Sobre as coisas que não mudam

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É incrível perceber quanto o mundo mudou em, digamos, dez, cinco anos ou até menos. Há uma aceleração forte nas novidades, especialmente em tecnologias. É muito difícil acompanhar e, para as pessoas em geral, algumas tecnologias parecem mágicas. Temos a impressão de estarmos vivendo o momento mais importante da humanidade. Mas precisamos ter um olhar menos enviesado, observando de maneira mais neutra. Não é necessariamente o momento mais incrível da civilização e nem tudo mudou de fato.

Meu avô nasceu em 1909 e viveu oitenta anos. Ele dizia: "quando nasci, os aviões estavam começando a voar e depois eu vi o homem chegar à Lua!", e várias outras evoluções incríveis que a geração dele testemunhou, desde a luz elétrica até os computadores, do rádio à televisão e o celular, enfim, também foi uma era incrível – com impactos sociais, econômicos e estruturais enormes, mais ou menos como agora.

Cinco séculos antes de Cristo, a humanidade inteira vivia momentos de fortes mudanças, sejam religiosas (budismo, por exemplo), políticas, filosóficas, tecnológicas e científicas (a Era de Péricles, em Atenas). Ali, em poucas décadas a nossa civilização deu avanços enormes em coisas que nos definem até hoje.

Há períodos que parecem estagnados – eu lembro da década de 80 na tecnologia, por exemplo… – Mas há incríveis momentos de evolução em que tudo parece mudar, como agora.

É impossível comparar os momentos, mas este que vivemos sem dúvida é um dos grandes, mas não é o único. E é importante notar: nem tudo está mudando. E entender o que está acontecendo e ser bem-sucedido nestas mudanças está associado a entender o que não mudou nem vai mudar.

As pessoas não mudaram em várias coisas: somos imediatistas, procuramos soluções simples para desafios complexos, confiamos demais em tecnologias e temos expectativas irreais sobre o impacto da evolução em nossa vida.

Sobre o modo de fazer as coisas, embora passemos por algumas modas, que só confirmam o real, o que não muda é: não se evolui sem ordem; potência sem controle é perigoso; um comando central em momentos de fortes mudanças é essencial; a experiência, mesmo que em tecnologias anteriores, é valiosa; e planejamento é a alma de uma execução bem-feita.

E sobre as tecnologias, o que não mudou é que elas nos decepcionam. Justamente pelas altas expectativas que cultivamos, mais cedo ou mais tarde a gente percebe que há limitações enormes que não percebemos, pois não queremos, de início, reconhecer. Assim, tem um momento em que descobrimos que inteligência artificial não é inteligente – é apenas um nome; que cloud computing não elimina a necessidade de seres humanos – pelo contrário; que pousar na Lua foi um feito incrível, mas viver lá é um desafio muito maior; que redes sociais trazem mais problemas do que os benefícios, e assim por diante.

Portanto, eu recomendo olhar as coisas com menos paixão. Com mais profundidade e entendimento, ponderando o que realmente a tecnologia vai te entregar, o que impacta no seu negócio e na sua vida. Respeitando tudo o que veio antes, tudo o que pessoas incríveis contribuíram para que estivéssemos tão avançados (aparentemente) nos dias de hoje.

Pense no planejamento. Observe como as expectativas exageradas das pessoas podem levar à frustação e as ajude nesse processo; se distancie do entusiasmo e se organize para o médio e longo prazo. Pois existe um mundo além do presente, é mais uma coisa que não mudou.

Maurício Fernandes, CEO da Dedalus.

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