A integração da pesquisa de tendências na cultura corporativa pode ser o diferencial entre companhias que simplesmente sobrevivem e aquelas que prosperam. De acordo com um estudo da McKinsey, as empresas preparadas para o futuro, definidas como aquelas que implementam práticas de mapeamento de tendências, registraram uma rentabilidade 33% superior à média e um crescimento 200% maior. Esses números destacam a importância dessa integração para a competitividade. Mas como transformar a pesquisa de tendências em uma cultura de inovação efetiva e sustentável?
Em um mundo em constante mudança, estar preparado para as transformações do mercado é decisivo para o sucesso do negócio. Neste sentido, a incorporação da pesquisa de tendências traz inúmeros benefícios. Compreender profundamente o comportamento das pessoas e antecipar suas necessidades permite que as empresas desenvolvam estratégias proativas, em vez de reativas. Além disso, essa prática oferece uma visão aprofundada e detalhada das dinâmicas do setor, essencial para a tomada de decisões informadas e eficazes.
Ela traduz o zeitgeist, ou espírito do tempo, e complementa os dados quantitativos com uma perspectiva qualitativa rica. As decisões não podem ser baseadas apenas em números, entender o comportamento humano e as motivações por trás dos dados é essencial. Isso é particularmente relevante no atual contexto, em que crises múltiplas desafiam as empresas a se adaptarem rapidamente. Neste cenário, compreender os desejos e anseios das pessoas pode ser a chave para superar desafios e identificar oportunidades, além de ajudar os líderes a tomarem decisões mais acertadas. Em uma pesquisa realizada pela PWC em 2021, 56% dos CEOs ao redor do mundo afirmam que as mudanças de demandas e preferências dos consumidores são o maior desafio para a rentabilidade dos negócios – fazendo com que seja o maior desafio dos CEOs. Isso só traz a certeza de que sem pessoas, não há negócio.
Apesar dos benefícios, implementar uma cultura de inovação baseada em tendências nem sempre é fácil. Um dos maiores obstáculos é a superficialidade crescente das informações disponíveis. Com o fácil acesso a conteúdos sobre o futuro, muitas vezes sem uma metodologia sólida, a verdadeira essência da pesquisa de tendências pode se perder. As empresas precisam valorizar o processo de uma pesquisa bem feita, que vá além do modismo e realmente prepare o negócio para futuros desejáveis. Convencer os stakeholders da importância de métodos sérios é um passo chave para superar essa barreira.
Além disso, para ter sucesso na implementação, é vital definir objetivos claros e alinhá-los com as expectativas dos executivos. Entregas rápidas que gerem valor a curto prazo são importantes para manter o interesse e o apoio da liderança. Outra estratégia é disseminar o conhecimento sobre futuros dentro da empresa e criar alianças com pessoas interessadas no tema, pois isso pode fortalecer a cultura de inovação. Neste processo, adaptar as estratégias ao contexto específico da companhia também é importante para garantir a relevância e a eficácia das iniciativas.
Embora o tema seja naturalmente atraente, é necessário mais do que isso para criar uma cultura de inovação. Fornecer acesso fácil a conteúdos, pesquisas e referências, além de desmistificar a aplicação prática das tendências, são passos importantes para engajar toda a equipe na utilização dessa estratégia e fomentar a inovação. Quando o time percebe o valor das novas oportunidades de negócios identificadas por meio dos levantamentos, o engajamento e a adoção dessas práticas aumentam significativamente.
Mesmo que seja desafiador medir o impacto das pesquisas na cultura de inovação, especialmente devido à natureza qualitativa e orientada para o futuro dessa prática, é possível alinhar expectativas e definir indicadores específicos com a liderança. Avaliar como elas influenciam as decisões estratégicas e os resultados do negócio são algumas das métricas que podem ser analisadas. A adaptação dos executivos a uma abordagem mais qualitativa também desempenha um papel importante na percepção e no valor das iniciativas relacionadas às tendências.
Neste caminho de adesão, evitar erros comuns facilita a trajetória. Ignorar o contexto de uso ao implementar inovações é um deles, pois importar soluções sem considerar o ambiente sociocultural e os atores envolvidos pode levar ao fracasso. Outro erro é o timing inadequado, pois lançar inovações antes do tempo certo pode ser prejudicial para a companhia, uma vez que corre o risco de não gerar engajamento.
Dessa forma, as empresas devem estar atentas ao momento ideal para a implementação, garantindo que estejam maduras para serem bem adotadas. Este é um processo que exige esforço, alinhamento e uma compreensão profunda do mercado e das pessoas. Ao conseguir definir uma abordagem bem estruturada, os negócios podem não apenas se preparar para o futuro, mas também liderar a inovação em seus setores, criando um diferencial competitivo sustentável e duradouro.
Marina Montenegro, Estrategista e Pesquisadora de Tendências Sênior na Rethink.