Há alguns anos, ninguém imaginaria ser possível um dia conversar com um computador capaz de entender perfeitamente a fala humana. E os romances de ficção científica sobre inteligência artificial (IA) não passavam de mera fantasia. Esse futuro porém já chegou. A IA deixou de ser um conceito distante e assistentes pessoais virtuais como a Alexa da Amazon e a Siri da Apple, ou mesmo carros que se dirigem sozinhos como os do Google ou Tesla, estão aí para mostrar que essa tecnologia está cada vez mais presente em nosso dia a dia.
No Brasil, as aplicações de inteligência artificial já são bastante diversas e os jovens cientistas brasileiros são considerados internacionalmente promissores. O neurocientista Miguel Nicholelis é reconhecido em todo mundo pelo desenvolvimento do exoesqueleto humano e muito premiado por suas pesquisas sobre biotecnologia. No Ministério da Transparência (antiga Controladoria Geral da União – CGU), um sistema de IA capaz de mapear o risco de servidores públicos federais envolverem-se em casos de corrupção possui um alto índice de assertividade. No projeto, 18 bancos de dados fornecem 4,4 mil atributos únicos sobre os funcionários públicos. Quando combinadas, essas informações geram mais de 60 mil atributos, que são analisados, baseados em perfis já existentes, e determinam as chances de alguém se envolver em uma falcatrua. Outro exemplo de sucesso no uso da IA no país é o projeto desenvolvido pela startup Nama, que facilita a comunicação entre fornecedor e cliente por meio de uma plataforma robotizada disponível 24h. A ferramenta permite a automatização de conversas por texto ou voz ao simular uma conversa humana, em que o computador oferece soluções de atendimento através de inteligência artificial. Com auxílio dos robôs que funcionam como atendentes 24h, os clientes são atendidos mais rápido, as conversas ficam registradas e caso apareça algum problema, uma pessoa real pode assumir o atendimento.
Como vimos, até no Brasil a inteligência artificial já é uma realidade. Todos os dias essa tecnologia cresce, torna-se mais inteligente e cada vez mais semelhante à inteligência humana. Com tudo o que a IA pode fazer hoje, é natural perguntar-se: A inteligência artificial vai tomar o meu emprego?
Não tenha medo. A inteligência artificial vai expandir o potencial humano em vez de assumir os nossos empregos. De acordo com Andy Peart de Soluções Artificiais: "Em 2020 a IA será tão crítica para os negócios do serviço ao cliente quanto o website foi há 20 anos, ou o aplicativo móvel foi há cinco anos". Já o Gartner prevê que, até 2018, os robôs irão supervisionar mais de três milhões de trabalhadores humanos.
A inteligência artificial já desempenha um papel significativo nas indústrias, globalmente. O Babylon é um médico IA capaz de diagnosticar sintomas que possam surgir. Já a Ellie é uma terapeuta IA que pode ler a linguagem corporal e os pacientes sentem-se mais confortáveis e abertos para conversar com ela. O escritório de advocacia Baker & Hostetler acabou de contratar o Ross, o primeiro advogado IA do mundo. E o Ross não precisou passar no exame da ordem para ser contratado.
Então, é hora de limpar sua mesa e esperar pelo pior? Ainda não. Não se preocupe, ainda há um lugar muito especial para o ser humano no mercado de trabalho.
Em primeiro lugar, a inteligência artificial não tem o toque humano. As máquinas podem nos ajudar a entender os dados, mas somente os seres humanos podem entender as pessoas em um nível emocional. E os clientes percebem quando suas interações com as empresas carecem de um elemento humano.
Você já se sentiu frustrado ao contatar o serviço de atendimento ao cliente e não conseguir falar com um ser humano? Computadores simplesmente não entendem os seres humanos como os humanos. Hoje as empresas não podem se dar ao luxo de afastar seus clientes. Já é difícil competir em preços e qualidade, por isso, um serviço ao cliente de qualidade pode ser o diferencial para a sua empresa destacar-se nesse mercado cada vez mais competitivo.
Da mesma forma, a inteligência artificial carece de criatividade. As máquinas podem realizar tarefas rotineiras, manuais, porém, sem a criatividade humana, o desenvolvimento é impossível. Lembre-se que são as mentes humanas que criaram a inteligência artificial e geraram as ideias inovadoras.
Veja o exemplo do design gráfico. Os computadores de hoje podem gerar logos e nomes de marcas sem a ajuda humana, mas a arte real requer pensamento, emoção e a criatividade humana.
É hora de acabar com a competição entre humanos e máquinas e focar no trabalho conjunto. A IA é capaz de coisas que os humanos não são – como processar grandes quantidades de dados em segundos. Entretanto, os seres humanos têm a empatia e a criatividade que as máquinas não têm. São habilidades complementares, por isso, a IA não deve substituir os seres humanos e sim expandir o seu potencial.
O CEO da BetterWorks, Kris Duggan, resumiu o benefício do trabalho conjunto entre seres humanos e máquinas: "[Inteligência Artificial] não é útil quando está sozinha…precisamos do cérebro humano para fazer o comando…A inteligência artificial nunca deve ser sobre o corte de mão de obra, isso é dar um passo para trás. Una essa inteligência com o cérebro humano e você estará no caminho certo para resolver os problemas que ainda estão por vir".
Se existe uma tecnologia capaz de proporcionar à mente humana um maior conhecimento sobre o fluxo de trabalho, por que não adotá-la? Não temos que desistir de nossos trabalhos para a IA. Os seres humanos e máquinas devem trabalhar em conjunto, afinal, a inteligência artificial precisa de nós tanto quanto precisamos dela.
Wagner Tadeu, gerente Geral da ClickSoftware para América Latina.
Pergunta: Sobre o argumento de que a IA não substituirá o ser humano pois não tem criatividade, ou não entende o humano emocionalmente: sabendo-se que do ponto de visto neurobiológico a criatividade e as emoções são processos cognitivos, o que impede de conseguirem desenvolver isso também na IA?
Comentário: sobre o Nicholelis, acho que o autor deveria fazer uma busca sobre o real currículo deste "reconhecidíssimo" pesquisador…