Investimentos cada vez mais criteriosos e analíticos: Qual o futuro das startups no Brasil?

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Nos últimos dias, observamos diversas notícias sobre a redução no valor de investimentos direcionados às startups. De acordo com o hub de inovação Distrito, as startups brasileiras captaram US? 298,5 milhões em maio deste ano, queda de 60% em relação a 2021. Se nos atentarmos apenas aos números, de fato, podemos chegar à conclusão equivocada de que há menos dinheiro no mercado, o que está longe de ser verdade.  

Os dados acima refletem o cenário econômico global de inflação e alta de juros, que vêm afetando o apetite dos investidores. Contudo, depois de um ano com grande volume de investimentos, estamos vivendo um período de ajustes, por prazo indeterminado, decorrente das condições de mercado. É fundamental ressaltar que a baixa que vemos não é falta de dinheiro, e sim, um processo de investimento mais analítico e criterioso. 

A meu ver, o cenário de queda no volume de aportes é resultado de um fenômeno global que envolve startups e grandes empresas de todo o mundo. Diferente do que vimos no ano passado, os investimentos têm sido bem mais criteriosos. Hoje, o investidor quer mais do que apenas alocar recursos. As empresas que buscam investimentos devem ter muito mais do que uma "boa ideia". Penso que as startups que já têm o negócio bem estruturado, com uma solução que de fato resolva problemas reais e que tenha um bom time envolvido, dificilmente encontrarão dificuldades em captar.  

Obviamente, neste cenário, as empresas que buscam as primeiras rodadas de captação encontrarão mais dificuldade, visto que por vezes há muito a ser desenvolvido nesta fase. Visto isso, penso que os investimentos anjos e as rodadas Seed tendem a ficar cada vez mais competitivas. Cabe aos empreendedores, que estão dando início aos seus negócios, se destacarem frente aos concorrentes.  

Este é um dilema que acredito não chegar às empresas já conhecidas dos investidores, aquelas que já passaram do Series A. Estas, muitas vezes, já mostraram seu valor ao mercado, têm planejamentos financeiros bem estabelecidos e uma cultura organizacional consolidada ou em vias de se consolidar. Empresas como essas não devem passar despercebidas pelo mercado de investimentos.  

Para os investidores 

Com processos mais criteriosos, investir em startups tem se tornado cada vez mais complexo. A normalização das políticas monetárias dos bancos centrais das principais economias para combater a inflação, além de conflitos geopolíticos e sanções, têm feito com que investidores se tornem muito mais analíticos, especialmente no Brasil. Isso, no longo prazo, é bastante benéfico para todo o ecossistema. 

Nesse ambiente repleto de incertezas e complexidades é extremamente importante não apenas para quem investe, mas também para empreendedores compreender o que de fato está interferindo no número de investimentos direcionados às startups. Atualmente é sabido que 90% das startups falham, sendo que apenas 10% delas conquistam o sucesso. O motivo da taxa de mortalidade de startups ser tão alta está, de certa forma, se refletindo na quantidade de investimento. Ou seja, quanto menos inovadoras e preparadas forem essas novas empresas, menor será o número de aplicações e, consequentemente, maior os casos de falha.  

Estruturar e fortalecer os pilares essenciais e, dessa forma, preparar as startups para as rodadas de investimento, gerar conexão com novos negócios e clientes e ter boa gestão financeira, são alguns dos pontos que precisam ser fortalecidos para que as empresas recebam mais investidores. Além disso, criar soluções que o mercado esteja necessitando, ou seja, um modelo de negócio estruturado e com potencial para atrair a captação de recursos, bem como parcerias e alianças estratégicas, não podem ser esquecidos. 

Para diminuir os riscos e responsabilidades, os investidores têm como opção a fusão e aquisição de uma outra entidade que agregue valor ao seu empreendimento. São elas entidades que apoiam startups, que tenham fundadores com grandes ideias e, principalmente, consolidadas. 

Investir em startups não é simplesmente fazer transferência de capital. É necessário saber identificar as oportunidades, munir-se de informações para minimizar os riscos e ter o conhecimento necessário para acompanhar a evolução do negócio até receber o retorno do capital pelo exit — a venda da participação de forma valorizada. E lembrem-se que a crise pode afetar negócios que pareciam sólidos, mas não eram. Por conta disso, os investimentos analíticos e criteriosos tendem a ser cada vez mais comuns, mas de forma alguma deixaram de existir. 

Fernando Castro, cofundador e CEO da Unicorn Factory. 

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