Outubro Rosa e Cibersegurança: um chamado para mais mulheres na linha de frente

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Outubro é um mês de reflexão. Não apenas pela campanha do Outubro Rosa, que nos lembra da importância da prevenção e conscientização sobre o câncer de mama, mas também por outro motivo fundamental: o mês da Cibersegurança. Como mulher profissional de cibersegurança, que ocupou o caminho até um cargo sênior em um setor predominantemente masculino, quero compartilhar a relevância desses dois temas e como eles se conectam.

Crescimento no setor, mas a inclusão ainda é lenta

Segundo uma recente pesquisa do LinkedIn, o setor de cibersegurança no Brasil cresceu notavelmente entre maio de 2023 e maio de 2024, com um aumento de 4,5% no número de profissionais da área. Esse é um reflexo positivo da importância crescente de proteger dados e infraestruturas digitais em nosso país, especialmente diante das ameaças cibernéticas cada vez mais sofisticadas. Mas, quando olhamos para a participação feminina, percebemos que há ainda muito a ser feito.

Mesmo com o crescimento de 4,45% na participação das mulheres em cibersegurança no Brasil — o maior aumento global — a realidade ainda é que apenas 7% dos profissionais brasileiros na área são mulheres. Esse número está abaixo da média global, que é de 11%. Embora eu me sinta parte dessa estatística de avanço, é inegável que o caminho para a equidade de gênero no setor ainda é árduo.

O desafio da representatividade feminina

Ser uma mulher em segurança da informação é, muitas vezes, estar em um ambiente onde você é a única ou uma das poucas. Globalmente, as mulheres são menos de um terço da força de trabalho nesse segmento, e as estatísticas são ainda mais alarmantes quando olhamos para cargos de liderança: apenas 1% das mulheres ocupam posições C-level em cibersegurança no mundo. Na América Latina, essa desigualdade é ainda mais acentuada. Homens têm quatro vezes mais chances de alcançar cargos de direção ou C-level do que nós, mulheres.

Esses números reforçam uma verdade que todas conhecemos: para as mulheres, alcançar o topo da hierarquia nesse setor não só requer competência e dedicação, mas também uma enorme resiliência.

Não quero aqui entrar em uma guerra de gêneros, pelo contrário, está mais do que provado que a diversidade só traz benefícios em todas as áreas. Todos podem apresentar suas capacidades, buscar suas oportunidades. O que estou escrevendo aqui é que as mulheres precisam de mais chances e que mais portas sejam abertas para que elas possam mostrar suas qualidades.

Desigualdade também nos salários

E não é apenas uma questão de representação. A disparidade salarial entre homens e mulheres na cibersegurança persiste. Em cargos C-level, os homens ganham, em média, 3% a mais do que as mulheres. Para posições de gerência, essa diferença é de 4%, e em funções não-líderes chega a 6%. Infelizmente, essa disparidade salarial cresceu nos últimos anos, destacando a necessidade urgente de ações para reduzir essa diferença.

Como mulher em cibersegurança, entendo a importância de visibilidade e apoio. Para cada jovem mulher que considera ingressar nessa área, é fundamental que ela encontre exemplos e mentoras que demonstrem que, apesar dos desafios, o sucesso é possível e recompensador. O Outubro Rosa, com sua mensagem de resiliência e cuidado, serve como uma poderosa metáfora para nossa luta na cibersegurança: precisamos estar vigilantes, tanto na proteção dos sistemas digitais quanto na construção de uma carreira justa e inclusiva para todas as mulheres.

Ao mesmo tempo que discutimos sobre a conscientização do câncer de mama, a importância em que os homens também incentivem as mulheres que fazem parte de sua vida a fazerem os exames, precisamos falar sobre conscientização em termos de inclusão e igualdade na cibersegurança. Esse é o momento ideal para unir forças e criar mais oportunidades para mulheres no setor. Encorajo minhas colegas e líderes de organizações a abraçarem essa causa, investindo em capacitação, mentorias e iniciativas que promovam a diversidade no ambiente de trabalho.

Jornada de empoderamento

Eu sou prova de que podemos fazer a diferença. Mas não podemos fazer isso sozinhas. Precisamos que empresas, líderes e a sociedade como um todo reconheçam a importância de mais diversidade em cibersegurança — não apenas como uma questão de justiça, mas como uma necessidade estratégica. Afinal, como podemos defender sistemas contra ameaças multifacetadas sem perspectivas diversas na linha de frente?

Este Outubro, acho importante falarmos não só sobre saúde física, mas também sobre saúde de nossas carreiras e da cibersegurança como um todo. Para que, no futuro, possamos dizer que fizemos parte de uma transformação significativa, onde as mulheres não são apenas participantes, mas líderes ativas nesse campo crucial.

Isabel Silva, Security Business Development Director da Add Value.

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