A economia é um sistema complexo, dinâmico e adaptável, capaz de superar adversidades como guerras, pandemias e crises políticas. Essa resiliência também a transforma em um dos pilares mais receptivos a inovações tecnológicas a nível global. É nesse ambiente que a tokenização ganha cada vez mais relevância e se destaca ao permitir a digitalização e fracionamento de ativos, com potencial de democratizar o acesso a investimentos e créditos antes restritos a uma pequena parcela da população, além de diversos benefícios e possibilidades.
Na prática, a economia tokenizada envolve a transformação de ativos físicos ou financeiros em tokens, representações digitais registradas em blockchain — tecnologia que cria uma sequência de blocos de dados interligados e protegidos por criptografia, o que garante a imutabilidade, segurança e transparência em todas as transações.
A tokenização cria novas possibilidades e redefine parâmetros e conceitos importantes, tais como propriedade e valor, viabilizando novas ofertas e funcionalidades. A lista do que pode ser convertido em token é infinita e inclui royalties de músicas, imóveis, créditos de carbono, obras de arte e investimentos. Fracionar esses ativos garante que mais pessoas tenham acesso a uma cota de um produto, serviço ou bem de consumo antes inacessíveis pelo alto custo.
No Brasil, a tokenização tem a chancela do Banco Central por meio do Piloto Drex, moeda digitalizada do BC, e está sendo incorporada gradualmente por grandes instituições, ainda em formato experimental. O próprio Banco Central é um dos adeptos a inovação, trazendo diversas iniciativas para modernizar o Sistema Financeiro Nacional junto ao Drex, como PIX e o Open Finance.
Alguns bancos, casas de câmbio e startups do ecossistema adotam a tokenização para envio de remessas internacionais de moeda e até para facilitar a jornada de financiamento do cliente, como faz o banco BV, que realiza testes em ambientes simulados para a transferência e pagamento de veículos de forma segura e mais ágil.
Por aqui, essa agenda de inovação no ecossistema financeiro deve avançar junto ao Drex, moeda digitalizada do Banco Central, permitindo a programabilidade do dinheiro.
Algumas das maiores companhias do mundo com capital aberto já utilizam a tecnologia de blockchain. Gigantes como Amazon e Walmart incorporaram este processo para otimizar a rastreabilidade e a segurança de suas cadeias logísticas. Já a Visa e a Mastercard estão protagonizando diversos projetos envolvendo diferentes criptoativos e redes blockchains para transformar a jornada de pagamento que conhecemos.
O interesse das grandes companhias pelo tema dá uma dimensão de que podemos esperar avanços notáveis nos próximos anos. A tokenização deve transformar a essência do que compreendemos como sociedade e economia, eliminando a barreira entre o material e o digital.
Ricardo Sanfelice, Diretor executivo de Clientes, Produtos e Inovação do banco BV.