A inteligência artificial tem sido um dos principais motores da transformação digital e, nos próximos anos, essa corrida tecnológica será ainda mais intensa. A entrada da China como um dos principais players na disputa pela liderança da IA não apenas acelera o desenvolvimento de novas soluções, mas também pode redefinir investimentos, acessibilidade e a regulação do setor.
Nos últimos anos, a competição global por IA foi impulsionada majoritariamente por empresas sediadas nos Estados Unidos e Europa. No entanto, a China tem avançado agressivamente, investindo bilhões em chips especializados, infraestrutura e algoritmos sofisticados. Com um mercado interno gigantesco, o país tem o potencial de modificar profundamente a dinâmica desse setor.
Dessa forma, o avanço chinês coloca as empresas ocidentais em uma encruzilhada: ou elas aumentam significativamente seus investimentos em inovação e diferenciação, ou correm o risco de perder espaço para as concorrentes. A disputa, no entanto, não será apenas tecnológica, pois o cenário regulatório pode se tornar um fator crítico.
À medida que os países estabelecem novas regras para o uso da IA – seja por questões de segurança, privacidade ou ética –, a velocidade da inovação pode ser impactada. Penso que é essencial encontrar um equilíbrio. Embora a competição de mercado seja um motor importante para a inovação, a ausência de regras claras pode trazer riscos significativos. Por isso, defendo que os governos devem estabelecer marcos regulatórios que protejam os cidadãos sem comprometer o potencial inovador das empresas, mantendo sempre um diálogo aberto com o setor privado.
O Brasil no novo cenário da IA
Outro efeito significativo dessa competição será a maior acessibilidade da IA. Hoje, modelos de inteligência artificial são amplamente desenvolvidos por gigantes como OpenAI, Google DeepMind e Microsoft, o que limita a adoção massiva da tecnologia por empresas menores. Com a China investindo pesadamente no setor, é possível que vejamos uma nova onda de democratização da IA, com plataformas mais acessíveis e diversificadas no mercado global.
Isso pode representar uma grande oportunidade para países emergentes, como o Brasil. Empresas brasileiras que hoje encontram barreiras para adotar IA, seja por custo ou por falta de infraestrutura, podem se beneficiar do aumento da oferta e da redução de preços à medida que novos players entram no mercado.
A competição entre EUA e China também tem impactos diretos no Brasil. O país precisa acompanhar de perto as mudanças e se posicionar estrategicamente para aproveitar as oportunidades, mantendo-se por dentro das tendências globais, investindo em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e capacitando equipes para acompanhar as inovações em IA.
Por um lado, o país pode enfrentar dificuldades para atrair investimentos diretos e reter talentos, tendo que se adaptar rapidamente às inovações e aos padrões internacionais. Já por outro, vejo um potencial para explorar nichos específicos e fomentar a inovação local, desde que haja investimentos em capacitação, infraestrutura e políticas de incentivo. Nesse sentido, acredito que a camada de aplicações de negócio ainda é pouco explorada e temos muitas oportunidades nela.
O que esperar do futuro?
A corrida da IA não é apenas uma disputa entre empresas ou nações – ela representa uma transformação profunda na forma como negócios e sociedades operarão nas próximas décadas. Com a entrada mais forte da China nessa competição, o ritmo da inovação será ainda mais acelerado, trazendo novos desafios e oportunidades para empresas e governos.
Para empresas que querem se destacar nesse cenário, o caminho é claro: investir em inovação contínua, buscar diferenciação tecnológica e estar atentas às movimentações do mercado global. O futuro da IA será definido por aqueles que conseguirem equilibrar velocidade, ética e impacto econômico.
Danilo Custódio, CEO da Mirante Tecnologia.