Como o Brasil se tornou o celeiro de startups da América Latina

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O Brasil é um dos principais motores do ecossistema de startups na América Latina, atraindo olhares globais e concentrando boa parte dos investimentos destinados ao setor na região. Hoje, o país concentra 61% dos investimentos em venture capital na América Latina e 77% das startups da região.  Mas o que torna o Brasil um terreno fértil para o surgimento de novas startups?

Desde o acesso a um grande mercado interno até o amadurecimento do ecossistema de inovação, o país oferece um ambiente repleto de oportunidades para empreendedores e investidores. Em um contexto de incertezas globais, entender os fatores que favorecem o Brasil e as previsões para os próximos anos é essencial para enxergar a relevância do país como "celeiro" de startups da América Latina.

Cenário atual das startups locais

Em 2023, a América Latina atraiu quase US$ 6 bilhões em investimentos em startups, segundo a Sling Hub. Desses recursos, o Brasil abocanhou a maior fatia, refletindo um ecossistema maduro e atrativo. Conforme dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), o país tem mais de 12 mil startups ativas, abrangendo segmentos em que somos referência, como fintechs, healthtechs, edtechs e agritechs.

O destaque brasileiro na região não é casual. Vários fatores estruturais tornam o país atraente para o empreendedorismo tecnológico. O primeiro deles é o mercado interno robusto, com mais de 212 milhões de habitantes e uma classe média que, apesar das flutuações econômicas, continua a demandar soluções inovadoras para questões do cotidiano. A alta penetração de smartphones e o crescimento do e-commerce também contribuem para a criação de startups focadas em digitalizar setores como finanças, saúde e educação.

Outro fator importante é a presença de grandes centros urbanos com infraestrutura favorável ao desenvolvimento tecnológico, como São Paulo, Florianópolis e Recife, que concentram aceleradoras, incubadoras e investidores-anjo. Essas regiões oferecem não apenas recursos financeiros, mas também acesso a redes de apoio e mentoria. A cidade de São Paulo, por exemplo, é frequentemente citada como o "Vale do Silício" da América Latina, com uma densidade de startups e fundos de venture capital que a destacam na região.

Para além dos dados demográficos e da infraestrutura, o governo brasileiro e iniciativas privadas têm se mostrado fundamentais no apoio a startups. Em 2021, foi sancionad o Marco Legal das Startups, que visa apoiar a abertura e o funcionamento de empresas de inovação, com medidas que desburocratizam processos e incentivam o investimento-anjo. Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem ampliando seus programas de financiamento a startups, seja diretamente ou por meio de parcerias com fundos de capital de risco.

Além dos incentivos fiscais e da criação de marcos regulatórios, aceleradoras e incubadoras têm desempenhado papel-chave no apoio ao ecossistema brasileiro. iniciativas brasileiras como Cubo Itaú, Inovabra e Porto Digital se tornaram referencias globais ao oferecem suporte estratégico, mentorias e espaços de coworking, possibilitando que empreendedores acelerem o desenvolvimento de seus projetos e ampliem suas redes de contatos.

Desafios regionais e vantagens comparativas

Apesar do Brasil ser o maior mercado da América Latina, ele não está sozinho na corrida pela inovação. Outros países da região, como México, Colômbia e Argentina, também estão atraindo investimentos, sobretudo em fintechs. No entanto, o Brasil ainda possui uma vantagem comparativa clara, que se traduz em maiores níveis de investimento e no amadurecimento do ecossistema. Enquanto os países citados têm 7, 3 e 11 startups unicórnios, respectivamente, o Brasil tem um portfólio de 22 startups com um valuation acima de US$ 1 bilhão.

A proximidade cultural e linguística do Brasil com outros países latino-americanos também facilita a expansão de startups para a região. Uma vez consolidadas no mercado doméstico, muitas empresas brasileiras iniciam operações em países vizinhos, aproveitando a similaridade dos perfis de consumo. Fintechs brasileiras como Nubank e Creditas, por exemplo, são cases de sucesso dessa expansão regional. Para os próximos anos, as perspectivas são otimistas, mas não sem desafios. O Brasil deve manter sua liderança no cenário de startups latino-americano, impulsionado pela contínua digitalização e pela demanda por soluções tecnológicas.

No entanto, para que o país se consolide como um verdadeiro hub de inovação, alguns pontos críticos precisam ser abordados. A alta carga tributária, a burocracia e a volatilidade econômica ainda representam barreiras para muitos empreendedores. A capacitação em tecnologia e a formação de talentos especializados também são fatores que merecem atenção, uma vez que a demanda por profissionais qualificados no setor de TI é crescente e, em alguns casos, supera a oferta.

A visão de longo prazo para o ecossistema de startups brasileiro é promissora, com previsão de crescimento sustentado e novas oportunidades nos setores de agronegócio, saúde e finanças. Se conseguir endereçar os gargalos e manter o ritmo de inovação, o Brasil tem potencial para se firmar como uma potência de inovação não só na América Latina, mas no cenário global, gerando impactos econômicos e sociais significativos.

Francisco Pereira, formado em Administração pela FGV – Fundação Getúlio Vargas e CEO da Trademaster.

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