Um turbilhão de ideias, de conexões, de gerações, de possibilidades, de celebrações… Para aquele que é reconhecido como o maior festival de criatividade e inovação do mundo, afirmo que é impossível defini-lo em apenas uma palavra.
Ele traz à tona temáticas relevantes no cenário tecnológico atual, mas faço uma reflexão: é sobre tecnologia? Não. O termo 'tecnologia' transcende durante os dias de festival e alcança o seu ápice onde toda a inovação quer chegar: impactar nas relações e comportamentos da sociedade. Afinal, o que é uma tecnologia se não tiver utilidade para a humanidade? Ou ela caminha para resolver questões nossas, onde as emoções desempenham um papel central na narrativa tecnológica, ou a tecnologia morre no caminho.
E em um 'cenário catastrófico' – expressão usada por Amy Webb para falar das tendências e do futuro –, nossa única saída é equilibrar a aceleração tecnológica com a razão humana. Menos 'O QUE?' e mais 'POR QUE?'. Nós somos a geração de transição em tempos de superciclo tecnológico. Temos em nosso poder a responsabilidade de conectar os pontos e definir como queremos que seja o amanhã.
Ao mesmo tempo em que temos um mundo altamente conectado, o individualismo e a solidão florescem a passos largos. Como então trazer essa humanização para a mesa? A Doutora Brené Brown levantou a discussão no festival ao dizer: 'Viver em um mundo sem contato não nos leva a pontos de fricção, de conflitos. E são estes pontos que nos fazem questionar as coisas ao nosso redor. Hoje, sequer podemos ser vulneráveis.' Sem questionamentos, estamos sendo levados pela maré.
E o Santo Graal deste pensamento é a confiança. Acreditar que podemos fazer as perguntas certas, de forma ágil, colaborativa, para termos os resultados esperados. Assumir que não sabemos tudo. Assim como quando usamos o ChatGPT, certo?
Por falar em ChatGPT, que aula do Peter Deng, head de produto da OpenAI. Era sobre inteligência artificial? Não! Era uma exposição de como um alto executivo deve se comportar frente a uma audiência feroz por explicações e esperança. Ele não trouxe muitas explicações, até porque o SXSW foi muito sobre isso – não temos respostas ainda -, mas ofereceu esperança colocando a IA como fator decisivo para um dos nossos bens mais preciosos hoje em dia: o tempo! Que a IA tem um papel em nos devolver esse tempo perdido, e cabe a cada um de nós saber como aproveitar melhor esse benefício. Ele ainda finaliza seu painel com uma frase que conecta muito o início deste meu artigo: "Stay Curious˜.
Mas não foi só isso. Em quase duas mil palestras e painéis, o festival ofereceu aos visitantes de diversos lugares do mundo uma avalanche de mensagens poderosas. Dou como exemplo, a de dois australianos da TABOO que impressionaram ao trazer um storytelling perfeito sobre design de experiências: "Nosso cérebro é desenhado a esquecer coisas que não foram marcantes ou úteis. Invista mais em violar as expectativas da audiência". Por sinal, esta foi disparada a melhor sessão! E isso tudo dentro de um evento grandioso, onde tudo funcionou. Manifestações além do papo tech vs human, ativações de marca em cada esquina, feira de criatividade com domínio coreano, happy hours à beira do rio ou um bar com duelos de piano. Era tanta opção de imersão que ficava até difícil escolher.
A tecnologia é fascinante, mas qual a visão de futuro que queremos? Um otimismo necessário ecoou em cada canto do Austin Convention Center. À medida em que avançamos, juntos, nesta jornada de descoberta, transformação e transição, é imperativo que consideremos não apenas o que podemos realizar, mas também o impacto humano de nossas realizações.
Pensando no mundo hostil em que vivemos, de pouco contato, o grande destaque do festival foi poder viver intensamente as trocas e encontros, rica de experiências imersivas, com gente de todo o mundo (inclusive muitos brasileiros). Eu fui para o SXSW ver a Amy Webb, o Peter Deng e a Brené Brown, mas foram as trocas com a Livia, Franklin, Carol, Tati, Ananda, Duda, Paula, Bruna, Fernando, Marcos e Leticia, que deixaram os dias em Austin muito mais valiosos!
SXSW 2024, obrigado por ser um divisor de águas para quem esteve lá e para aqueles que estão consumindo ferozmente os conteúdos pós-evento. Como disse Amy Webb, somos a Geração-T (a geração de transição). Como vamos fazer a partir de agora, isso nos define. É hora de colocar em prática. Que venha a próxima edição!
Estevão Paiva, Gerente de Marketing e Comunicação na Supergasbras.