O movimento de transformação digital das empresas, presente em maior ou menor grau em todo mundo, tem impulsionado a demanda por inovação materializada em novos modelos de negócio ou melhor relacionamento com seus clientes, mas também tem criado fenômenos que explicitam o quão desafiador é inovar de forma consistente em tempos dinâmicos e incertos. Um deles é o chamado Teatro da Inovação.
O termo foi criado por Steve Blank, Professor da Universidade de Stanford (EUA) e se aplica às organizações que reconhecem a necessidade de mudança e inovação, entretanto esbarram na aparente dicotomia de levar novos produtos e serviços ao mercado e ao mesmo tempo conduzirem os seus já bem sucedidos negócios pautados em processos corporativos.
Já é conhecido que projetos de inovação, mesmo que cunhados por termos como "transformacionais" e "disruptivos", ao não criarem valor para a empresa, se tornam somente iniciativas isoladas, resultado típico desse fenômeno. Um estudo realizado pela Doblin Inc., empresa de inovação estratégica, constata que 96% das iniciativas falham justamente por essa razão e, pior que isso, a maioria das empresas sequer percebe o problema.
Na verdade, esse isolamento tem sido combatido por algumas empresas com alinhamento estratégico e foco das equipes de inovação. Afinal, parecia evidente que inovação estava apenas ligada a geração de ideias disruptivas com a adoção de novas tecnologias, mas o que se mostrou efetivo foi a correlação entre o impacto positivo no dia a dia dos negócios (ganhos para clientes e stakeholders) e a execução desses projetos. Ou seja, as empresas bem sucedidas não inovaram por meio de provas e testes em novas tecnologias, mas porque identificaram que o seu negócio poderia evoluir e se transformar através dessas novas tecnologias.
Esse ciclo de geração de novos produtos em harmonia com os processos corporativos não florescem e não avançam sem o devido engajamento executivo. Quando os líderes estão focados somente em impulsionar o sucesso de seus negócios existentes, a inovação pode ser relegada às margens da empresa. Essas margens podem ter nomes legais como "laboratório", "acelerador" ou "incubadora". Mas se nada de valor emerge desses lugares, eles podem muito bem não existir.
Tanto é assim que, apesar de entenderem a grande importância estratégica da inovação e de estarem dispostos a investir, muitos executivos estão insatisfeitos com a performance das medidas tomadas. Um estudo da McKinsey revelou que somente 6% dos CEOs estão satisfeitos com o desempenho das suas companhias quando o assunto é inovação.
Novas tecnologias e inovação devem ser uma dupla poderosa para transformar organizações e até mesmo indústrias inteiras, porém precisam integrar uma visão mais ampla. Caso contrário, seguiremos investindo em iniciativas com grande potencial sem nunca de fato concretizá-las. É hora de repensar isso, deixar o teatro de lado e adotar modelos transformacionais de fato.
Nayam Hanashiro, diretor de alianças estratégicas da R3.