Nos últimos anos, a força de trabalho das Américas tem experimentado uma intensa disrupção devido a uma infinidade de desafios, entre eles a pandemia, a transformação digital e o que está sendo chamado de 'The Great Resignation' (em português, "A Grande Renúncia") – especialmente nos Estados Unidos onde, em novembro de 2022, a taxa de abandono de empregos atingiu o nível mais elevado em 20 anos.
Essa disrupção se alastrou por vários setores, forçando as organizações a incorporar processos para se adaptar à nova realidade, provocando uma aceleração nos índices de mudança de emprego. E essa debandada atingiu profissionais em vários cargos e funções, incluindo os trabalhadores da linha de frente.
A integração de um novo funcionário requer prática supervisionada antes que ele possa de fato se adaptar para realizar um trabalho produtivo e consistente. Esse treinamento geralmente recai sobre os veteranos da empresa, o que reduz um tempo valioso de cada um deles no desempenho de suas próprias responsabilidades. Ao encontrar maneiras de encurtar a duração da capacitação inicial – como, por exemplo, realizando demonstrações das tarefas, das ferramentas, dos procedimentos e das políticas que fazem parte do emprego, um novo colaborador pode se tornar produtivo mais rapidamente. E o veterano, por sua vez, pode retomar mais facilmente às suas funções. Por conta disso, um número crescente de empregadores vêm buscando novas alternativas em tecnologias avançadas, como wearables e realidade aumentada (RA), para atingir esse objetivo.
Virada tecnológica
Muitas organizações ainda contam com métodos de treinamento antigos e ultrapassados, entre eles manuais em papel, e-learning ou vídeos instrutivos, que apresentam interação mínima e pouco contribuem para ensinar à pessoa o trabalho que deverá executar.
No entanto, com o surgimento de tecnologias avançadas como a realidade aumentada, as empresas estão percebendo que há opções muito mais adequadas e eficazes para recrutamento e treinamento de funcionários. Em uma pesquisa realizada pela TeamViewer nos Estados Unidos, 86% dos executivos entrevistados afirmaram que o uso de realidade aumentada melhorou a qualidade das práticas e capacitações. E mais: o estudo revelou também que as companhias que treinam com RA têm 2,5 vezes mais chances de atingir suas metas de integração.
Os óculos inteligentes (smart glasses) habilitados para RA são um excelente exemplo de como a realidade aumentada pode ser utilizada para auxiliar nos treinamentos e ajudar os novos membros das equipes a resolver problemas ao vivo, em tempo real e em conjunto com os integrantes mais experientes. Um trabalhador de manufatura, por exemplo, pode aprender a usar máquinas específicas sem treinamento prático. E a realidade aumentada promove ainda uma integração muito mais imersiva no trabalho, reduzindo o tempo de capacitação e facilitando a criação de ambientes de aprendizado altamente eficientes para promover a aceitação dos novos funcionários.
Conectando trabalhadores com realidade aumentada
Graças à sua alta aplicabilidade em processos e objetivos de trabalho, a realidade mista vem ganhando cada vez mais espaço no metaverso industrial, gerando um novo ecossistema de profunda integração entre novas informações e tecnologias com a economia real.
Nesse cenário, os óculos inteligentes são essenciais. Eles podem, por exemplo, fornecer aos novos funcionários instruções passo a passo detalhadas para a execução de tarefas, elevando não apenas a curva de aprendizado como guiando-os na conclusão das etapas de cada trabalho sem depender da supervisão de um veterano por longos períodos de tempo.
Se houver dúvidas, um membro mais experiente da equipe pode visualizar exatamente o que o novato está vendo por meio dos smart glasses e fornecer instruções adicionais, tornando o treinamento muito mais rápido e assertivo. A imersão que a realidade aumentada promove potencializa ainda mais o envolvimento dos funcionários em suas tarefas – o que certamente não poderia ser obtido por meio de métodos de treinamento tradicionais e até mesmo obsoletos.
