Por que a tokenização de imóveis é a próxima fronteira do universo cripto?

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O mercado imobiliário é tão importante que serve como um termômetro do desempenho econômico de um país. Quando esse setor cresce, é sinal de que as pessoas têm condições de fazer investimentos do tipo; quando cai, a recessão é inevitável. O mesmo acontece em outras questões. A necessidade da desburocratização, da transparência nas transações e da busca por soluções inovadoras costuma se refletir nessa área antes de se propagar pelo restante da sociedade. Não à toa, o universo das criptomoedas conta com a popularização da tokenização de imóveis para consolidar sua posição no cenário brasileiro.

A importância passa pelo tamanho do mercado. Os imóveis representam a maior classe de ativos do mundo, com um valor global estimado em mais de US$ 225 trilhões. Somente no Brasil, o índice de intenção de compra é de 29% para os próximos dois anos, mesmo com a economia instável no país, segundo pesquisa da Datastore. Entretanto, os desafios também são enormes: o relatório Doing Business, do Banco Mundial, coloca o Brasil apenas na 133ª posição dos países com maior facilidade de fazer negócios e de proteger os direitos de propriedade. Uma transação simples de registro de algum bem imóvel exige até 14 procedimentos por aqui, índice bem superior à média de 4,7 das nações integrantes da OCDE.

Os dados mostram que se trata de um setor que, apesar de já ter um grande volume financeiro, tem enorme potencial inexplorado no Brasil justamente por conta de entraves administrativos, legais, políticos, entre outros. Torna-se necessário, portanto, encontrar alternativas que resolvam esses problemas, possibilitando que este mercado possa impactar positivamente o desempenho econômico do país. É justamente nesse ponto que as criptomoedas, ou melhor, a tecnologia por trás delas surge como opção. O blockchain permite tokenizar ativos imobiliários, isto é, criar códigos criptografados que oferecem maior segurança e celeridade aos negócios.

A utilização de tokens na compra e venda de imóveis resolve dois dos principais desafios do setor. O primeiro deles é a própria burocratização. Com o blockchain, é possível migrar toda a certificação de documentos para o ambiente digital, reduzindo de forma significativa o tempo necessário para esse trâmite. Isso ocorre pela própria característica da tecnologia, em que as informações são divididas em blocos e validadas por diferentes atores presentes neste ecossistema, formando ao fim a corrente de blocos que totaliza a informação completa (seja ela um contrato, um documento, uma transação financeira ou qualquer dado digital). Assim, é possível combinar velocidade com segurança e transparência no processo. O assunto já está em discussão no país com o projeto de Lei 2.876/20, em trâmite no Senado.

A desburocratização no processo, por sua vez, resolve o segundo obstáculo que atrapalha o setor imobiliário: a baixa liquidez dos ativos. A dificuldade para comprar e vender imóveis faz com que investidores pensem bastante antes de realizarem essa operação – além de envolver valores que afastam grande parte da população brasileira. A tokenização permite que um empreendimento possa negociar "partes digitais" de um imóvel, permitindo que mais pessoas possam adquirir e fazer este aporte. É diferente, por exemplo, dos fundos imobiliários, que são mais caros e restritos a investidores qualificados. Com a tokenização, é possível investir valores como R$ 10 ou R$ 20 em troca de tokens de ativos imobiliários.

Evidentemente essa transformação não ocorre da noite para o dia – tampouco deve ser realizada às pressas. Se as criptomoedas se destacam pela descentralização e desregulação, o uso de tokens no mercado de imóveis exige um suporte legal para garantir que as transações sejam realmente seguras. Em todo caso, é um caminho sem volta: a partir do momento que os investidores descobrirem as vantagens deste método de negócio, seu uso vai ser questão de tempo nestas operações. Com a transformação digital em pauta de governos, empresas e sociedade civil, buscar ferramentas que inovem e desburocratizem o setor ocupam espaço prioritário na estratégia de crescimento econômico.

Rubens Neistein, business manager da CoinPayments.

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