Com o propósito de sensibilizar e estimular a população a adotar práticas de descarte sustentável de eletroeletrônicos, a Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-PR), a Universidade Positivo (UP) e o Tech Girls se uniram para envolver tanto a cadeia produtiva da área de Tecnologia da Informação (TI) como a comunidade em geral na coleta de equipamentos eletrônicos não utilizados, contribuindo assim para a educação profissionalizante.
Os Itens eletrônicos podem ser doados nos campi Ecoville, Santos Andrade e Osório da Universidade Positivo, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
A iniciativa faz projeto de impacto socioambiental chamado Tech Girls, entidade sem fins lucrativos organizada por mulheres para atender mulheres em vulnerabilidade social. O projeto existe desde 2007 e proporciona um tratamento adequado para tudo o que é considerado lixo eletrônico. Isso é feito por meio de uma imersão digital, que inclui duas oficinas específicas: uma de reciclagem e outra de manutenção de notebooks.
Na primeira oficina, chamada "Arte em Lixo Eletrônico", as alunas em situação de extrema pobreza recebem educação profissionalizante que começa com a confecção artesanal de brincos, colares, pulseiras e outras bijuterias. A partir do ateliê-escola, essas technojóias são levadas às ruas e, sendo bem aceitas pelo público – principalmente por mulheres -, são todas registradas com a marca Bijouxtechs®.
Na segunda atividade, de "Manutenção de Computadores", as alunas recebem instruções para recuperar o que até então era considerado lixo eletrônico. Aquelas que tiram boas notas são premiadas com um computador recuperado, que podem levar para casa. Além disso, elas também recebem instruções em programação e até mesmo sobre o desenvolvimento de softwares. O objetivo é que continuem seus estudos na área de tecnologia e coloquem em prática o que aprenderam, seja no mercado de TI, trabalhando para empresas ou realizando vendas pela internet.
Quem explica melhor é a desenvolvedora de software e fundadora da Tech Girls, Gisele Lasserre: "A primeira oficina é a nossa porta de entrada, um atrativo para pessoas que nunca tiveram contato com softwares. Depois, elas vão adquirindo noções progressivamente até estarem prontas para aprender a recuperar um equipamento. E com cada computador doado, nasce uma nova profissional no universo digital ". É na tentativa de combater os malefícios à saúde, às finanças e ao meio ambiente que a Tech Girls vem trabalhando.
Há três anos, o Decreto n.º 10.240/2020 passou a vigorar, trazendo as determinações que os municípios brasileiros devem seguir para o recolhimento correto do lixo eletrônico. Desde então, o Brasil vem registrando um crescimento na quantidade de coleta desse material. Em 2019, por exemplo, segundo o Ministério do Meio Ambiente, foram coletadas 16 toneladas. No ano seguinte, esse número aumentou para 105 toneladas. Já em 2021, as prefeituras recolheram 1,2 mil toneladas de materiais que não são mais utilizados, como computadores, baterias, smartphones, fones de ouvido, entre outros.
Contudo, mesmo com essa lei em vigor, o descarte irregular de sucata digital continua a crescer. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), no que se refere à América Latina, apenas 3% do lixo eletrônico é descartado de maneira adequada. A outra parcela – 97% – não é devidamente monitorada e, embora contenha materiais de alto valor, mistura-se a alimentos e outros resíduos, indo parar na natureza. Isso gera um desperdício que atinge cerca de US$1,7 bilhão por ano e pode ocasionar uma série de doenças tanto em pessoas quanto em animais, devido à presença predominante de metais pesados.
Mercado aquecido
Ao passo que aumenta a venda de eletrônicos, cresce também o descarte irregular. Segundo o relatório "Future of Commerce" da Shopify, a previsão é que o mercado de venda de eletrônicos alcance um faturamento de US$5,9 bilhões até o final de 2023. No ano de 2022, esse número foi de US$5,4 bilhões. Especialistas no ramo apontam que uma das razões para esse aumento é a crescente necessidade de utilização de dispositivos digitais em casa, para atividades como trabalho, saúde, entretenimento e estudos, também impulsionada pela pandemia da Covid-19.
"O aumento das vendas ocorre devido à obsolescência técnica ou funcional dos aparelhos, causada por uma série de situações que vão desde o surgimento de produtos com tecnologia superior – o que os torna mais eficazes e, portanto, mais desejáveis para os consumidores – até a falta de peças de reposição. Também entra em jogo a inviabilidade econômica do conserto, uma vez que, muitas vezes, um novo produto acaba sendo mais acessível financeiramente do que o serviço de manutenção", destaca Josefina Gonzalez, presidente da Assespro-PR Acate. "É por isso que apoiamos a Tech Girls: além de promover boas práticas de sustentabilidade ambiental e social, elas trabalham na reciclagem de produtos que, quando descartados irregularmente, liberam substâncias tóxicas que poluem o solo e a água, prejudicando a saúde humana e dos animais", acrescenta a primeira mulher a liderar a entidade em seus 40 anos de existência.