Em um mundo cada vez mais conectado, a transformação digital se torna essencial para os órgãos públicos brasileiros, haja vista que por meio dela é possível se alcançar uma administração eficiente e transparente. Essa transformação está voltada à incorporação de tecnologias da informação e comunicação (TICs) para revolucionar a interação entre cidadãos e governo, a fim de tornar a administração mais efetiva.
Entretanto, os obstáculos são elevados e variados. Incluem a resistência cultural de servidores e gestores, que muitas vezes consideram a tecnologia como uma ameaça ao status quo, ao invés de uma ferramenta que alia empoderamento e eficiência. As deficiências em infraestrutura tecnológica também são empecilhos, pois muitos órgãos ainda operam com sistemas desatualizados que não suportam novas soluções digitais. Já o letramento e a inclusão digital dos cidadãos apresentam-se como elementos que precisam ser observados no sentido de viabilizar ações que de fato possam ser assimiladas pela sociedade sem gerar barreiras de acesso. Adicionalmente, a necessidade de proteger dados e garantir a privacidade é indispensável, o que exige políticas robustas de segurança cibernética que alinhem práticas globais e capacidades locais.
Por outro lado, as oportunidades de transformação digital são vastas e promissoras. A implementação de soluções digitais pode agilizar os processos administrativos, melhorar a qualidade dos serviços públicos e democratizar o acesso à informação. A introdução do conceito de commons, preconizado por Elinor Ostrom, propõe que recursos naturais, culturais e intelectuais sejam acessíveis a todos, beneficiando a comunidade sem custo adicional. Este acesso universal fortalece a participação cívica e transforma os cidadãos em cocriadores de políticas públicas e soluções urbanas. Ferramentas como Big Data, inteligência artificial (IA) e Internet das Coisas (IoT) são fundamentais para impulsionar inovações focadas no bem-estar da população e estabelecer um novo paradigma de cidades inteligentes.
Desse modo, a transformação digital é uma jornada árdua e com múltiplos desdobramentos, mas essencial para o futuro dos serviços públicos no Brasil. Uma abordagem centrada no dado e na colaboração aberta pode acelerar esse processo, levando a uma governança pública mais eficaz, transparente e inclusiva. É imprescindível que líderes e decisores adotem políticas que incentivem a transformação digital por meio da integração de estratégias de dados e inovação aberta para explorar plenamente o potencial das tecnologias digitais. Convido todos a participar desta discussão transformadora, garantindo que o Brasil avance rumo a uma governança mais eficiente e inclusiva. Fica aqui a reflexão sobre como a transformação digital pode ser uma ponte para um Brasil menos desigual, onde a tecnologia otimiza os serviços públicos e, simultaneamente, também fomenta inclusão e equidade. Com as estratégias certas e um compromisso contínuo com a inovação, os órgãos públicos podem liderar o caminho de uma sociedade mais justa e eficiente. Ou seja, paradoxalmente, as análises necessitam ser menos tecnológicas e mais estratégicas: a lógica deve estar centrada nos cidadãos.
Jamile Sabatini Marques, Diretora de Inovação e Fomento da ABES.