A indústria de seguros no Brasil, embora seja reconhecida como um dos setores mais tradicionais e consolidados da economia, passou nos últimos anos por uma revolução impulsionada por eventos globais significativos. Diante desse cenário de mudança, o setor se vê desafiado a se adaptar às demandas contemporâneas dos segurados, marcadas pela exigência de praticidade, agilidade, privacidade e personalização. A resposta a esse desafio encontra-se na crescente integração de novas tecnologias e soluções digitais, que se tornam indispensáveis para a reconstrução de um novo panorama do mercado de seguros.
A tecnologia emerge como aliada fundamental, capacitando a antecipação e delineação de perfis de seguros com base em informações atuais, seguras e relevantes. A preocupação crescente em otimizar processos, aliada à evolução constante de soluções embasadas em inteligência artificial, machine learning e big data, está proporcionando ao mercado de seguros a descoberta de novas formas para aprimorar suas operações, gerenciar riscos de maneira mais eficaz e oferecer serviços personalizados e convenientes aos clientes.
Nesse contexto dinâmico, soluções inovadoras, como automação de processos, chatbots, assistentes virtuais e estratégias de personalização de ofertas, estão se tornando cada vez mais prevalentes, moldando o novo paradigma do setor de seguros. Contudo, essas transformações não ocorrem sem desafios. A cadeia de valor do mercado de seguros encontra-se diante da necessidade de apresentar novas soluções que não apenas se ajustem às mudanças, mas que também agreguem valor de forma substancial.
A avaliação de riscos é a espinha dorsal de qualquer seguradora, e esse processo está intrinsecamente ligado à capacidade de compreender o perfil dos segurados. Estamos falando de todos os ramos de seguros: vida, automóvel, transporte, incêndio, roubo, entre outros, a precisão na análise de informações é fundamental. Hoje, as informações coletadas podem ser analisadas com precisão por sistemas com capacidade de inteligência artificial e algoritmos específicos, desenvolvidos para criar cenários e determinar o perfil de comportamento e o produto adequado para o segurado. Esses algoritmos desempenham um papel vital na avaliação de riscos de clientes e no desenvolvimento de propostas alinhadas às suas necessidades. A aplicação contínua desses algoritmos traz outro aliado importante nesse processo que é o aprendizado de máquina (em inglês, machine learning), que otimiza e evolui esses algoritmos com a capacidade de aprender com os dados já analisados, identificando padrões e tomando decisões com o mínimo de intervenção humana.
A integração da inteligência artificial e o aprendizado de máquina têm sido catalisadores para a automação de processos e tarefas burocráticas na indústria de seguros.. Desde os processos de subscrição e emissão de apólices até a gestão de sinistros e pagamentos, a automação proporciona agilidade. Outro processo que potencializa o setor é a aplicação do Big Data na coleta, mineração e análise de grandes volumes de dados. A seleção dos dados mais relevantes, interpretados conforme variáveis críticas para a tomada de decisões, culmina na geração de relatórios precisos. Esse avanço proporciona às seguradoras e corretoras uma precisão sem precedentes, modernizando e aprimorando uma série de processos e impulsionando a eficiência operacional.
Além dos processos e ferramentas já utilizadas, o setor de seguros vem delineando uma tendência promissora que é o conceito do Open Insurance, um modelo que irá revolucionar o setor ao possibilitar o compartilhamento de dados entre diferentes empresas. O Open Insurance busca oferecer mais personalização, inovação e democratização dos serviços, esse sistema aberto de seguros permite aos consumidores autorizar o compartilhamento de suas informações entre organizações credenciadas pela Superintendência dos Seguros Privados (Susep), visando proporcionar maior rapidez, variedade de opções e serviços cada vez mais personalizados.
À medida que avançamos nesse cenário, a busca pela segurança e privacidade dos dados permanece uma prioridade, garantindo que a evolução tecnológica beneficie não apenas as empresas, mas também os consumidores. Essa abordagem inovadora visa criar um ambiente competitivo, impulsionando a indústria de seguros para um futuro mais orientado para o cliente.
Diante desse cenário, o congresso nacional está em discussão para aprovar o Projeto de Lei 2338/23, que estabelece diretrizes gerais para o desenvolvimento e implementação da inteligência artificial em território nacional. O objetivo principal é assegurar a "proteção dos direitos fundamentais" e garantir a criação de "sistemas seguros e confiáveis". O projeto tem como fundamento a "centralidade da pessoa humana", o que significa que qualquer criação feita a partir da inteligência artificial deve ser avaliada previamente quanto à sua conformidade com os interesses da população e os benefícios que proporcionará.
Em meio a esse panorama, estar atento às tendências e posicionar-se à frente do processo de inovação torna-se crucial para as empresas que buscam não apenas sobreviver, mas prosperar na indústria de seguros nos próximos anos.
Em suma, a tecnologia e a inteligência artificial emergem como catalisadores dessa transformação, visando simplificar a vida das pessoas, além de aprimorar e otimizar os processos operacionais. Essa evolução permitirá que as empresas reduzam custos e efetuem uma precificação de seguros mais refinada, ajustada à realidade individual de cada segurado. Esse protagonismo tecnológico irá definir o futuro da indústria de seguros, além de reafirmar o compromisso no fornecimento de soluções mais eficazes, acessíveis e alinhadas às expectativas de uma sociedade em constante evolução.
Romildo Santos, CTO e co-fundador da TechTrail.