Muito tem se falado nos últimos anos sobre SOA (Service Oriented Architecture), como sendo mais uma sigla no jargão das áreas de TI e até mesmo dentro do bojo das áreas de negócios das empresas, que acabam esbarrando no tema sobre literaturas ou eventos aqui ou acolá. Apesar de toda uma veiculação de informações sobre o tema, para a maioria das pessoas envolvidas no assunto, direta ou indiretamente, ainda residem muitas dúvidas.
Estas dúvidas surgem fundamentalmente da própria forma como os "vendedores" das tecnologias que suportam o tema se postam ao mercado. A fobia em fazer a venda, acaba sendo o grande inimigo do entendimento. Se a venda ocorre vem a frustração pela falta do entendimento e consequentemente da sua melhor aplicação ou a venda não ocorre pela falta do entendimento e ninguém "sai do lugar".
SOA, antes de tudo, é um conceito, e que obviamente está apoiado por uma série de plataformas de software. A grande verdade, e o SOA não traz absolutamente nenhum conceito revolucionário no seu conteúdo, é que ele é a manifestação mais simples que podemos ter de alguma coisa. A Arquitetura Orientada a Serviços nada mais é do que aproveitar os Serviços existentes no seu conceito puro, e preferencialmente fornecido por quem são os mais especialistas no tema. Um exemplo típico de um serviço é um CD com músicas, que é um serviço à disposição do usuário e que pode ser ouvido em vários aparelhos diferentes.
Podemos imaginar, e não é difícil entender isto na prática, que um serviço é algo extremamente bem definido, padronizado de uma forma que possa ser acoplado em qualquer processo, usando o que ele tem de melhor, a sua alta especialização. No dia a dia das empresas que constroem aplicações de software é muito comum um mesmo serviço, ou traduzindo em outras palavras, um mesmo desenvolvimento, ser muito semelhante ou até igual a outros. O problema é que estamos sempre construindo estes serviços partindo de uma "folha em branco". A grande característica do SOA reside na pergunta: por que não reutilizar o que já existe? Além disto, tendo um processo contínuo de utilização destes serviços, com certeza os mesmos serão aprimorados com o passar do tempo e estarão a cada dia em um degrau acima no seu nível de qualidade.
A grande verdade nisto tudo é que o SOA nada mais é do que uma forma muito simples de organizar o que as pessoas já fazem no seu dia a dia, buscando a reutilização do que já foi produzido, melhorando a cada dia a sua qualidade, e as palavras chave para tudo isto são Organização e Padronização.
Em um dos projetos de implantação de ERP que tive a oportunidade de participar na minha vida, um cliente em toda a sua simplicidade, perguntou a um consultor porque era necessário desenvolver um certo formulário, se o mesmo podia ser encontrado em qualquer papelaria, pois todas as empresas precisam daquele formulário. A grande verdade é que este mesmo formulário foi desenvolvido "n" vezes em clientes diferentes, e não foi reutilizado, sempre se partiu de um "papel em branco". O cliente, na sua forma simples de pensar, estava absolutamente certo, e nunca, por mais simples e absurdo ao mesmo tempo, passou pela cabeça deste consultor que ele deveria criar um serviço (formulário) e reutilizá-lo sempre que necessário.
O SOA está nos ajudando a pensar isto de uma forma organizada dentro das áreas de TI, porque as fábricas, em seus processos físicos de confecção de produtos manufaturados, já fazem isto há anos, como, por exemplo, a indústria automobilística.
Apesar da Tecnologia da Informação ser algo no "estado da arte" entre as tecnologias, a sua gestão ainda está na idade da pedra.
Paulo Rodrigues é sócio diretor da Firsteam, responsável pelo desenvolvimento de projetos com tecnologia SAP e pela estratégia e geração de novos negócios.