Ao vivenciar o South by Southwest (SXSW) 2025 foi possível identificar que a estrela do evento este ano não foi uma nova IA ou um dispositivo revolucionário, mas sim a própria inteligência humana. Todos os anos este evento nos traz uma projeção do futuro e suas tendências tecnológicas. Mas, em 2025, o tom da conversa mudou.
Em meio às discussões sobre inovação, palestras e insights que toda essa experiência proporciona, um relato ficou claro: avançar tecnologicamente não significa abandonar nossa essência.
Considerado um dos maiores festivais de inovação e criatividade do mundo, o (SXSW) conta com uma participação massiva de brasileiros que se interessam pelo tema e buscam compreender como as novas tecnologias podem impactar negócios, a sociedade e a própria maneira como nos relacionamos no mundo digital e físico.
A grande reflexão desta edição foi sobre como garantir que a tecnologia amplifique a humanidade, e não a substitua.
Na palestra de abertura do evento a futurista Amy Webb alertou para a era da "inteligência viva", em que a convergência de IA, biotecnologia e sensores estão criando sistemas autônomos que evoluem, comunicam-se além da linguagem humana e mesclam biologia com máquinas (como computadores de neurônios humanos). Apesar de revolucionário, Amy aponta para os riscos éticos e sociais, como a falta de regulamentação e o uso político de tecnologias.
Outras ferramentas ganharam destaque no evento como o Futur.U, desenvolvida no MIT Media Lab, mostram como a IA pode ser usada para expandir nossa consciência sobre o futuro, ajudando indivíduos a projetar caminhos mais conscientes e alinhados com seus valores.
O painel "Brave New City" mostrou que os urbanistas estão buscando inspiração na ficção científica para projetar espaços urbanos que promovam conexões autênticas, fugindo da solidão digitalizada que muitas metrópoles foram criadas.
Já Douglas Rushkoff criticou o modelo atual das big techs, que impulsionou o crescimento a qualquer custo, muitas vezes sacrificando a criatividade e a individualidade dos usuários. Rushkoff defendeu uma internet mais "estranha", mais colaborativa, menos centrada em especificação de padrões e mais focada no inesperado, não que nos torne verdadeiramente humanos.
Scott Galloway trouxe um ponto essencial: mesmo com todo o avanço tecnológico, nossa necessidade básica continua sendo conexões reais. Galloway destacou os contrastes das redes sociais na saúde mental dos jovens e reforçou que soluções simples, como restrições ao uso de celulares nas escolas, podem ter impacto maior que qualquer nova tecnologia.
O que mais me impactou foi ver que, apesar do hype sobre IA e biotecnologia, a ética e a humanização dessas ferramentas foram o centro de discussão. Não basta criar inovações disruptivas se elas não considerarem o impacto social e emocional nas pessoas.
A edição de 2025 do SXSW deixa um recado poderoso: a inovação mais importante não está nos códigos de um algoritmo ou nos sensores de um dispositivo, mas na forma como escolhemos nos relacionar com o mundo e com as pessoas. Nenhuma IA conseguirá replicar o calor de um abraço ou a cumplicidade de um riso compartilhado. E talvez seja essa a maior revolução que podemos esperar.
Ademir Piccoli, advogado, ativista de inovação e CEO da J.Ex.