As entidades defensoras da privacidade na internet aprovaram a decisão do Google de tornar anônimos os dados que o site recebe das buscas dos usuários. A empresa, que mantém as informações sobre buscas por tempo indefinido, deverá apagar os dados seus servidores até 2009, segundo informou a BBC nesta quinta-feira (15/3). "Esse é um progresso extremamente positivo", disse Ari Schwartz, diretor do Centro de Democracia e Tecnologia, órgão de fiscalização com sede nos Estados Unidos. "Esse é o tipo de coisa que estamos esperando há bastante tempo."
Em comunicado à imprensa, a empresa disse que ?ao tornar anônimos os dados dos servidores nos próximos 18 a 24 meses, acreditamos que estamos chegando ao ponto de equilíbrio entre duas metas: melhorar continuamente os serviços do Google para os usuários enquanto aumentamos nossa transparência e, certamente, nossas práticas de retenção".
O Google coleta e armazena dados de cada terminal ligado à rede. Informações como o termo da busca e o endereço de onde ela partiu (o endereço IP da cada computador) são guardados. Outros dados como a maneira que o usuário faz a busca, o histórico de buscas e o browser utilizado também vão para os relatórios da empresa. As informações podem conter dados pessoais dos usuários, além de permitir que se construa um perfil detalhado sobre o modo de vida virtual de cada um. A empresa afirma que utiliza tais informações para aprimorar seus diferentes serviços e monitorar o funcionamento do sistema de busca.
Peter Fleischer, do conselho europeu de privacidade do Google, afirmou que a decisão foi tomada depois de consultas aos grupos de privacidade dos EUA e Europa. "Acreditamos que a privacidade é uma das pedras fundamentais da confiança", disse ele, ao explicar que a empresa guardará informações até 2009, quando as leis de retenção passarão a valer na Europa. Os provedores europeus de internet e as companhias telefônicas estão em processo de implementação do acordo de cancelamento da retenção de dados até 2009.
O pesquisador da Universidade de Cambridge Richard Clayton, especializado em rastreamento na internet, acredita que a decisão é positivo, mas ressalta que ela não vai ao cerne da questão. "É um passo à frente, sem dúvida, mas gostaria que o período de ´limpeza´ fosse ainda menor." Clayton defende que os dados coletados são úteis para a empresa aprimorar serviços apenas no curto prazo. Para ele, o Google se escora na lei européia para que continue guardando as informações. O pesquisador acredita, no entanto, que a verdadeira razão para que o Google ainda não tenha apagado os dados são os custos que o processo envolve.
O Google afirma que os dados não podem ser acessados por computadores com um IP único. Mas Clayton afirma que uma recente pesquisa da AOL, divulgada no ano passado, mostrou que a identificação de usuários poderia ser feita também de máquinas sem um IP único. Ainda não está claro se outros sistemas de busca, como o Yahoo ou o MSN ? que não quiseram se pronunciar sobre o assunto ?, seguirão exemplo da empresa.
Apesar da decisão, os governos ainda poderão exigir que o Google, dono de 40% do mercado dos sistemas de busca, armazene os dados ou os divulguem para autoridades.