Houve um tempo em que, para alugar um filme, precisávamos ir à locadora. Se era lançamento, então, só reservando. Essa dinâmica também se aplicava a um show que alguém queria ir muito: era necessário aguardar horas na fila para comprar aquele ingresso físico. E para saber as notícias, tínhamos que esperar o jornal do dia seguinte, entregue na portaria às 5h da manhã – isso quando não íamos à banca da esquina. A mesma lógica se aplicava na hora de comprar um seguro: o cliente precisava ir presencialmente a um escritório, falar com um corretor, assinar uns papéis e, dali a alguns dias, a apólice estaria valendo. Esse tempo foi há alguns anos atrás – sabemos bem disso.
O mundo girou rapidamente com essa aceleração digital que estamos testemunhando. O mercado de insurtechs não para de avançar. De acordo com um estudo da Grand View Research, esse segmento deve crescer 52,7% anualmente, entre 2023 e 2030, e atingir o faturamento de US$ 152,43 milhões nesse período. São números exorbitantes.
Mas aí, eu pergunto: deixamos de ir ao cinema de rua ou de shopping por causa dos streamings? Os vinis não voltaram a ser uma febre entre colecionadores e amantes de música? Práticas de décadas atrás não se tornaram obsoletas, mas foram reconfiguradas à economia do século 21, que migrou para o digital. E o mesmo pode ser dito sobre a figura do corretor de seguros, que é muito importante para a nossa indústria e, cada vez mais, passa a conviver com novos formatos e perfis de consumidor – inclusive, aquele que prefere fechar tudo por conta própria, usando um aplicativo no smartphone.
Essas belezas são complementares e podem coexistir em harmonia. Não é porque o Airbnb foi transformador que os viajantes deixam de consultar hotéis ou mesmo os agentes de viagens. Há momentos e espaço para cada uma dessas experiências. E esse "menu" de possibilidades só tende a aumentar. Nesse cenário, talvez o único perfil que possa cair no ostracismo é aquele purista, justo por não conseguir dialogar com outras oportunidades.
Antes de escrever esse artigo, reli algumas pesquisas que havia compilado e tive uma boa surpresa. Segundo um estudo do SNS Insider, o segmento de insurtechs deve atingir a marca de U$ 378 bilhões (valor projetado) até 2032, apresentando uma Taxa Composta de Crescimento Anual (CAGR) de 53,03% entre 2024 e 2032. E esse boom será impulsionado pelo crescente uso de IA nos negócios. Ou seja, está a mil por hora.
E eis a surpresa: não é só o digital que avança. Um levantamento da Susep revela que o setor de seguros como um todo decolou no primeiro trimestre de 2024, com um incremento de 13,7%, arrecadando R$ 102,95 bilhões entre janeiro e março. Ou seja, notamos uma melhoria de todas as frentes – sem estarmos restritos ao online ou ao físico.
O que podemos tirar de conclusão desses dados apresentados anteriormente é que: nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Não estamos aqui para sepultar o jornal impresso, tampouco vamos condenar as notícias na web por causa das fake news. Há oportunidades igualmente valiosas no físico e no virtual e, sabendo equilibrá-las e preservando nosso senso crítico, podemos desfrutar do que há de melhor em cada uma delas.
Reinaldo Aguimar, co-fundador e COO da OON Seguradora.