Conectar máquinas a máquinas, máquinas a pessoas e pessoas a pessoas. Este é o conceito de “internet das coisas” da Cisco que, segunda projeta, movimentará US$ 14,4 trilhões nos próximos dez anos, dos quais US$ 800 bilhões serão negociados apenas na América Latina. Os números foram apresentados durante o Cisco Tech Editors Conference, evento realizado esta semana em San Jose, na Califórnia.
Para o presidente desenvolvimento e vendas da Cisco, Rob Lloyd, as verticais que mais se beneficiarão desse conceito são manufatura, setor público, utilities, saúde, finanças, seguros, transporte e distribuição. “Hoje, 99,4% das coisas não estão conectadas e a próxima etapa da internet será conectá-las. Conectar pessoas a processos, a dados, a objetos”, explica. Para reforçar seu raciocínio, o executivo cita a existência de mais de 10 bilhões de dispositivos conectados e a projeção de que esse número salte para 50 bilhões em 2020. “Todos queremos transformar essa explosão de dados em informações”, ressalta.
Ele observa, porém, que para atingir essa meta é preciso atender às novas exigências, como alcançar atributos de segurança, agilidade, automação, dinâmica e ser programável. Diante disso, Lloyd diz que a Cisco tem investido em aquisições para expandir seu portfólio e poder atender essas demandas, sendo que desde o ano fiscal de 2012 comprou 13 empresas de software. Essa estratégia, segundo ele, será mantida neste ano, além de investir US$ 5,5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. Nos últimos cinco anos, a Cisco tem trabalhado com projetos pilotos de conectividade e planeja entregá-los até 2016, incluindo comunidades inteligentes e conectadas, energia conectada e indústrias conectadas, como veículos, defesa etc.
Oportunidades no Brasil
As oportunidades abertas pela internet das coisas também se estendem para países emergentes. O presidente e CEO da Cisco, John Chambers, destaca a evolução rápida da classe média na América Latina e os avanços obtidos nas áreas de saúde, educação e na expansão da banda larga. No caso específico do Brasil, ele diz que o país está nos planos de investimentos da companhia no médio e longo prazo, e faz parte das cinco principais nações emergentes onde haverá um foco agressivo nas relações institucionais e nas parcerias, junto com Índia, China, Rússia e México.
“Já fomos bem em nossos projetos no Brasil, mas acredito que podemos fazer mais”, declarou Chambers, destacando a necessidade de aumentar o compromisso da empresa com criação de empregos e aproveitar investimentos para os eventos esportivos que acontecerão no país para transformar as cidades. "Vamos dobrar nosso compromisso no país e usar o poder da Copa do Mundo e das Olímpiadas para ajudar em questões sociais. Temos o compromisso de manter a manufatura local e também desafiei minha equipe a se aproximar do governo", destacou.
Apesar dos desafios que o Brasil ainda enfrenta em relação a conectividade e a qualidade dos serviços de rede, Lloyd, que também é o executivo responsável pela operação da Cisco no país, está otimista com a evolução da banda larga e expansão das redes Wi-Fi locais. “Estamos muito ativos no Brasil e vemos progresso em termos de expansão da banda larga, conexão sem fio e acesso móvel”, destaca. “Temos mais largura de banda sendo desenvolvida pelas operadoras, mas isso é uma jornada”, completa.
Uma comprovação desse otimismo é o anúncio da inauguração pela empresa, prevista para junho, de um centro de inovação no Rio de Janeiro, para simulação de processos com o uso de tecnologias da Cisco. Lloyd destaca que, para fomentar os negócios no Brasil, é importante formar parcerias locais, sendo que o centro de inovação terá um papel preponderante para isso. “Nosso plano é entregar o centro em conjunto com nossos parceiros. Queremos trazê-los para mostrar como podemos transformar a assistência médica, educação, energia, controle de processos, transporte e principalmente entretenimento e esporte. Isso atrairá mais empresas para investir no país”, acredita.
De acordo com Lloyd, a Cisco está finalizando alguns projetos de estádios conectados no país para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, embora não revele nomes. Há ainda outras áreas no Brasil que, segundo o executivo, visam expandir a educação e direcionar o crescimento econômico para manufatura e inovação. “No último ano, a Cisco passou a ter uma linha de produção no país e expandimos nosso portfólio. Na nossa visão, o Brasil será um hub da América Latina”, ressaltou.
Aplicações de ponta
Durante a conferência em San Jose, a Cisco apresentou alguns casos de aplicações que podem impulsionar as áreas de saúde e educação, principalmente em mercados emergentes. Um deles foi o projeto de telemedicina implantado em maio de 2012 no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. O projeto, no qual foram investidos R$ 1,5 milhão, já beneficiou cerca de 70 pacientes. Kathy English, diretora de marketing para o setor público da Cisco, destacou que muitos hospitais pequenos no Brasil país estão começando a usar essa tecnologia. Ela explica que, com o software de telepresença, por exemplo, são usados os próprios dispositivos de vídeo já existentes no hospital, o que gera uma economia porque não há necessidade de compra de hardware.
O projeto destaca o uso do conceito de internet das coisas para trazer benefícios sociais a comunidades. Reforçando a importância da América Latina, que responde por cerca de 10% das vendas da Cisco, número que deve dobrar nos próximos três ou quatro anos, o vice-presidente sênior da companhia para a região, Jordi Botifoll, ressalta que os países devem aproveitar a conectividade para aperfeiçoar a infraestrutura, desenvolver aplicações na nuvem e, assim, tornarem-se mais competitivos.
“Vemos grande distância em áreas como educação e saúde nos países da América Latina na comparação com os Estados Unidos e países da Europa. Queremos usar a tecnologia para o desenvolvimento social nesses países, que devem aproveitar esse momento para fazer investimentos e melhorar os negócios”, pontua.
* A jornalista viajou aos Estados Unidos a convite da empresa.