políticas públicas a respeitarem os costumes locais e estimularem a reorganização produtiva quando necessário.
Com informações do Observatório de Políticas Públicas de Infoinclusão (OPPI).