Nesse sentido, aproveito também para elencar outras possibilidades sobre o uso da realidade aumentada em onboardings:
- O trabalhador pode usar óculos inteligentes e um QR code personalizado para fazer login em uma biblioteca de treinamento de conteúdo customizado;
- O funcionário consegue utilizar comandos de voz para escolher qual o vídeo mais apropriado, sendo remotamente conduzido por uma série de tarefas e atividades;
- A RA pode garantir que o funcionário siga os protocolos mais adequados, como a utilização de equipamentos de proteção. O sistema pode também impedir que o funcionário passe para a próxima tarefa enquanto não concluir as etapas anteriores de forma correta e apropriada;
- Instruções, dicas e melhores práticas podem ser transmitidas aos smart glasses por meio de texto, gravação de voz ou vídeo;
- O treinamento é dinâmico e o funcionário consegue visualizar todos os resultados do fluxo de trabalho. No final, ele pode ainda retornar ao menu principal e repetir o treino, iniciar uma nova sessão ou concluir o trabalho sem auxílio visual.
Retornos promissores para líderes de RH
Ao infundir a tecnologia de realidade aumentada aos processos de treinamento e formação profissional, as empresas poderão colher benefícios imensuráveis em Recursos Humanos, além de melhorias significativas em seus resultados gerais. Segundo o estudo da TeamViewer, 80% dos líderes de onboarding prospectaram que a nova tecnologia deve contribuir para um aumento real da produtividade dos funcionários da linha da frente em 2023, enquanto 67% afirmaram que a formação com realidade aumentada se tornará uma vantagem competitiva chave.
Para os funcionários que já trabalham nas corporações, o uso de RA trará benefícios para aperfeiçoamento profissional, mantendo o engajamento para atualização, progressão e valorização da carreira com novos treinamentos e a aquisição de novas habilidades. Isso também ajudará a manter os trabalhadores que se sentem desmotivados por julgarem ter atingido todo o seu potencial dentro da organização.
No entanto, antes de abraçar a RA como ferramenta estratégica para formação e retenção de trabalhadores da linha da frente, as empresas devem:
- Compreender como iniciar uma implementação bem-sucedida
As plataformas, as equipes e o departamento de TI terão de ser envolvidos nesse processo, então é muito importante determinar um orçamento e o que é possível ser feito internamente ou através de um parceiro. À medida que os esforços forem escalonados, será bastante comum haver uma combinação de trabalho interno e externo para a implantação da tecnologia; - Assegurar a integração necessária entre software e wearables
A falta dessa integração continua a ser o principal entrave à otimização do ROI (Return Over Investment). É fundamental fazer um balanço das plataformas existentes e identificar potenciais sinergias de integração, bem como obstáculos. Ter uma plataforma de gestão de dispositivos compatíveis com o uso de óculos inteligentes pode facilitar muito a entrega de conteúdos e as ações de suporte; - Verificar as necessidades de hardware
A importância de tecnologias 'hands-free' será provavelmente a primeira faceta crítica a ser compreendida, e ditará grande parte das discussões e estratégias posteriores. Se houver necessidade de acessar dados sem o uso das mãos durante os processos e tarefas de atendimento e suporte remoto, a melhor escolha é implantar o uso de óculos inteligentes pelos funcionários.
Em um mundo em constante transformação, o papel dos trabalhadores da linha da frente continuará a evoluir e os líderes empresariais precisam reconhecer e acompanhar essa mudança. Isso certamente deverá impor novos e grandes desafios às empresas, mas só sobreviverão e continuarão a prosperar aquelas que conseguirem se adaptar às necessidades dos trabalhadores e criar um ambiente dinâmico, envolvente e engajador para treinamento, , manutenção, aprimoramento e valorização de seus maiores ativos: a força de trabalho.
Patricia Nagle, Presidente da TeamViewer Américas.