A concepção de Cidade Inteligente é a resposta aos principais desafios da administração pública. O conceito, ainda pouco conhecido e disseminado em muitos países inclusive no Brasil, embasa iniciativas que visam melhorar a qualidade de vida, aumentar a eficiência dos serviços públicos, e com isso, ampliar a participação dos cidadãos, as condições de sustentabilidade meio-ambiental e fomentar novas oportunidades para as pessoas e empresas. Por meio do desenvolvimento de novos e avançados serviços apoiando-se no uso intensivo de tecnologias de vanguarda, a ideia é alcançar-se um gerenciamento eficiente dos recursos econômicos no planejamento, gestão e operação dos diferentes serviços municipais oferecidos aos cidadãos. Além disso, trata-se de uma oportunidade única de encontrar novos modelos de gestão e exploração, gerando uma economia significativa, imprescindível em um momento de recursos escassos.
Nas Cidades Inteligentes é o próprio cidadão que, com o apoio da tecnologia que está ao seu alcance, obtém e gere os serviços da cidade, acessando-os de forma proativa. A Tecnologia da Informação (TI), as ferramentas de gestão da informação, as redes sociais ou as tecnologias vinculadas à comunicação e a interatividade são as grandes viabilizadoras. As soluções disponíveis encontram-se em um estágio avançado e podem ser aplicadas na gestão mais inteligente e eficiente da mobilidade e transporte; das utilities e serviços urbanos; da segurança; serviços sociais, saúde e educação e para viabilizar as comunicações e redes de localização, identificação de pessoas, administração eletrônica, entre outras.
Embora de acordo com dados recentes divulgados pelo índice Brasil de Cidades Digitais (IBCD) do CPqD, o Brasil tenha registrado um aumento de 22% na digitalização dos municípios em relação a 2011, ainda é preciso investir para construir uma cidade inteligente.
No âmbito da mobilidade e transporte, questão crítica em algumas capitais brasileiras, existem sistemas que permitem gerir o serviço, potencializar sua eficácia e melhorar a qualidade frente aos usuários por meio da integração dos sistemas de gestão das frotas e das informações relacionadas aos passageiros e tarifas, por exemplo. Também podem ser incorporadas ao transporte tecnologias avançadas para o controle de acesso e emissão de passagens, como os sistemas de ticketing sem contato (contact-less) que permitem validar mediante radiofrequência o bilhete ou cartão somente ao aproximá-lo do leitor e ainda soluções de pagamento do bilhete por meio do celular. No Brasil, a cidade de Curitiba já incorporou inteligência ao seu sistema de transporte público. Avaliada pelo CPqD como uma das cidades de melhor desempenho em relação a digitalização de processos, implementou um sistema prioritário para ônibus, baseado em análises georreferencial da posição do veículo, capaz reduzir o tempos de percurso das linhas. A capital paranaense, que é referência internacional na gestão de tráfego urbano sustentável, também faz uso de uma solução de controle de tráfego para uma mobilidade mais sustentável.
Já no aspecto de segurança, ainda na América Latina, um exemplo é Buenos Aires, na Argentina, que implementou uma iniciativa pioneira na região: o CUCC (Centro Único de Coordenação e Controle de Emergências). A solução permite dar uma resposta integral e coordenada às situações de emergência e incidentes de segurança da cidade, direcionando e coordenando qual órgão deve agir dependendo da ocorrência e solicitando apoio se necessário de outros organismos e empresas com competência.
Além disso, exemplos notórios em todo mundo podem servir de inspiração para as cidades brasileiras. Sant Cugat é, juntamente com Bristol (Reino Unido), Leipzig (Alemanha) e Sofia (Bulgária), participante do projeto 3eHouses. Impulsionado pela Comunidade Europeia a iniciativa visa aprimorar a eficiência energética dos lares, reduzindo até 20% no consumo energético das residências e no consumo de água. Sant Cugat, também conta com a primeira rua inteligente integral da Catalunha, com sistema de estacionamento guiado, iluminação inteligente, gerenciamento de fluxos de tráfego, controle ambiental e de gestão de resíduos.
Iniciativas desse tipo demandam o desenho de uma estratégia capaz de representar efetivamente a ideia de cidade inteligente do futuro, enfocando integralmente as perspectivas e áreas chaves, tratando as necessidades peculiares de cada cidade e apresentando soluções para melhorar serviços fundamentais. A idealização da cidade inteligente deve contemplar desde o plano tecnológico até a gestão e integração da informação, além da definição de quais decisões serão automatizadas. Sem falar do plano de interação com os cidadãos, no que está relacionado à mobilidade e serviços urbanos, energia, meio ambiente, educação e segurança.
Enfim, as ferramentas tecnológicas a serviço da cidadania já estão disponíveis para atender à demanda cada vez mais urgente por melhoria dos serviços e do acesso a informação. Implementar estas soluções significa transformar o dia a dia dos cidadãos e administradores e, muito mais do que isso, converter os municípios brasileiros em cidades inteligentes, capazes de empregar na prática as tecnologias a serviço da sociedade.
José Antonio Fernández Ignacio, é diretor geral da Indra no Brasil