Bancarização no Brasil: dos correspondentes às fintechs

0

Entre os anos de 2000 e 2003, o Banco Central criou as resoluções que deram origem a figura do Correspondente Bancário, que tinha como principal objetivo "promover a inclusão financeira". Na década seguinte, enquanto a quantidade de agências bancárias se manteve relativamente estável, o volume Correspondentes cresceu consideravelmente atingindo cerca de 160 mil pontos em 2012.

grafico3
(Fonte: FEBRABAN: 2012)

Apesar disso, segundo o Instituto Data Popular, o volume atual de sub-bancarizados e desbancarizados ainda é de 55 milhões de brasileiros (a maioria no Nordeste), o que equivale a 39,5% da população acima de 18 anos. Logo, vale a pergunta: os correspondentes bancários realmente promoveram a inclusão financeira no Brasil ? Esse é o título da pesquisa publicada pela Bankable Frontier Associates com apoio da Melinda & Gates Foundation em novembro de 2013.

A pesquisa destaca que, com a expansão das redes de correspondentes, a barreira da distância foi amplamente superada. Hoje, a maioria dos brasileiros vive distante no máximo 5 km de um posto bancário. E ainda, menciona que os brasileiros usam os correspondentes intensamente para pagar contas, a partir da evidência que 67% dos lares pagam pelo menos 1 conta por mês em um correspondente.

Por outro lado, apenas um percentual reduzido dos brasileiros usam os correspondentes para serviços financeiros de maior envolvimento, como as transações bancárias e os empréstimos. Apenas 4% dos entrevistados bancarizados abriram sua conta em um correspondente, e ainda, somente 12% fazem saques e 9% depósitos em correspondentes.

Entre as principais conclusões, a pesquisa destaca que "os Bancos desperdiçaram a oportunidade de aproveitar as interações regulares dos clientes com os correspondentes para estender a inclusão financeira através de outros produtos, como a conta corrente".

Somado a esses fatores, de 2013 até os dias atuais, houve um aumento sem precedentes das tarifas bancárias com o objetivo de compensar as perdas com as atividades de crédito e tesouraria devido a recessão. Segundo a Proteste, entre 2013 e 2015, as tarifas subiram 169%. Hoje, o custo para ter uma conta em um dos grandes Banco pode superar tranquilamente 1 salário mínimo no ano.

Com isso e com o cenário de recessivo, a bancarização através da conta corrente tradicional tornou-se ainda mais difícil (até para quem tem conta está mais difícil manter).

Porém, duas mudanças recentes podem ajudar a reverter esse cenário: a primeira é a lei dos arranjos e instituições de pagamento (Lei 12.865/2013) que, mais uma vez, tem como objetivo "promover a inclusão financeira" e dá segurança jurídica para criação de novos modelos de conta. E o segundo é a grande penetração dos smartphones. Em 2015, pela primeira vez mais de 90% dos celulares vendidos foram smartphones e o Brasil chegou a uma base de 168 milhões de smartphones em uso.

Diante deste cenário, decidimos iniciar um novo projeto no segmento. Depois de ter construído o primeiro Banco brasileiro focado exclusivamente em redes de Correspondentes, adquirido pelo Banco do Brasil em 2009, e de acompanhar cases de sucesso de mobile money e de ewallets em outros mercados emergentes, como M-PESA, no Quênia, e Paytm, na Índia, lançamos o Celcoin.

Com o Celcoin, o usuário pode transformar seu celular em uma conta digital sem custo em alguns segundos e começar a pagar contas de consumo, fazer recargas, depósitos, saques, e ainda, transferências e pagamentos para qualquer outro celular, inclusive para quem ainda não tem Celcoin.

Nossa principal motivação (ainda) é democratizar o acesso e melhorar a qualidade dos serviços financeiros através da tecnologia. Depois de alguns meses de lançamento e pouco mais de 40 mil usuários, já foi possível confirmar a demanda dos desbancarizados e também perceber a necessidade de outros segmentos, especialmente jovens, por mais conveniência e menos custo.

Esperamos que essa nova jornada possa contribuir para resolver de forma definitiva a questão da inclusão financeira no Brasil e trazer todos os benefícios relacionados a ela.

Marcelo França, sócio-fundador e CEO do Celcoin. Tem MBA em Finanças pelo IBMEC-RJ, Doutorado em Inteligência Artificial pela PUC-RJ, e era Head de Soluções do Lemon Bank. O Celcoin foi criado com recursos dos próprios fundadores. Além de Marcelo, também investiram no projeto Michael Esrubilsky, um dos fundadores da corretora Patagon e ex-CEO do Lemon Bank, e Wences Casares, empreendedor do Vale do Silício, CEO da carteira virtual de bitcoin Xapo e membro do board do Paypal.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.