O hype do metaverso 

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Para as gerações não digitais, imaginar um emprego no metaverso pode ser distópico demais, chegando a lembrar cenas do filme "The Surrogates" (Substitutos, na versão em português). No filme de 2009, estrelado por Bruce Willis, temendo um surto de violência, as pessoas passaram a interagir socialmente no mundo físico a partir de avatares controlados por computador, enquanto ficavam dentro de casa controlando as experiências virtualmente. 

Este cenário pode parecer desanimador, caso tenha chances de se tornar realidade, mas a tecnologia encontra meios para produzir efeitos sociais positivos, ao passo que se apresenta como uma ferramenta de promoção da vida em sociedade. Logo, trabalhar na construção de um ambiente digital amplo e complexo, como o metaverso, faz parte do momento humano. 

Na prática, no caso do recrutamento de profissionais para empregos diretamente ligados ao metaverso, as iniciativas dos clientes ainda são tímidas. O grande volume de movimentação de profissionais solicitados pelo mercado tem sido alocado em projetos voltados ao ganho de eficiência nas rotinas e em inovação. 

Já o varejo tem experimentado iniciativas em tecnologias, como a realidade aumentada, o que se aproxima de uma experiência virtual, mas ainda não é o metaverso propriamente dito. A demanda de recrutamento de profissionais para o trabalho nessa nova realidade ainda depende de fatores tecnológicos e comportamentais. 

Felizmente, do ponto de vista da saúde social, ainda não dispomos de todos os recursos e prerrogativas para o estabelecimento do uso ostensivo do ambiente digital, como interações sinestésicas e cadeias completas de serviços, o que naturalmente se sobrepõe ao ritmo de mercado. Isso nos dá tempo de amadurecer o que se quer desta possibilidade. 

Assim, de forma pragmática, falar de uma transformação no curto prazo tem mais apelo do que meios de se tornar realidade. Em outras palavras, ainda é hype. 

Embora o mercado o tenha adotado como modelo inevitável, a realidade de uma experiência imersiva no metaverso depende de equipamentos acessíveis e um número de pessoas dispostas a passar muitas horas dedicadas a interações nessa linguagem. É fato que as tentativas de estabelecer este ambiente controlado ganharam um importante impulso nas últimas décadas com o aumento da capacidade computacional. Experiências como o Second Life já apontavam para esta tendência, mas não contavam com os recursos de transmissão e processamento de dados, além do potencial audiovisual e, de certa forma, até tátil, de hoje. 

Vivemos, sobretudo, diferenças geracionais em relação ao tempo de exposição a telas e a equipamentos audiovisuais, como fones e óculos 3D. O exército de profissionais entre os mais buscados para empreendimentos no metaverso é formado por pessoas que culturalmente ainda valorizam muito experiências no mundo físico. No entanto, as novas gerações têm se mostrado mais aderentes. Os equipamentos também têm evoluído para proporcionar uma experiência mais confortável em usos prolongados. 

Do ponto de vista da demanda imediata de mercado e com a experiência na gestão de mão de obra qualificada e estratégica para empresas de todos os portes, é improvável manejar as expectativas de empresários e profissionais para uma mudança tão abrangente que envolva relações de trabalho, entretenimento e consumo em curto prazo. Por outro lado, experiências integradas entre canais físicos e virtuais já permitem ao usuário uma ideia do que ele pode experienciar em um ambiente virtual consolidado. O metaverso, na prática, ainda é uma ferramenta do ecossistema híbrido que se forma a partir das preferências dos consumidores, usuários e profissionais. 

Gilberto Reis, diretor de operações da Runtalent. 

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