Em um mundo digital e hiperconectado como o nosso, os dados fornecidos pelos clientes aos sites e às plataformas são uma porta de entrada para conhecer esses consumidores, bem como levam a uma customização do que deve ser oferecido a eles. Utilizar essas informações deveria se tornar uma regra, não uma exceção. No entanto, ainda que o setor de tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT) esteja por trás desses dados e tenha como chegar a eles, a disponibilidade não está em equilíbrio com a realização de ações por parte das empresas.
Os dados podem ser fundamentais para o desenvolvimento de novas estratégias de entrada no mercado, na identificação de novos fluxos de receita e captura da participação dos concorrentes. Durante a pandemia da covid-19, em que o principal foco era a sobrevivência em uma crise sanitária e financeira, as empresas precisaram se atualizar digitalmente para seguir atendendo aos consumidores, mas, para muitas, não havia a possibilidade de investir na repaginação ao mesmo tempo em que se apropriavam dos dados dos clientes.
Essa governança dos dados se torna imperativa para que as organizações consigam sobreviver em meio a tantos desafios, ao mesmo tempo que um caminho a seguir para a adoção de uma estratégia holística em escala, com recompensas potenciais para as instituições que acertarem esse movimento. Mas, o que se percebe é justamente o contrário. Com a rapidez do que teve que ser feito, diversas instituições de tecnologia, mídia e telecomunicações não tiveram tempo para refletir sobre os amplos e ricos ativos de dados que estavam criando.
A subutilização da informação coletada demonstra a importância de uma troca de postura. Para as organizações, não é uma questão de privacidade, mas de considerar que, provavelmente, o uso de dados de modo eficaz e generalizado pode e tende a mudar radicalmente o modelo de negócios atual.
Para os próximos anos, essas empresas planejam acelerar significativamente o acesso e gerenciamento de dados, bem como as atividades e funções analíticas. Isso coloca essas iniciativas no mesmo nível de importância da maioria dos outros programas de transformação digital. Em uma luta pela manutenção dessas empresas no mercado, é imprescindível começar a tratar esses fatores como um recurso mercadológico.
Considerando isso, pelo menos cinco estratégias de alto impacto podem ser úteis em uma reformulação empresarial. A primeira etapa é a visão dos dados como um ativo e seu uso como um diferencial competitivo. Em segundo, as empresas devem dedicar, pelo menos, 10% da receita total da monetização de dados por meio de novos produtos e serviços. Outro ponto é repensar as etapas para obter uma arquitetura de dados baseada em nuvem: este é o caminho para turbinar o acesso aos dados e a acessibilidade em todo o ecossistema.
Uma quarta etapa seria o efetivo uso dos dados, além de seu processamento e de outras informações como a base de uma empresa conectada. A ampliação da conectividade além das quatro paredes de uma empresa de tecnologia para abranger um ecossistema maior só será obtida por meio do uso efetivo de dados de clientes, operacionais, de compliance e de segurança. E, por fim, é importante que as organizações impulsionem a transformação através do uso de dados focado no cliente: democratizar essas informações — as fontes de dados atuais e futuras com foco na amplitude e profundidade.
Márcio Kanamaru, sócio-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da KPMG no Brasil e na América do Sul e Felipe Catharino, sócio-diretor líder de tecnologia da KPMG no Brasil.