Uma nova onda de investidores pessoa física emergiu no coração dos mercados movimentados do Brasil, prontos para navegar no complexo mundo das finanças. O número disparou para cerca de cinco milhões atualmente – sendo que eram cerca de 600.000 em 2017, de acordo com a bolsa de valores do Brasil, a B3 (sigla para Brasil, Bolsa, Balcão). Aqueles que têm entre 25 e 39 anos – geralmente millennials – representam quase metade deles.
Para ajudar esses investidores novatos, cujos saldos são principalmente pequenos para consultores financeiros profissionais, a B3 decidiu complementar sua educação gratuita em investimentos on-line com um assistente de IA conversacional – também gratuito.
A solução da B3 não dá dicas de ações, conselhos de investimento ou recomendações de corretores. Em vez disso, é uma maneira rápida e direta de decifrar a terminologia financeira, que pode parecer uma língua estrangeira para muitos, e fornecer respostas que foram selecionadas pelos especialistas da B3. Ela pode explicar ações, títulos e como encontrar um corretor, bem como instrumentos financeiros mais complexos.
"Há muitas informações na internet, mas é difícil encontrar o conteúdo certo", diz Christianne Bariquelli, superintendente de Educação da B3, que fala do assistente como uma ponte entre o conhecimento e a ação. "Esta solução é para brasileiros que já investem, mas estão no início de sua jornada, ou pessoas que desejam investir, mas não têm as informações de que precisam. Alguns investidores precisam de fontes seguras de informações para confirmar as ofertas que estão recebendo de instituições financeiras ou da internet. Queremos que nosso assistente de IA forneça informações seguras"
Bariquelli atribui o novo interesse em investir a uma tríade de fatores. "A educação financeira está mais acessível à poupulação. A tecnologia está melhor – é muito mais fácil abrir uma conta de corretagem digital e as pessoas podem fazer isso sozinhas. E entre 2018 e 2021, as taxas de juros caíram para níveis que as pessoas nunca experimentaram no Brasil", diz ela.
O montante médio investido diminuiu para R$ 2.200 no final de 2023, ante R$ 4.300 em 2021 – o que a B3 vê como um sinal da democratização do mercado de ações nos últimos anos, pois significa que o investimento está sendo adotado pela classe média, não apenas pelos ricos.
As contas de poupança pareciam atraentes porque as taxas de juros do Brasil foram por muito tempo em torno de dois dígitos, numa tentativa de controlar a inflação. O número de investidores é uma gota no oceano em comparação com os 20 milhões de brasileiros que têm contas na poupança. Agora, a inflação está diminuindo e as taxas de juros estão caindo no Brasil, e os brasileiros estão procurando alternativas com retornos mais altos.
"No Brasil, quase ninguém investe", diz Marcos Garavini Siffert, um engenheiro em Bauru que coordena um clube de investimento com alguns amigos da faculdade. "No passado recente, era fácil ganhar dinheiro sem fazer nada, porque a taxa de juros real [a taxa após a dedução da inflação] era alta. Essa não é mais a realidade. Agora, as Poupanças estão pagando um dos retornos mais baixos, se não negativos, se você compará-las com a inflação. Mas é fácil investir em uma Poupança e as pessoas morrerão quase analfabetas sobre investimentos em vez de tentar capturar retornos positivos."
Embora Siffert tenha estudado princípios de investimento por anos, ele diz que o assistente de IA da B3 "pode alavancar as pessoas a partir de um ponto de partida para que sintam-se seguras o suficiente para organizar seu raciocínio e terem segurança para sair das Poupanças e entrar neste novo mundo."
A qualidade das informações é alta, também, apesar de ser gratuita, observa Siffert. Ele encontrou relatórios no assistente de IA que costuma receber de seu banco privado. "Uma pessoa que tem quase nada pode ter acesso a um relatório sofisticado que não teria a oportunidade de acessar antes"
A B3 não rastreia os usuários do assistente de IA, mas analisa as respostas para garantir que permaneçam apropriadas e dentro dos limites estabelecidos pela B3.
"O time retreina a solução todos os dias para melhorar as respostas e fazer quaisquer correções," diz Marcos Albino Rodrigues, diretor de Arquitetura, Dados e Inovação Tecnológica da B3. "Incluímos uma camada de ética para garantir que ela não atue de forma discriminatória e não faça sugestões de investimento. Ela é treinada para ser uma educadora financeira."
Assim que a IA generativa apareceu no mercado, a B3 entendeu que poderia ser útil como uma ferramenta educacional. "Às vezes as pessoas não veem o vídeo completo ou não chegam ao final do artigo," diz Bariquelli. "O assistente de IA é mais fácil e específico para o que você está procurando."
O Diretor de tecnologia da B3, Ricardo Nardoni, teve a visão de que a B3 deveria aumentar sua comunicação sobre investimentos e aproveitou o relacionamento da B3 com a Microsoft para desenvolver o assistente de IA.
O assistente de IA opera no Microsoft Azure OpenAI Service com Azure AI Search para todos os documentos. É muito mais avançado do que os chatbots clássicos, que têm apenas uma maneira de responder a qualquer pergunta e não explicam os acrônimos e nomes complexos que tornam os mercados financeiros tão assustadores. A IA generativa permite uma conversa mais natural, que pode se adaptar ao nível de educação do usuário, explicando e esclarecendo termos desconhecidos quando necessário.
Lançado em fevereiro, o assistente de IA já auxilia 10.000 usuários por dia, com "feedbacks super positivos dos usuários, especialmente nas redes sociais", diz Rodrigues. A B3 monitora as menções em suas redes sociais porque não coleta informações dos usuários em seu site.
A instituição está buscando novas maneiras de difundir o uso de seu assistente de investimento alimentado por IA, como fornecer um widget para outros – como bancos ou corretoras – colocarem em seus próprios sites, porque os usuários veriam que as respostas são verificadas pela B3.