Quantas empresas existem dentro da nossa empresa?

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Quando você resolve mudar de empresa, depois de pensar no dinheiro que irá ganhar e no que irá fazer, a próxima preocupação é saber se conhece alguém dentro da nova empresa que poderá ajudar nessa nova etapa e identificar quem poderá atrapalhar.

O primeiro dia é maravilhoso. Você é o centro das atenções, faz um tour por todas as áreas, todos querem saber quem você é e o que você fará, de onde veio, etc. A primeira impressão é muito boa, você recebe boas-vindas de todos, muitos sorrisos, muita atenção, todos solícitos e à disposição.

Depois de algum tempo excursionando pelos departamentos, o retorno à sua mesa lhe traz mais surpresas. O suspiro de satisfação é inevitável, parece que os processos realmente são perfeitos. A chegada de um representante do suporte é quase simultânea à sua: ele te entrega o notebook, celular, ID, senhas de acessos, configura e-mail e intranet…enfim, em minutos está tudo funcionando.

Britanicamente, assim que o suporte conclui suas atividades, chega o representante do RH, tira uma foto para o crachá, entrega e explica um monte de manuais, plano de saúde, seguro de vida, apresenta uma série de processos, explica como são os procedimentos e uma quantidade infindável de ferramentas. Sua sensação é que nem em 10 anos conseguirá aprender a utilizar todas as ferramentas e todos os processos.

Neste momento, você está em êxtase, o prazer em estar em uma empresa com tanta estrutura é bom demais. Você pensa: “finalmente acertei. Estou numa empresa que os processos funcionam, que as pessoas estão engajadas e o clima é o melhor possível”.

Como um bom funcionário, a primeira ferramenta que utiliza é o correio eletrônico, e assim que abre entre uma série de e-mails de boas-vindas e, junto com eles, uma convocação para uma reunião que irá começar em 15 minutos com o chefe. Em outras empresas, encontrar a sala de reunião é um desafio; aqui tudo está sinalizado. Você se aproxima, meio sem jeito, não conhece ninguém, procura uma cadeira não tão distante, mas também não tão perto do chefe.

A reunião é tranquila. Os temas são: uma visão das metas, status report do andamento dos projetos e a sua apresentação para o time. Você percebe algumas coisas, digamos, estranhas; pessoas te olham com ares de inveja, outros com curiosidade, quase verbalizam “Quem é este cara, porque eu não fui escolhido para esta vaga?”
As semanas passam e você começa a perceber que em nenhum lugar as coisas são perfeitas, semelhante a um casamento, quando acaba a lua de mel é quando descobrimos com quem realmente casamos.

Uma coisa são as apresentações e os processos, outra coisa é o mundo real, quando você se depara com a necessidade de utilizá-los ou interagir com as pessoas é que você percebe que o que está escrito não é bem o que é realizado. Alguns processos funcionam bem, outros nem tanto; algumas áreas funcionam de uma maneira enquanto as demais, de outra; algumas pessoas são extremamente pró ativas e outras, totalmente reativas.

Da mesma maneira que a imensa satisfação tomou conta das suas emoções nas primeiras semanas, uma sensação de frustração se abate sobre você. O questionamento é inevitável: “onde foi parar aquela empresa maravilhosa?”.

A resposta é de difícil assimilação. Ela continua no mesmo lugar. O que mudou foi você, que passou a enxergar as coisas como elas realmente são. O erro recorrente é que todos esquecem que as empresas são feitas de pessoas e que as elas são diferentes, possuem culturas, objetivos e reações particulares para cada situação.

Não adianta se lamentar e pensar em mudar de empresa. O que precisa ser feito é reavaliar seu posicionamento e suas expectativas. Por mais frustrante que pareçam as negativas que irá receber, acredite: irão lhe ajudar muito no crescimento profissional e pessoal.

Observe à sua volta; qualifique cada um; com quem você deve ter cuidado, onde estão os amigos e onde estão os concorrentes leais e os nem tanto. Criar uma estratégia para o convívio com cada um é uma questão de sobrevivência. Para cada situação você deve analisar e identificar a melhor maneira de interação. Pense sempre porque determinada pessoa irá te ajudar? Simplesmente porque você quer?!

Não adianta utilizar o crachá do chefe, nunca é uma boa alternativa. Já ouviu falar que o mundo é redondo? Hoje você manda, amanhã você será o mandado. E ser comandado por alguém que você tripudiou nunca é uma boa opção.
Um erro muito comum é achar que a empresa é a nossa segunda casa. Não é! Empresa é empresa e casa é casa. Em casa somos amados porque simplesmente existimos, na empresa não é bem assim. Por isso que a amizade que nasce no mundo corporativo frequentemente se consolida no pessoal, mas, aquela nasce no pessoal morre quando a relação vira profissional.

Alguns cuidados são importantes. Aparecer demais nunca é bom, nos tornamos alvos fáceis. Ser extremamente low profile também não é, podemos ser esquecidos e descartados. Nunca esqueça sempre: observe, negocie e comunique.
O maior erro dos profissionais é colocar toda expectativa e objetivos de sua vida sobre a empresa e sobre a sua posição profissional. Muitos se esquecem de si e, pior ainda: da sua família. Quem não conhece pessoas que adoeceram e ficaram sozinhos por pensar apenas no lado profissional.

Dedique-se à sua empresa e à sua carreira, mas nunca se esqueça: emprego conseguimos outro, já a família…


Alberto Parada, vice-presidente de Educação da SUCESU-SP, colunista e palestrante, integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, formado em administração de empresas e análise de sistemas, especialista em Gestão de Projetos e Outsourcing; atuou como executivo na  IBM, CPM-Braxis, Fidelity e Banespa; é voluntário no HEFC, hospital para portadores de Câncer.

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