Analistas do mercado de telecomunicações acreditam que os recentes desentendimentos entre a Portugal Telecom e a espanhola Telefônica não devem afetar o desempenho da Vivo.
A crise entre as duas companhias, que controlam a operadora com 50% participação cada uma, foi desencadeada pelo apoio dos espanhóis à oferta pública de aquisição (OPA) da Sonaecom sobre o grupo português ? frustrada recentemente ?, segue sem um desfecho aparente, o que era esperado para esta segunda-feira (16/4) quando foram completados dez anos da assinatura do acordo de colaboração entre PT e Telefônica.
O presidente da empresa portuguesa, Henrique Granadeiro, admitiu recentemente que ambas têm mantido conversações sobre o Brasil, e que estão analisando a parceria estratégica assinada em 16 de abril de 1997, que tinha como objetivo a atuação conjunta no processo de expansão internacional e no desenvolvimento da qualidade do serviço a seus clientes.
Se o interesse dos espanhóis em controlar a Vivo ficou comprovado com o apoio dado à Sonae na OPA, a determinação da PT em permanecer no Brasil tem sido apregoada pela administração da operadora portuguesa. Com o fim da parceria "ibérica" à vista, restará saber quem ficará à frente da gestão da Vivo e quais benefícios terá quem dela aceitar sair.
Um dos fatores que contribuiu para que as divergências entre os dois controladores não afetassem a gestão da Vivo foi o fato de a operadora ser presidida por um brasileiro, o executivo Roberto Lima. "O fato de ele ser brasileiro, e não um português ou um espanhol, como ocorreu no passado, traz maior equilíbrio para a gestão da Vivo, em um momento de desentendimentos entre os dois controladores", disse à Agência Lusa o analista do Banif Investment no Brasil, Roger Oey.
Segundo ele, ?o notório desconforto entre Portugal Telecom e Telefônica, com os desentendimentos atingindo um ponto mais elevado, não se refletiu no balanço da Vivo, que até melhorou recentemente", destacou.
Já para o analista do Banco Modal Eduardo Roche, a sociedade na Vivo ficou "insustentável", principalmente após o apoio dado pela Telefônica à OPA. "O que nós vimos é que não houve uma contaminação da administração da Vivo por esses desentendimentos, mesmo sabendo que uma possível solução seja o controle único por um dos acionistas", afirmou.
A avaliação tem como base o fato de que, no ano passado, durante o período da OPA da Sonae sobre a PT, a Vivo implementou diversos projetos importantes para seu futuro. Entre eles está a reorganização societária ? aprovada em assembléias de acionistas ? que unificou 14 operadoras listadas em bolsa na holding Vivo Participações.
Outro projeto foi a implantação da rede de transmissão GSM em um prazo recorde. O sistema da Vivo já possuiu 300 mil clientes e cobertura em duas mil cidades, e funcionará paralelamente à antiga rede CDMA. Resultado de investimentos de cerca de R$ 1 bilhão, a nova rede permitirá à operadora oferecer celulares mais baratos, a exemplo de suas principais concorrentes no mercado.
Os analistas acreditam que a reorganização societária, a rede GSM e a integração das diversas operadoras na mesma base tecnológica devem garantir mais competitividade à Vivo e podem interromper a sucessiva perda de cota de mercado por parte da empresa nos últimos meses. "Dividir os ativos da Vivo no Brasil, como forma de resolver o impasse entre a PT e a Telefônica, não faria qualquer sentido, uma vez que tudo já foi unificado em apenas uma empresa", comenta Oey.
Para os analistas, no entanto, o controle único pela Telefônica permitiria uma maior convergência entre as operações móveis e fixas do grupo espanhol no Brasil, a exemplo do que já ocorre com outras concorrentes da Vivo. "A Telefônica tem mais interesse em ficar com a Vivo porque já tem uma operação fixa muito lucrativa, além da possibilidade de obter créditos fiscais em uma eventual fusão entre as operadoras móvel e fixa", acrescentou Oey.
Eduardo Roche acredita, por sua vez, que "faz todo o sentido" a PT vender a Vivo para a Telefônica e adquirir um outro ativo do setor de telecomunicações no Brasil. "Não consigo ver um futuro para a PT fora de Portugal e da Europa ? que já tem um mercado muito maduro ? que não seja no Brasil, principalmente pela facilidade do idioma", afirmou o analista do Banco Modal.