A ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cico tentou, em seu depoimento à CPI dos Correios nesta quarta (16/11) colocar a questão da venda da CRT no centro dos debates políticos envolvendo fundos de pensão e atuação do governo. Contou com o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL/BA), que, na condição de sub-relator da atuação dos fundos de pensão da CPI, tentou consolidar o seguinte raciocínio: 1) o contrato de compra da CRT em 1999 foi superfaturado; 2) Os fundos foram coniventes com o acordo fechado entre Telecom Italia e Telefônica; 3) Os fundos, portanto, tiveram prejuízo consciente, provavelmente com ganhos de outras naturezas.
Carla Cico evitou fazer por sua conta essas afirmações, mas concordou como raciocínio do deputado baiano. Ela, contudo, não conseguiu responder a uma questão feita pelo próprio ACM Neto e, posteriormente, pelo deputado Jorge Bittar (PT/RJ): como um acordo que o Opportunity contesta com tanto afinco pôde ser aprovado pela Brasil Telecom se o Opportunity tinha poder de veto sobre esta decisão? ACM Neto quis extrair de Carla Cico a informação de que teria havido pressão política para o fechamento do acordo, mas Cico não confirmou essa informação, mas disse que ?a operação não tinha respaldo do Opportunity?, de quem ela era conselheira, na época.
A executiva não perdeu a chance de criticar a atuação dos fundos de pensão: ?Eles prejudicaram o desenvolvimento tecnológico da Brasil Telecom?, disse, se referindo a um momento posterior, quando os fundos, segundo ela, tentaram bloquear a entrada da BrT no mercado de telefonia móvel. O deputado Antônio Carlos Magalhães Neto fez um requerimento para que a negociação para a compra da CRT seja investigada pela CPI dos Correios.
Carla Cico disse que após o acordo da CRT, o Opportunity e a Telecom Italia entraram em uma situação de conflito que se intensificou depois com a estratégia da TIM para a atuação nacional e da entrada da Brasil Telecom no mercado de telefonia móvel. Segundo ela, há três anos a BrT propôs aos italianos um acordo idêntico ao que foi celebrado com os italianos em abril deste ano, pelo qual a TIM e a BrT GSM seriam fundidas e as operações de longa distância da TIM seriam passadas para a Brasil Telecom.
Aí, um novo ponto em que Carla Cico não deu resposta precisa à CPI: perguntada pelo relator Osmar Serraglio (PMDB/PR) se o Opportunity recebeu dinheiro em decorrência do acordo com a Telecom Italia, Carla Cico disse que o Opportunity ?não participou do acordo? e negou que o grupo de Daniel Dantas tivesse recebido recursos em decorrência do acerto. Sabidamente (aliás, isso é objeto de fato relevante da Telecom Italia) o Opportunity recebeu US$ 65 milhões pelo acerto de pendências judiciais, acerto esse que foi celebrado na mesma época em que a TIM acertou a fusão com a BrT GSM.
Carla Cico fez uma aberta defesa do grupo de Daniel Dantas. Disse que enquanto administrou a companhia, nunca recebeu dos acionistas minoritários reclamações contra o grupo Opportunity, só contra os demais acionistas. A ex-executiva citou as cartas da Animec (associação que se diz representante dos acionistas minoritários) que respaldaram as ações do Opportunity em relação ao mercado de telefonia móvel e em relação ao bloqueio do retorno dos italianos ao bloco de controle. A Animec sempre atuou em sintonia com o Opportunity.