Muito já foi feito pelos governos latino-americanos para acelerar a adoção da tecnologia da informação e comunicação (ICT) e, consequentemente, ajudar os países a saírem mais fortalecidos da atual crise econômica mundial. Porém não podemos negar que ainda há muito trabalho a ser feito até que efetivamente as populações locais possam sentir os efeitos desses investimentos. Um dos principais pontos é o acesso da população à internet de qualidade.
A conexão de internet na América Latina é 10 vezes mais cara do que em países desenvolvidos, fazendo com que a penetração da banda larga não chegue a alcançar 5% da região. Essa estatística é válida mesmo para o Brasil que possui dimensões continentais, mas possui concentração de banda larga em poucas cidades.
Ao analisarmos as pequenas e médias empresas na América Latina, as estatísticas são ainda mais surpreendentes. Cerca de sete em cada dez pequenas e médias empresas da América Latina utilizam muito pouco ou nada de tecnologia da informação e comunicação. As oportunidades perdidas pela sua não utilização são imensas, pois a tecnologia permite o melhor controle do estoque, acesso a novos mercados e a expansão da cadeia de fornecedores, para dizer o mínimo.
Algumas ações dos governos regionais, no entanto, são prova da eficiência dos programas de incentivo: no Brasil, a eliminação de impostos locais nas assinaturas de banda larga para população de baixa renda em três estados do país, ocasionará a diminuição do preço do acesso à internet e resultará em aproximadamente 400 mil novas assinaturas por ano.
Já na Argentina, a presidente Cristina kirchner anunciou um investimento em educação que trará 250 mil laptops para o sistema público de educação. E o governo chileno anunciou que vai investir em WiMAX e deve implementar a conexão em 1.400 comunidades rurais, proporcionando o acesso à rede mundial. Ainda no Chile, um processo de compra de 46 mil netbooks para as escolas está em andamento.
Há um ano, os fundos de governo FUST (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) designados como fonte primária de financiamento de expansão de TI, eram aplicados a apenas dois países da América Latina: Colômbia e Chile. Mas graças aos esforços de organizações e empresas líderes em promover a tecnologia na região, como a Intel, atualmente são sete os países que financiam a TI com os fundos FUST. Todas essas atividades contribuíram para a diminuição da contração dos mercados e market share locais, para atenuar a atual falta de créditos para investimentos na região e definitivamente para ajudar a desenvolver a implementação da tecnologia na sociedade.
Mas o trabalho ainda está longe de terminar. Ações como a criação de empregos, a modernização da educação e a implementação de tecnologias de banda larga acessível a todos devem estar e se manter entre as prioridades dos governantes. No entanto, a iniciativa governamental da América Latina, especialmente dos países mais atingidos pela crise, deveria priorizar investimentos não somente de implementação de banda larga, mas também de ações que façam com que a internet chegue a todos os cidadãos a um preço acessível, permitindo o surgimento de cidadãos capacitados a usar TI para a própria instrução, garantindo a criação de trabalhos condizentes com o século XX e mais produtivos, além de uma cidadania ativa.
A visão que a tecnologia da informação pode minimizar os efeitos da crise econômica é válida e poderosa, ainda mais quando aliada ao fato que os investimentos em TI são benefícios duradouros e que trarão frutos no futuro. Investindo em tecnologia, os países da América Latina sairão da crise mais fortes e preparados para continuar competindo no mercado global. Além disso, a popularização da internet e os investimentos em TI ajudam a diminuir as diferenças sociais e melhorar a qualidade de vida dos mais de meio bilhão de habitantes da região.
*Cássio Tietê é Diretor de Marketing da Intel Brasil