Após dois anos de estabilidade, o acesso à Internet nos domicílios brasileiros voltou a crescer em 2023, impulsionado pelo aumento da conectividade nos lares das classes C, DE. O dado faz parte da TIC Domicílios 2023, lançada nesta quinta-feira (16) pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). A nova edição da pesquisa mostrou que 84% das residências no país – em números absolutos, o equivalente a 64 milhões – estão conectadas à rede, um aumento de quatro pontos percentuais na comparação com 2022 (80%). Esse indicador vinha estável desde 2020.
O estudo, conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), revelou que os avanços estatisticamente mais significativos foram observados entre os domicílios das classes C (de 87% em 2022 para 91% em 2023) e DE (de 60% para 67%).
A proporção de usuários de Internet também voltou a crescer. Segundo o levantamento, 84% (cerca de 156 milhões de pessoas) acessaram a rede nos três meses anteriores à pesquisa, o que representa um aumento de três pontos percentuais frente a 2022 (81%). Houve crescimento significativo entre as mulheres, com a proporção de usuárias de Internet passando de 81% em 2022 para 86% em 2023.
A quantidade dos que não usam a rede, por sua vez, caiu de 36 milhões (2022) para 29 milhões (2023). Do total de usuários, 24 milhões residem em áreas urbanas, 17 milhões se declararam pretos ou pardos e 17 milhões pertencem às classes DE, apontando para a exclusão digital nas periferias urbanas do país. Ainda conforme o estudo, 24 milhões têm até o ensino fundamental, e 16 milhões têm 60 anos ou mais, superando a soma de não-usuários das demais faixas etárias.
"Apesar do recuo, o número de brasileiros desconectados ainda é preocupante, na medida em que muitas atividades e serviços são disponibilizados exclusiva ou preferencialmente no ambiente online. Não ter acesso à Internet pode significar estar excluído de inúmeras oportunidades", avalia Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br|NIC.br.
Qualidade do acesso
Quase a totalidade (99%) dos usuários de Internet brasileiros com 10 anos ou mais conectou-se à rede pelo telefone celular, que segue como o dispositivo mais utilizado para essa finalidade. Em segundo lugar, aparece a televisão (58%), dispositivo cujo uso vem aumentando há uma década. Já a conexão via computador permaneceu estável, com 42%.
Ainda de acordo com a pesquisa, 58% disseram ter se conectado pelo telefone celular, mas não pelo computador, e 41% afirmaram usar ambos os dispositivos. Nas classes DE, 87% acessaram a rede exclusivamente pelo telefone celular, e 12% usaram ambos os dispositivos. O acesso exclusivo por celular também foi maior entre as mulheres (64%) do que entre os homens (52%), e entre pretos (64%) e pardos (63%) do que entre brancos (49%).
O dispositivo de acesso também está associado à presença de habilidades digitais, conforme sinalizam os indicadores da pesquisa. Entre os que se conectaram à rede tanto pelo computador quanto pelo telefone celular, por exemplo, 71% disseram ter buscado verificar informações encontradas na Internet. Já entre os que acessaram exclusivamente pelo celular, a proporção foi de apenas 37%.
Entre os que possuem telefone celular, 60% têm um plano pré-pago e 36%, pós-pago. No que diz respeito à conexão, 97% dos usuários de Internet pelo celular da classe A acessam a Internet tanto por Wi-Fi quanto pela rede móvel, enquanto nas classes DE, 36% acessam exclusivamente por Wi-Fi e 11% somente pela rede móvel.
"Neste ano, voltamos a observar um aumento de conectividade no país, mas a TIC Domicílios também mostra que a qualidade do acesso ainda é desigual entre a população, o que restringe o desenvolvimento de habilidades digitais e a fruição plena dos benefícios que a Internet tem a oferecer", afirma Barbosa.
Práticas culturais
Entre as atividades culturais online, o consumo de podcast foi o que mais avançou nos últimos anos no país. De acordo com o estudo, 29% dos brasileiros com 10 anos ou mais ouviram esse tipo de conteúdo em 2023, um aumento de sete pontos percentuais em relação a 2021 (22%) e de 19 pontos percentuais na comparação com 2019 (10%).
O crescimento do acesso a podcasts no Brasil tem sido causado, sobretudo, pela produção nacional. Enquanto 29% dos indivíduos disseram ter ouvido podcasts brasileiros, somente 7% escutaram podcasts estrangeiros, invertendo a lógica que predomina no caso de filmes e séries.
O estudo revelou também que a proporção dos indivíduos que assistem a vídeos por meio de serviços de assinatura aumentou sete pontos percentuais, subindo de 38% em 2021 para 45% em 2023. Ainda assim, os sites ou aplicativos de compartilhamento de vídeos seguem como as principais plataformas de acesso a esse tipo de conteúdo na Internet, usados por 54% daqueles que assistiram a vídeos online. Vídeos com música (50%) e notícias (48%) foram os temas mais citados pelos usuários, e vídeos de eventos ou programas religiosos (34%) tiveram um aumento de 7 pontos percentuais em relação a 2021.
Serviços e compras online
Em 2023, 73% dos usuários de Internet com 16 anos ou mais utilizaram serviços de governo eletrônico, o que representou um crescimento de oito pontos percentuais em relação a 2022. Entre 2021 e 2023, houve um crescimento significativo na realização de serviços relativos ao pagamento de impostos e taxas de forma 100% online, sem a necessidade de finalizar o serviço presencialmente. "Os órgãos públicos vêm aumentando a oferta de serviços digitais, como mostra a pesquisa TIC Governo Eletrônico. O aumento verificado em 2023 do número de pessoas que acessaram serviços públicos pela Internet é algo positivo, tanto para os cidadãos quanto para os governos", comenta Fabio Storino, coordenador da TIC Domicílios.
A pesquisa mostrou ainda que metade (50%) dos usuários de Internet no Brasil realizou compras no ambiente digital nos últimos doze meses anteriores ao levantamento, o que equivale a 78 milhões de pessoas. Embora tenha variado dentro da margem de erro na comparação com 2022, esse indicador vem se mantendo num patamar superior ao observado antes da pandemia COVID-19, mostrando que o consumo online de produtos ou serviços passou a fazer parte dos hábitos de um contingente maior de brasileiros.
"A pesquisa TIC Domicílios identifica temas emergentes e novas tendências, sempre em consonância com pautas do desenvolvimento social sustentável. É uma fonte de referência essencial para a elaboração de políticas públicas e para o debate qualificado sobre os impactos socioeconômicos do acesso e uso da Internet na sociedade brasileira", ressalta Renata Mielli, coordenadora do CGI.br.