Atuo com tecnologia há mais de 25 anos e, embora o debate sobre inteligência artificial (IA) não seja novo, nunca presenciei uma efervescência tão intensa como a que vivemos hoje. O que antes era restrito a laboratórios e discussões acadêmicas agora transforma o cotidiano das empresas e das pessoas. Se as LLMs (modelos de linguagem de grande porte) chegaram a se tornar uma commodity, o verdadeiro diferencial competitivo reside na orquestração de agentes de IA, especialmente dos multiagentes proativos e autônomos.
Agentes de IA são sistemas autônomos capazes de perceber o ambiente, processar informações e tomar decisões com base em objetivos definidos. Diferentemente dos softwares tradicionais, que seguem regras fixas, esses agentes aprendem, adaptam-se e interagem de maneira sofisticada com humanos e outras máquinas. Enquanto as LLMs já se popularizaram ao fornecer soluções robustas de processamento de linguagem natural, elas representam apenas uma parte do ecossistema. Hoje, o cenário evolui para uma abordagem integrada em que diversos modelos – tanto LLMs quanto Small Language Models (SLMs) especializados – são combinados e gerenciados por agentes multiespecializados.
Imagine um sistema no qual cada agente é responsável por uma tarefa específica: um para análise de textos legais, outro para otimização de código e um terceiro para triagem de dados numéricos. Essa distribuição de tarefas permite que, em vez de depender de um único modelo "cura-tudo", empresas possam aproveitar as especializações de cada agente, garantindo soluções mais precisas, seguras e customizadas para cada contexto.
Na programação, a chegada dos agentes autônomos está transformando o papel dos desenvolvedores. Em vez de se limitarem à codificação manual, os profissionais passam a atuar como mentores e orquestradores de sistemas inteligentes. Essa mudança significa que, embora as ferramentas de IA possam gerar e corrigir trechos de código, o verdadeiro valor está em saber direcionar e aprimorar esses agentes para resolver problemas complexos.
A orquestração inteligente de diferentes modelos e agentes não só agiliza o processo de desenvolvimento, como também abre caminho para soluções que combinam a agilidade da automação com a criatividade e o discernimento humano. Assim, o trabalho dos programadores evolui para uma atividade mais estratégica e colaborativa, na qual a expertise humana é essencial para direcionar a inteligência artificial.
Segurança, governança e os desafios éticos
O avanço exponencial da IA, estimado pela Deloitte em gerar US$ 4,4 trilhões em valor comercial até o final de 2025, e as projeções da Gartner de que até 2028 15% das decisões diárias serão tomadas autonomamente por agentes inteligentes, evidenciam o potencial transformador dessa tecnologia. Contudo, essa evolução também impõe desafios significativos relacionados à segurança, governança e ética.
Em setores sensíveis – como saúde, finanças e indústria – não basta escolher a LLM "mais hypada". É imprescindível que os sistemas adotem medidas robustas de proteção.
Além disso, a governança é a peça-chave para evitar o caos em ambientes com múltiplos agentes. Isso envolve desde a rastreabilidade de requisições até a configuração de políticas de compliance, auditoria e monitoramento contínuo – um desafio que, segundo pesquisas da Gartner envolvendo mais de 12 mil CIOs, já mobiliza investimentos globais que devem alcançar US$ 212 bilhões em cibersegurança.
O futuro: sinergia entre autonomia da IA e criatividade humana
A verdadeira revolução digital não reside apenas na adoção de modelos de linguagem, mas na capacidade de orquestrar um ecossistema diversificado de agentes. Essa abordagem multiagente integra LLMs para tarefas gerais e SLMs para demandas específicas, combinando especialização, segurança e conformidade com regulamentações, como a LGPD.
O futuro da tecnologia e da programação passa, inevitavelmente, pela criação de sistemas autônomos e proativos que trabalham em conjunto com profissionais capacitados para orientar e refinar as soluções. Essa sinergia entre a agilidade da IA e a inteligência humana é o que definirá as organizações mais inovadoras e competitivas nos próximos anos.
Estamos diante de uma nova fase da revolução digital, na qual a integração e a orquestração de múltiplos agentes de IA – desde as robustas LLMs até os SLMs especializados – serão determinantes para transformar a forma como interagimos com a tecnologia e desenvolvemos soluções. Para empresas que operam em ambientes altamente regulados e lidam com dados sensíveis, o caminho pode ser investir em sistemas que combinem automação inteligente, governança rigorosa e, acima de tudo, a criatividade humana.
O desafio agora é abraçar essa mudança, aprimorando nossas habilidades e processos para tirar o máximo proveito de um ecossistema onde os agentes autônomos não substituem o humano, mas potencializam as entregas.
Marcos Bonas, Vice-Presidente de Engenharia, Arquitetura, Marketing e Vendas para o Brasil e Estados Unidos na Zup Innovation.