No mundo digital, a tecnologia atua como um elemento-chave na oferta de experiências, produtos e serviços. As constantes mudanças exigem uma arquitetura corporativa que viabilize o rápido desdobramento das necessidades estratégicas de negócios em evoluções pragmáticas de sistemas, dados e infraestrutura com qualidade, velocidade e segurança. Nessa configuração, com times ágeis orientados a produtos ou experiências do cliente, os arquitetos deixam de ter um papel pontual de recomendações e passam a direcionar efetivamente as equipes para que atuem com autonomia alinhada com as aspirações e restrições da organização.
A disseminação das práticas ágeis e do desenvolvimento orientado por produtos ou experiências tornam a arquitetura corporativa mais importante do que nunca. Ao incluir arquitetos nos times ágeis, conseguimos gerar maior responsabilidade coletiva e autonomia resguardada por uma visão, princípios e restrições comuns, uma vez que esse formato acelera decisões, cria proteções dentro das equipes de trabalho, e indica como produtos e sistemas podem funcionar melhor juntos. Sem uma boa arquitetura, não há como orquestrar as competências entre canais e áreas para obter, por exemplo, redução do tempo de lançamento, gerenciamento de custos e criação de experiência omnicanal perfeita para o cliente.
No entanto, pesquisas de mercado mostram que apenas um em cada dez executivos entrevistados está satisfeito com a maneira como a sua empresa gerencia a arquitetura corporativa. Ao examinar as organizações com os melhores resultados, descobrimos que a satisfação é maior em companhias em que as equipes de entrega contam com arquitetos que estão diretamente engajados com os times de desenvolvimento. Trabalhar na linha de frente dá a eles uma visão em tempo real de como a tecnologia e a organização estão evoluindo, o que facilita a adaptação da arquitetura aos comportamentos emergentes dos clientes e às tendências tecnológicas.
As empresas geram mais valor com a tecnologia quando configuram a arquitetura corporativa como um centro de excelência, que aconselha e apoia equipes de desenvolvimento em toda a organização, utilizando o conhecimento técnico como um facilitador. Arquitetos talentosos com habilidades não apenas para definir, mas também implementar essa arquitetura, alcançam os melhores resultados, especialmente quando trabalham mais perto dos times, em estreita colaboração com as equipes ágeis e integrados em seus processos de entrega e tomada de decisão.
Por outro lado, sem uma arquitetura direcionadora robusta, as ambições de negócios podem ser prejudicadas. Companhias com arquitetura engessada, obsoleta, sentem maior dificuldade para orquestrar iniciativas estratégicas e tendem a dedicar mais pessoas para coordenar vários times. Com isso, aumentam custos, dependências e atrasos, além de dificultar o alinhamento de novos desenvolvimentos em tecnologia.
Já empresas com arquitetura corporativa flexível, moderna e modular são mais bem-sucedidas em suas jornadas de transformação digital e alcançam maior produtividade operacional, entregando melhor experiência ao cliente.
Para atingir esse nível, é necessário começar com uma avaliação clara do que a organização vai precisar no futuro. Em algumas situações, os arquitetos corporativos terão de aprender novas habilidades para trabalhar de forma mais eficaz com equipes ágeis e, em muitos casos, as companhias também buscam novos talentos no mercado, umas das principais barreiras para a adoção de práticas modernas de arquitetura corporativa.
Ao longo de anos de experiência com projetos em organizações de todos os setores, pudemos identificar três características que as empresas com as melhores arquiteturas apresentam hoje:
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Estrutura híbrida: arquitetura corporativa que combina uma equipe pequena e central de arquitetura corporativa que se concentra em prioridades estratégicas, decisões de portfólio e estrutura de fluxos de valor, com um quadro descentralizado que trabalha na entrega em estreita colaboração com as equipes ágeis e de negócios;
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Governança enxuta: processos simples de tomada de decisão, conjunto limitado de comitês e direcionamento claro para as equipes ajudam a reduzir a sobrecarga administrativa da arquitetura;
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Suporte da comunidade: construir uma comunidade de arquitetura corporativa permite cocriação e compartilhamento de informações. Incentivar o amplo uso de dados e ferramentas de arquitetura por meio de linguagem simplificada e suporte de aprendizagem também pode ajudar a ampliar a capacidade em toda a organização.
Como as empresas têm se tornado cada vez mais digitais e operado em maior velocidade e agilidade, como líderes não podemos mais esperar para transformar nossas competências de arquitetura corporativa. Por isso, atualizar a maneira como os arquitetos corporativos trabalham com as equipes é fundamental para modernizar as plataformas tecnológicas e as pessoas que as gerenciam.
Mariana Zaparolli, sócia associada da Bain & Company e especialista em modelos operacionais ágeis
Murilo Rodrigues, sócio associado da Bain & Company e especialista em tecnologia.