O Brasil sai na frente na conferência climática COP-27

0

Nos últimos anos, a questão climática global e seus impactos no planeta e na vida humana tem sido o foco de discussões que mobilizaram projetos e mudanças nas matrizes energéticas, industriais e produtivas de diversos países.

As mudanças climáticas, que são essencialmente as alterações ocorridas nas características do clima e na temperatura do planeta, ocorrem devido as atividades antropogênicas. Os efeitos da mudança no clima são diversos: aumento do nível dos oceanos, o que causa desastres em cidades litorâneas; mudança no regime de chuvas, o que afeta a produção agrícola; e alteração na temperatura global, o que provoca aumento de casos de doenças transmitidas por vetores e outras enfermidades infecciosas.

As mudanças climáticas se tornaram protagonistas das discussões globais desde meados de 1800, já que, com a Revolução Industrial, as atividades produtivas passaram a utilizar combustíveis fósseis como carvão e gás natural. Quando queimados, esses combustíveis liberam na atmosfera dióxido de carbono (CO2), um dos gases responsáveis pelo efeito estufa. O termo "efeito estufa", de uso comum, é usado para se referir a um fenômeno que certamente afetará o clima em todo o mundo ao longo do século 21 e nos séculos seguintes.

A Terra, aquecida pela radiação solar, emite uma parte dessa energia, na forma de uma radiação não visível, denominada infravermelho térmico. Esse mesmo tipo de energia é irradiado por uma panela de ferro quando aquecida. Alguns gases presentes no ar, como o dióxido de carbono, podem absorver radiação infravermelha térmica, reemitindo-a em todas as direções, inclusive para a Terra, aquecendo-a. Assim, o CO2 e outros gases no ar formam um "cobertor natural" que mantém a Terra aquecida. Esse fenômeno é denominado de efeito estufa e é responsável por manter a temperatura média da superfície da Terra em aproximadamente +150C. Se esses gases que absorvem infravermelho térmico não existissem, a temperatura média da superfície da Terra seria de -150C. (ou seja, a superfície da Terra seria eternamente coberta de gelo). O fenômeno que preocupa os cientistas é que o aumento da concentração de gases estufa colocaria mais "cobertores" na atmosfera, o que poderia elevar a temperatura da superfície da Terra para além de +150C. Esse fenômeno é chamado de efeito estufa intensificado, e toda vez que se caracteriza um aumento da temperatura média da superfície da Terra devido a intensificação do efeito estufa, o fenômeno é comumente denominado aquecimento global.

Além do efeito estufa, outros impactos causados pelas atividades humanas sobre o meio ambiente vieram à tona com o desenvolvimento de áreas como a ecologia. Nesse contexto, muitos países começaram a promover formas alternativas de desenvolvimento que integrassem a preservação da natureza e dos recursos naturais. Surgiram, assim, as principais conferências sobre o meio ambiente, que passaram a versar sobre as melhores estratégias, metas e ações pautadas sob uma perspectiva ambiental.

A primeira das grandes conferências ambientais da história foi realizada no dia 5 de junho de 1972, em Estocolmo. A denominada Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável consagrou a data como o Dia Mundial do Meio Ambiente. Nessa conferência, a Declaração de Estocolmo estabeleceu 26 princípios sobre desenvolvimento e meio ambiente, dando início a uma série de conferências ambientais em que os países reconhecem sua responsabilidade com a sustentabilidade.

Em 1992, no Rio de Janeiro, foi realizada a segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida por Rio-92, Eco-92 ou Cúpula da Terra. Essa conferência foi considerada um dos principais marcos históricos das conferências que tratam questões ambientais. Com a presença de representantes de 172 países e centenas de organizações ambientais, o encontro teve como resultado a assinatura de cinco importantes acordos ambientais: a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento; a Agenda 21; os Princípios para a Administração Sustentável das Florestas; a Convenção da Biodiversidade; e a Convenção Quadro sobre a mudança do Clima. Este último — a Convenção Quadro sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) — criou um órgão chamado de Conferência das Partes (COP: Conference of the Parties), com o objetivo de avaliar, periodicamente, questões referentes a mudanças climáticas, propor mecanismos e medidas de cooperação, para garantir a aplicabilidade e efetividade da convenção.

A primeira Conferência das Partes (COP) foi realizada em Berlim, em 1995. Ela teve como principal foco as ações dos países para desenvolver políticas relacionadas às mudanças climáticas. O encontro marcou o consenso quanto à necessidade de aplicação de medidas para combater as consequências adversas decorrentes do efeito estufa. Nesta conferência, começaram as primeiras conversas que levariam ao Protocolo de Kyoto.

A terceira Conferência das Partes na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-3) ocorreu em dezembro de 1997 em Kyoto, Japão. No encontro foi adotado o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas de redução para gases de efeito estufa para os países desenvolvidos, chamados "Países do Anexo I". Os americanos acabaram não ratificando o acordo. A entrada em vigor do acordo estava vinculada à ratificação por, no mínimo, 55 países que somassem 55% das emissões globais de gases de efeito estufa, o que ocorreu apenas em 16 de fevereiro de 2005, vencida a relutância da Rússia. Os Estados Unidos se retiraram do acordo em 2001.

No final do ano de 2015, aconteceu em Paris a 21ª Conferência das Partes, COP-21, que reuniu 196 Estados-Partes, com o intuito de se obter um novo acordo climático internacional, em que cada Estado-Parte apresentou sua proposta de redução de emissão de gases de Efeito Estufa, o que se chamou de Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC, em inglês). Este acordo, o Acordo de Paris, tem como principal missão manter o aquecimento global bem abaixo de 2oC até o final do século, em relação aos níveis pré-industriais. A COP-21 já pode ser considerada uma conferência histórica, pois no dia 05 de outubro de 2016 foi atingido o limite mínimo previsto para que o Acordo de Paris possa entrar em vigência.

