O mercado global de outsourcing de TI registrou forte desaceleração entre janeiro e março deste ano, quando o montante total dos contratos atingiu US$ 3,5 bilhões, o que representa uma queda de 27% na comparação com o mesmo período do ano passado e o menor valor para um primeiro trimestre desde 2004, de acordo com um estudo da consultoria Information Services Group (ISG).
O ritmo lento do setor no trimestre não chega a ser uma surpresa, tomando-se como base a desaceleração da atividade verificada nos últimos três meses do ano passado e nos trimestres anteriores. De acordo com o relatório da ISG, o mercado de sourcing está presenciando algumas mudanças marcadas não apenas pela guerra de preços entre as empresas, mas também pelo crescimento mais rápido dos serviços de nuvem do que o outsourcing tradicional.
As companhias que mais têm sentido o impacto causado por esse fenômeno são, é claro, as gigantes indianas de terceirização de serviços de TI como a Tata Consultancy Services (TCS), braço de outsourcing de TI do grupo Tata, Wipro, Infosys e Tech Mahindra, entre outras, que ganharam projeção no mercado mundial no final da década de 1990, porque podiam manter autênticos exércitos de engenheiros pagando salários mais baixos do que suas similares ocidentais para desenvolver programas sob medida, bem como monitorar e manter redes de computadores para grandes empresas transnacionais a preços extremamente competitivos.
A maioria delas agora tenta se adaptar ao novo cenário à medida que mais empresas aderem à computação em nuvem, conforme mostra uma reportagem do The Wall Street Journal. Várias das empresas têm recorrido aos serviços de nuvem como forma de reduzir os custos anuais com terceirização, o que tem afetado sobremaneira a receita e os lucros da companhias indianas de outsourcing de TI.
"É o mesmo que aconteceu quando a Amazon chegou ao mercado", disse CP Gurnani, CEO da TechMahindra, especializada na prestação de serviços para empresas de telecomunicações. "[A chegada da Amazon] provocou o fechamento da rede de livrarias Borders e obrigou a Barnes & Noble a se reinventar", disse Gurnani.
A terceirização é responsável por cerca de 20% de todas as exportações de bens e serviços da Índia. A indústria emprega milhões de indianos e se tornou uma via importante para a classe média do segundo país mais populoso do mundo. Isso mostra que, se as empresas não conseguirem mudar, as consequências para a economia da Índia podem ser terríveis.
A previsão de crescimento do emprego, por exemplo, aponta para o índice mais baixo neste ano dos últimos cinco anos, segundo a Associação Nacional das Empresas de Software e Serviços da Índia. A título ilustrativo, a TCS, a maior contratante da Índia, adicionou 19.192 postos de trabalho no seu ano fiscal, encerrado em março passado, ante 24.268 empregos registrados no exercício fiscal anterior, de acordo com o relatório anual da empresa.
A Wipro, por exemplo, planeja reduzir a sua força de trabalho para 158 mil empregados e agora está investindo pesadamente para treinar seus engenheiros de software no desenvolvimento de códigos de programas mais sofisticados relacionados à nuvem. A empresa estima que cerca de 40% de seus funcionários não têm as habilidades necessárias para a computação em nuvem.
Tendência mundial
A tendência de substituição do outsourcing por serviços de nuvem é mundial. Para se ter uma ideia, no ano passado, o valor dos contratos de outsourcing de TI assinados encolheu 17%, para US$ 120,4 bilhões, ante US$ 145,5 bilhões registrados um ano antes, de acordo com dados da empresa de consultoria KPMG.
A empresas indianas e outras empresas de outsourcing de TI estão perdendo mercado para fornecedoras de serviços na nuvem, tais como a IBM, Amazon Web Services e Accenture, à medida que mais companhias abandonam os seus próprios data centres e optam pelo armazenamento em nuvem ou pela substituição de software feito sob medida por versões na nuvem off-the-shelf (adquiridas direto da fornecedora, sem necessidade de encomendar e de programadores).
Mas analistas dizem que muitas empresas de outsourcing de TI, tanto indianas quanto em outras partes do mundo, já estão realizando mudanças nos seus modelos de negócio. Essa é uma "ironia econômica", disse David Tapper, diretor de outsourcing da IDC, ao jornal americano. "Engenheiros indianos estão migrando dados para a nuvem e ajudando a integrar aplicações off-the-shelf na nuvem, retirando o funcionamento do negócio daquela infraestrutura.".
Como os servidores de nuvem são acessados através da internet, eles estão concentrados em um número menor de locais, tornando-os mais fáceis de acompanhar. Prestadores de serviços de TI tradicionais têm um técnico para 200 servidores, na comparação com uma pessoa para 10 mil servidores na nuvem, aponta a ISG.
"Agora você pode comprar infraestrutura com um cartão de crédito corporativo alugando espaço na nuvem", disse Malcolm Frank, diretor de estratégia e marketing da provedora global de serviços de TI Cognizant Technology Solutions. "Presumir o modelo de serviços continuará a ser o mesmo está irremediavelmente errado."
Mas o executivo acha que a indústria tem tempo para se ajustar. "Vai ser uma transição de uma década", acrescentou. "Muitas empresas têm gastado muito dinheiro em aplicações sob medida que elas não podem ou não estão dispostas a colocar em servidores que não controlam", completou.