Por muito tempo conservei uma visão bem limitada sobre a tecnologia. Enquanto menina preta e de escola pública, via o universo de TI como algo muito distante da minha realidade. Os softwares, sistemas, códigos e algoritmos me soavam complexos demais. E nas propagandas relacionadas notava um cenário extremamente homogêneo, sem pessoas negras. Então, sempre que o assunto envolvia tecnologia, antes mesmo de saber o contexto, automaticamente associava a algo que estava fora do meu alcance.
Os anos se passaram, e sendo uma exceção à regra, passei a compor a diretoria da organização social Embaixadores da Educação. Estar nessa posição me permitiu um olhar diferente sobre inúmeras situações e com a tecnologia não foi diferente. Quando falávamos de impacto em escala, lá estava ela, sendo uma das principais precursoras. A tecnologia vai além de ferramentas complexas. É algo muito mais abrangente, que envolve técnicas, processos, metodologias, experimentação e sistemas. Por meio dela, possibilitamos aos estudantes de escolas públicas uma experiência diferente, para que desenvolvam soluções para os desafios que a nossa sociedade enfrenta e eles também. Fazemos isso por meio de um de nossos programas, o Empower. Sem dúvida as oportunidades podem transformar a jornada de um jovem de escola pública, como é o caso do Empower.
Um outro ponto que observo é o quão vasta é a área de tecnologia da informação, assim como as suas oportunidades. É interessante compartilhar que por meio da parceria dos Embaixadores com a ONG Meu Futuro Digital, fui apresentada a um cenário de iniciativas que querem aproximar os jovens do universo de TI. O propósito é promover um crescimento exponencial do mercado de profissionais de TI brasileiro, por meio de ações de impacto com estudantes da rede pública.
Além disso, pude notar que pautas importantíssimas, como a falta de representatividade de negros e mulheres na tecnologia, estão começando a ganhar força. E essas iniciativas são a ponte para possibilitar a capacitação e inserção de milhares de jovens talentos. Eu precisei estar hoje numa posição social privilegiada para ter acesso ao conhecimento dessa gama de oportunidades.
Minha posição hoje é sinônimo de privilégio e refletindo sobre minha jornada, a menina preta, aluna de escola pública que não se via em diversos lugares, continuaria não se vendo, se a história não tivesse tomado um rumo diferente. Estando hoje em um lugar de exceção, sigo na esperança para que um dia isso se torne a regra.
Polyane Costa, administradora, empreendedora social, co-fundadora e diretora de operações da organização social Embaixadores da Educação.