O Brasil é uma das Partes e apresentou sua INDC, com a meta de diminuir as emissões de gases de Efeito Estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo 2005 como ano-base. Para atingir tal objetivo, a INDC brasileira contém ações como o fim do desmatamento ilegal na Amazônia, a restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares, a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e o alcance de 45% na participação de energias renováveis na composição da matriz energética. Aqui nota-se o pioneirismo brasileiro, já que, desde 2005, o Brasil realiza estudos e desenvolve projetos visando uma fonte limpa de energia, o hidrogênio, em sua matriz energética.

Em novembro de 2022, a 27° Conferência das Partes (COP-27) foi realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito, em um cenário de eventos climáticos extremos no mundo. O evento reuniu 195 partes, mais de 20 mil agências especializadas, organizações intergovernamentais e não governamentais, bem como a mídia internacional, com o objetivo principal de garantir a plena implementação do Acordo de Paris.

Na COP-27, foi aprovada a Agenda de Adaptação de Sharm-El-Sheikh que visa atingir os seguintes objetivos:

  1. Transição para uma agricultura sustentável e resistente ao clima que possa aumentar a produção em 17% e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 21%, sem expandir as fronteiras agrícolas, e ao mesmo tempo melhorando a subsistência, inclusive dos pequenos agricultores;
  1. Proteção e restauração de cerca de 400 milhões de hectares em áreas críticas (ecossistemas terrestres e de água doce), apoiando comunidades indígenas e locais com o uso de soluções baseadas na natureza para melhorar a segurança hídrica e a subsistência e para transformar 2 bilhões de hectares de terra em manejo sustentável;
  1. Proteção de 3 bilhões de pessoas através da instalação de sistemas inteligentes e de alerta precoce;
  1. Investir 4 bilhões de dólares para assegurar o futuro de 15 milhões de hectares de manguezais por meio de ações coletivas para deter a perda, restaurar, dobrar a proteção e garantir financiamento sustentável para todos os manguezais existentes;
  1. Expandir o acesso à cozinha limpa para 2,4 bilhões de pessoas a partir de pelo menos 10 bilhões de dólares/ano em financiamento inovador;
  1. Mobilizar de 140 a 300 bilhões de dólares necessários em fontes públicas e privadas para adaptação e resiliência e estimular 2.000 das maiores empresas do mundo para integrar o risco climático físico e desenvolver planos de adaptação acionáveis;
  1. Criar um fundo específico para ajudar os países em desenvolvimento a responder a perdas e danos. Isso daria maior flexibilidade aos países em desenvolvimento que são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos da mudança climática.

O Brasil, um dos participantes do evento, tinha um número recorde de estandes na COP: um do governo brasileiro, com cerca de 300 m2, o da sociedade civil (chamado Brazil Climate Action Hub), com 150m2 e dos governadores da Amazônia, com 120m2. Em cada espaço, o país propôs ações que o colocaram como protagonista da COP-27.

O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, foi o chefe da delegação brasileira na COP-27, e lançou, durante o evento, a Agenda Brasil + Sustentável. O documento, construído de forma colaborativa entre os ministérios, lista ações alinhadas com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

A posição brasileira na COP-27 recebeu contribuição da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que demandou metas de financiamento climático, mecanismos focados em adaptação, planos para o setor da agricultura, e a operacionalização dos mecanismos de mercado de carbono. Ainda, foi assinada uma aliança estratégica entre Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo, os três países com as maiores florestas tropicais do mundo. A aliança, conhecida como "Opep das Florestas", objetiva coordenar a posição dos países nas negociações climáticas e financeiras sobre o tema.

No Brasil Climate Action Hub, o governo federal apresentou iniciativas de energias verdes no país, como eólica, solar, biomassa e hidrogênio. O estande do Brasil contou com a presença da CNA, Confederação Nacional da Indústria, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

O protagonismo brasileiro também se deve pela participação de grupos de pequenos empresários brasileiros que apresentaram seus empreendimentos e iniciativas no ramo da energia renovável, tema central da COP-27.

A participação do Brasil como uma das partes em evidência no evento também se deu com a participação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que afirmou trazer o Brasil de volta "para propor uma nova governança global". Lula anunciou a meta de zerar o desmatamento e a degradação dos biomas brasileiros até 2030, a criação do Ministério dos Povos Originários, defendendo que "a luta contra o aquecimento global é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo". O presidente eleito ofereceu o Brasil para sediar a COP-30, em 2025.

Marina Silva, deputada eleita e figura chave no governo Lula, dá sinais fortes de que a recuperação do papel histórico do país nas negociações climáticas deve mesmo acontecer: "o Brasil não vai mais para a COP na condição de país chantagista, que vai chantagear os países ricos, dizendo que só vai proteger a Amazônia se nos pagarem para isso. O compromisso do Brasil sempre foi proteger a Amazônia e os biomas brasileiros. É uma decisão estratégica, política e ética do Brasil".

Assim, percebe-se que o Brasil sai da conferência do clima COP-27 na direção correta de minimizar os impactos das atividades humanas sobre o clima, bem como assume o papel principal de propor ações que façam do mundo um lugar melhor promovendo e garantindo o futuro das próximas gerações.

Filippo Mario Nazareno Gomes Fogaccia, coordenador de vestibulares, professor de Química das 3ª séries do Ensino Médio e do curso MackVest do Colégio Presbiteriano Mackenzie.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.