Cresce apreensão no mercado dos EUA com risco de estouro de nova bolha de tecnologia

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A queda por dois meses consecutivos nas ações das empresas de tecnologia dos Estados Unidos fez ressurgir entre os investidores o temor do estouro de uma nova bolha especulativa, semelhante à ocorrida entre 1996 e 2001 com as chamadas pontocom — empresas baseadas na internet —, que levou à erosão das ações na bolsa eletrônica Nasdaq.

Embora não haja o prenúncio de um colapso iminente, o sinal de alerta que levou muitos investidores a se perguntarem se estamos no caminho de uma nova bolha foram os IPOs do LinkedIn e do Facebook, a recusa da oferta de US$ 3 bilhões da rede social pelo Snapchat, e as aquisições do Instagram por US$ 1 bilhão, do Waze por R$ 1,3 bilhão e da Nest por US$ 3,2 bilhões — estas últimas compradas pelo Google.

Uma análise feita pelo The Wall Street Journal com 148 empresas de tecnologia dos EUA, que já realizaram ou estão se preparando para realizar suas ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), não encontrou nenhum indício de que alguma dessas empresas possa enfrentar problemas de caixa no prazo de um ano, com base no ritmo de gastos em 2013.

O diagnóstico da saúde financeira das jovens empresas de tecnologia durante a última fase de preparação de IPOs é muito melhor do que na época das pontocom, cujas ações atingiram valores de mercado extraordinários, mas em muitos casos sem um único centavo de receita. Entretanto, uma reportagem de capa publicada este mês pela revista financeira Barron destaca que um quarto das 207 empresas de tecnologia atuais pode ficar sem dinheiro dentro de um ano.

Um sintoma de que algo não vai bem com essas empresas é a intensificação do debate no Vale do Silício, na Califórnia, a meca das empresas de tecnologia dos EUA, sobre outro possível estouro da bolha. O estudo do jornal americanao mostra que as empresas que abriram o capital em 2013 e início de 2014 ficaram mais vulneráveis financeiramente do que aquelas que anteciparam seus IPOs para 2011 e 2012.

No início de março, as novas empresas de tecnologia estavam sendo mais valorizadas do que em qualquer outro momento desde 2000. Desde então, alguns empresas que alçaram voo rapidamente vêm retornado à Terra — Twitter, a fabricante de software de negócios Workday e a empresa de cibersegurança FireEye, entre outras, registram queda de 30% para 70%.

Empresas mais saudáveis

Mas há diferenças importantes em relação há 15 anos. Atualmente, apenas um décimo das empresas de tecnologia está negociando ações em bolsa pela primeira vez, além de os IPOs de hoje estarem mais maduros do ponto de vista da capacidade das empresas de levantar os recursos necessários para viabilizar seu crescimento. A empresa típica de tecnologia que abriu capital neste ano tem quase três vezes mais tempo de atividade no mercado que uma companhia que fez IPO em 1999, de acordo com dados compilados pela Universidade de Finanças da Flórida. IPOs recentes de tecnologia são maiores e mais saudáveis também, com vendas cerca de seis vezes superiores as da época das pontocom, além de uma maior probabilidade de lucros.

A análise sugere que, mesmo que haja um colapso nas ações de tecnologia, a precipitação é menos provável de produzir um estouro como o das pontocom. O jornal americano utiliza dados da S&P Capital IQ, que avaliou empresas que realizaram IPOs ou arquivam prospectos para abertura de capital, entre janeiro de 2010 até esta segunda-feira, 12. A pesquisa abrange companhias de tecnologia de várias categorias, incluindo empresas de e-commerce, de mídia social, fabricantes de software e de equipamentos de computação.

Os resultados foram muito menos terríveis do que no início de 2000. O jornal americano analisou também as empresas que abriram o capital entre 1996 e 1999, utilizando a mesma metodologia que se usou para a atual safra de IPOs de tecnologia. De acordo com o levantamento, cerca de 67% das 525 empresas de tecnologia estavam gastando mais dinheiro à época do estouro da bolha que sua capacidade de gerar receita. Além disso, cerca de 16% estavam na iminência de ficar sem dinheiro dentro de um ano, com base em seus saldos de caixa no fim de 1999.

Por outro lado, 43 empresas incluídas na análise recente do diário americano, o que representa 29% da amostragem, consumiram mais dinheiro no ano passado para manter suas operações, sendo que três delas — a fabricante de software educacional 2U, a empresa de TI Sysorex Global Holdings e a A10 Networks — tinham menos de um ano de caixa remanescente, em 31 de dezembro de 2013, devido ao ritmo de gastos. Desde então, cada uma delas realizou IPO para reabastecer seus cofres.

Dinheiro em caixa

Um olhar sobre o caixa de duas empresas — uma em cada época —, a eToys e a Marketo, mostra as diferenças entre o cenário no fim dos anos 1990 e agora, mas também algumas semelhanças. A eToys abriu capital em maio de 1999, menos de três anos depois de sua fundação, e cerca de 19 meses após começar a vender brinquedos, videogames e outras mercadorias para crianças, online.

No ano fiscal encerrado em 31 de março de 1999, a eToys havia registrado receita de cerca de US$ 41 milhões e US$ 28 milhões de dinheiro em caixa. Nos 12 meses anteriores, ela havia investido US$ 33 milhões a mais do que obteve de receita — todos os valores foram ajustados pela inflação do período.

Já a Marketo, fabricante de software para marketing, tinha sete anos na época de seu IPO, em maio do ano passado. A companhia registrou receita de US$ 58,4 milhões em 2012, e suas operações consumiram mais US$ 24 milhões. Ela terminou o ano com US$ 44 milhões em caixa. Em seu IPO, a Marketo levantou cerca de US$ 70 milhões, o que lhe deu fôlego para dez anos de operações e manter o nível de gastos.

No entanto, os investidores têm punido a Marketo por não estar investindo pesadamente em vendas e marketing. Em 2013, a empresa aplicou cerca de US$ 0,65 de cada dólar de receita em despesas com publicidade e para pagar vendedores. Analistas não esperam que a empresa possa dar lucro até 2018, segundo dados da Capital IQ. Suas ações caíram 46% desde sua maior alta, em 11 de fevereiro passado.

Mesmo considerando que a saúde financeira de uma empresa pelo seu consumo de caixa não é necessariamente definitiva, muitos investidores são céticos em relação a isso. No caso da eToys, o IPO deu à empresa US$ 176 milhões em dinheiro, garantindo mais de sete anos de operações. Há dois anos, no entanto, a empresa fechou seu site e entrou com pedido de concordata na Justiça.

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