Recentemente, o Ministério Público Federal (MPF) questionou a Meta sobre mudanças nas políticas de moderação do Facebook e Instagram, e a decisão de encerrar o programa de checagem de fatos e modificar as regras para conteúdos relacionados à migração e gênero levantou preocupações. A empresa de Mark Zuckerberg argumenta que as mudanças buscam maior inclusão e simplificação, mas o impacto prático dessas medidas no Brasil é motivo de intenso debate, especialmente devido ao histórico do país com desinformação.
A situação é preocupante considerando que, segundo o Relatório Digital News Report do Instituto Reuters, 35% dos brasileiros encontraram fake news nas redes sociais em 2023 – um dos índices mais altos do mundo. Esse dado reflete não apenas o alcance da desinformação, mas também a ausência de barreiras robustas para contê-la. O fim do programa de checagem pode ser interpretado como uma abdicação da responsabilidade de conter esse problema, deixando o usuário mais exposto.
Por outro lado, a Meta afirma investir em ferramentas de inteligência artificial (IA) para identificar e remover conteúdos nocivos automaticamente. Porém, muitos questionam a eficiência dessas e , ainda que a IA e a tecnologia sejam aliadas poderosas, não substituem a compreensão humana, especialmente em países com diversidade cultural e nuances políticas complexas como o Brasil.
Essas alterações também suscitam discussões sobre a liberdade de expressão e a proteção de grupos vulneráveis. Redes sociais, enquanto espaços para o debate público, têm um papel central em democracias. A falta de mecanismos de moderação eficazes pode permitir a proliferação de discursos de ódio, tornando esses espaços mais hostis e prejudiciais. Além disso, a dificuldade em responsabilizar abusos cria um sentimento de impunidade.
A dimensão econômica também não pode ser ignorada, afinal, o nosso país é um dos maiores mercados da Meta, com mais de 120 milhões de usuários no Facebook e Instagram, segundo dados internos da empresa. Um aumento na desinformação e uma consequente perda de confiança dos usuários podem levar os anunciantes a redirecionar investimentos para plataformas concorrentes, impactando diretamente os lucros.
A resposta da Meta ao MPF, esperada nos próximos 30 dias, será importante para determinar o rumo dessas políticas. Enquanto isso, o debate sobre como equilibrar liberdade de expressão, inclusão e responsabilidade segue em evidência, expondo a tensão entre inovação tecnológica e governança digital. O Brasil, com suas particularidades e desafios, é um campo de teste para soluções que podem redefinir o papel das redes sociais no mundo.
Eduarda Camargo, Chief Growth Officer da Portão 3 (P3).