Não podemos negar que a América Latina é um dos mercados mais promissores para o segmento de e-commerce. Para se ter uma ideia, um levantamento recente do eMarketer/ Insider Intelligence mostra que as vendas por meio dessa categoria devem atingir US$ 200 bilhões na região até 2026. Além disso, o Brasil é considerado um dos principais mercados, com um estudo da PagSeguro apontando que a movimentação esperada no país para daqui a dois anos é de R$ 435 bilhões. Há também o dado da E-commerce and Payment Landscape in Latin America, que mostrou que essa foi a localidade onde as vendas do varejo online mais cresceram em 2023.
Para termos uma ideia dessa última informação, foi um aumento de 30%, contra 14% nos Estados Unidos e 12% na Europa, mercados de igual importância. Tudo isso acontece por conta de diversos fatores, sendo eles a crescente penetração da internet, o aumento da conectividade móvel e o surgimento de uma classe média digitalmente ativa. Para reforçar esses pontos, temos o levantamento da SmC+ Digital Public Affairs, que projeta que a América Latina deve ter 134 milhões de assinantes de banda larga em 2027. Somado a isso, uma outra pesquisa, desta vez feita pela GSMA, aponta o sucesso do mobile no continente, prevendo que 74% da população terá o celular como único acesso à internet até o ano que vem.
Dessa maneira, como o varejista da região pode explorar todo o potencial do seu e-commerce? Um ponto de extrema importância e que praticamente dita as regras atualmente são os métodos de pagamento, principalmente os alternativos, algo que é lei na América Latina. Recentemente, o estudo Global Payments Report 2024, da Worldpay, apontou que a região é líder mundial na utilização dos chamados A2As (Account-to-Account – Conta-a-Conta, na tradução livre), método no qual o dinheiro é transferido instantaneamente para a conta do favorecido. Tanto isso é verdade que 20% das operações do comércio eletrônico do último ano no continente foram por meio dessa categoria, que tem projeção de chegar a 29% em 2027.
Esse sucesso se deve praticamente à popularidade do Pix por aqui, já que essa opção praticamente revolucionou a forma de se transacionar dinheiro na região, transformando o Brasil no país da América Latina que mais utiliza A2A, com 30% do total das operações acontecendo aqui. No entanto, outros países do continente também estão começando a criar soluções parecidas com o método brasileiro favorito, como a Colômbia, em que 25% das transferências online acontecem por meio da solução PSE, e o Peru, com 20% delas ocorrendo por plataformas como Yape e PLIN. Isso só mostra a tendência desse segmento e como que o investimento em tecnologias desse mercado só vêm a calhar para as empresas de e-commerce.
Outro método de pagamento alternativo e de bastante sucesso por aqui são as carteiras digitais, com 21% das compras no e-commerce acontecendo por meio delas, de acordo com o mesmo estudo da Worldpay. Para 2027, a previsão é que a porcentagem aumente para 28%. Além disso, um estudo atual da Morning Consult mostrou que o Brasil é um dos países que mais utilizam essa opção no mundo, ficando apenas atrás da China, Índia e Alemanha. Em se tratando de projeções, levantamento da Juniper Research aponta que essa modalidade pode ultrapassar US$ 16 trilhões em 2028, o que só reforça a sua importância e relevância para o mercado. O segredo para tamanha adoção também se dá por conta da praticidade, já que os pagamentos podem ser feitos por diferentes dispositivos como celular, relógios inteligentes e tablets.
Engana-se, porém, quem pensa que pessoas fora do sistema bancário não conseguem fazer compras online. De acordo com o Beyond Borders 2024, 9% das compras na América Latina são por meio de métodos cash-based. Nesse modelo, o consumidor faz sua compra pelo ambiente online normalmente. Porém, na hora de fazer o pagamento, ele recebe um voucher para pagamento em uma loja física, sendo a maioria dessas transações feitas em dinheiro em papel. Após a confirmação do pagamento, as informações são encaminhadas para o varejista online, que então libera o produto. Vale reforçar que mesmo com o advento da tecnologia e os planos dos comércios em operarem de forma 100% digital, dados do Banco Central do final de 2023 mostram que há ainda mais de R$ 327 bilhões circulando pelo país.
Saindo um pouco de pagamentos, a adoção de ferramentas de SaaS (Software as a Service) e Computação em Nuvem também são pontos-chave. Um estudo da NTT DATA e da MIT Technology Review aponta que 57% das empresas da região enxergam um aumento de 75% a 100% nos serviços em nuvem, sendo que quase 100% delas já iniciou, de certa forma, a jornada de migração para esse modelo. Em se tratando de e-commerce, o cloud computing pode ser útil por ter baixo custo inicial, já que não exige a compra e manutenção de uma infraestrutura robusta de TI para guardar seus dados. Além disso, os sites de comércio eletrônico conseguem alcançar clientes em diferentes países quando há uma infraestrutura completa distribuída globalmente.
Criadores de conteúdo também têm grande influência nas compras online realizadas na região. O levantamento E-Commerce Trends 2024 mostra que 41% dos consumidores virtuais já adquiriram algo por ter seguido recomendação de algum influenciador digital. Em se tratando de perfil de público que compra seguindo as celebridades digitais, a maioria são mulheres jovens da geração Z, que é mais adepta das novidades tecnológicas. Com isso, é seguro dizer que parcerias com esses profissionais de mídia tendem a trazer bons resultados para a marca, aumentando sua visibilidade junto ao público final e também sua confiança. No entanto, é necessário um estudo minucioso para checar se o perfil é compatível com o varejista e se sua reputação é boa.
Dessa forma, podemos concluir que uma estratégia bem-sucedida de expansão na América Latina deve ser multifacetada, abraçando as tendências digitais únicas da região, os comportamentos do consumidor e as preferências de pagamento. Ao compreender e adaptar-se a esses aspectos, as empresas podem desbloquear todo o potencial do mercado latino-americano de e-commerce.
Nathan Marion, gerente geral da Yuno.